Autonomia do Banco Central: sem recuo


O debate no SBT, realizado há pouco, trouxe ao menos uma revelação importante. Em se tratando da autonomia do Banco Central, Marina Silva não irá recuar. Ela recuou na política gay; em outros temas, recuou ou recuou do recuo.

Mas não recuou e não irá recuar na decisão de entregar a mais importante ferramenta política do governo em relação à macroeconomia do país, à um punhado de burocratas, influenciados pela mídia e pelo mercado financeiro.

A defesa enfática da autonomia do Banco Central torna a candidatura Marina Silva a verdadeira plataforma do neoliberalismo no Brasil.

De resto, Marina Silva manteve-se calma, às vezes irritantemente calma, como se fosse um robô, mas sempre falando muito bem, sem jamais confundir-se ou gaguejar.

Dilma só fica bem quando a adrenalina sobe. Ela para de gaguejar e vai na jugular dos adversários. É uma personalidade curiosa, que cresce na adversidade.

A petista poderia ser mais assertiva se, no momento em que Aécio tentou voltar à ladainha do mensalão, mencionasse o aecioporto.

Mas Dilma foi melhor do que em outros debates. Destaco o trecho em que ela deu uma verdadeira lição de ciência política e democracia para Marina Silva, ao dizer que não é o presidente quem escolherá os “bons” com quem irá governar, e sim o povo, através do voto.

Eduardo Jorge falou, mais uma vez, de forma digna sobre a sua defesa da legalização das drogas e do aborto.

Levy Fidelix foi uma presença importante, ao tocar no tema da sonegação, evitado por todos os outros candidatos. Lembrou que o Itaú, cuja herdeira coordena o programa de governo de Marina Silva, deve R$ 18 bilhões ao fisco. E usou a expressão mídia vendida por diversas vezes.

Só lamento que tenha destinado sua verve para Kennedy Alencar, que é um dos melhorzinhos da grande mídia. Fidelix poderia responder facilmente à acusação de que seu partido seria de aluguel. Bastava lembrar que não é só partido pequeno que se vende. Os grandes e médios também.

A estratégia de Luciana Genro de bater em todos não me parece eficaz. Ela deveria bater exclusivamente na Marina, que vem chupando o voto jovem e o voto de protesto, prejudicando a performance do PSOL.

Pastor Everaldo é o demônio encarnado. Ninguém vai me convencer do contrário. O sujeito que fala demais em família, é um falso moralista. E quero saber mais desse processo aí em que ele é acusado de bater na mulher. Não ficou bem esclarecido. Para piorar, o infeliz ainda é contra a regulamentação da mídia. Aliás, é bom que ele seja, porque aí fica bem marcado que a regulamentação da mídia é uma bandeira boa, progressista, uma bandeira que não conta com apoio desse energúmeno proto-fascista, disfarçado de pastor.

Abaixo, alguns trechos do debate:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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