A Globo e os inquéritos contra Lindberg


 

Ontem a Globo entrevistou Lindberg Farias, candidato do PT ao governo do estado. O estilo foi “pit-Bonner”, com a repórter quase falando mais que o entrevistado; e, mais que perguntas, fazendo acusações.

É o estilo “quem manda aqui sou eu” da Globo.

Até aqui, nenhuma novidade. A Globo se esforça em morder fundo, mas os políticos também já entenderam que boa parte dos dentes platinados estão moles ou podres. Não machucam mais tanto como antigamente.

Garotinho, quando foi entrevistado pela mesma repórter, na mesma série de sabatinas com os candidatos para o RJ-TV, sentiu-se obrigado a lembrar à ela que o candidato ali era ele.

Lindberg foi mais delicado, e apenas observou, estoicamente, que estava de olho no cronômetro.

Cada candidato tinha 8 minutos, mas a impressão é que a repórter ocupava a maior parte do tempo.

Um leitor me chamou atenção para uma matéria da mesma repórter, veiculada horas depois da entrevista com Lindberg. Observe o título: “Lindberg é investigado no STF em nove inquéritos”.


Aí você clica no vídeo para ouvir o que a repórter tem a dizer e a escuta falando o seguinte:

“Em respeito ao público, fizemos uma pesquisa no Supremo Tribunal Federal, e ficou esclarecido que não há processo judicial contra Lindberg Farias”.

Teremos que fazer um “manchetômetro” para a cobertura das eleições no Rio?

Manchete negativa para conteúdo positivo?

A descoberta, pela Globo, de que não há processo judicial contra Lindberg, além disso, soa engraçada, porque nos leva a pensar: ué, a produção não deveria ter feito essa pesquisa ANTES da entrevista? Não era só procurar no site do STF?

Se a pesquisa fosse feita antes, isso não pouparia a repórter do vexame de abrir a entrevista de forma tão acusatória?

A inconsistência da primeira pergunta permitiu que Lindberg Farias quebrasse a crista da repórter com relativa facilidade. “Os processos contra mim foram todos arquivados”, asseverou o candidato, em sua resposta, deixando a repórter num silêncio confuso.

Lindberg foi prefeito de Nova Iguaçu por duas vezes e depois senador da república. Creio que não faltariam problemas concretos a serem apontados em suas gestões.

Mas a Globo prefere sempre o caminho mais fácil: criminalizar o debate e os debatedores. Todo mundo é culpado até prova em contrário – é a mensagem. E o tempo das entrevistas se consome com o candidato tentando explicar ao espectador que um inquérito não significa condenação. Sobretudo se o inquérito sequer foi aceito pelo judiciário.

Ele pode ser culpado, mas também pode ser inocente.

Esse tipo de cobertura é o principal responsável pela despolitização crescente da população brasileira.

E a juventude, ao perder as esperanças no poder transformador da política, autoriza as piores figuras, aquelas que contam com proteção da mídia, a ganhar cada vez mais poder sobre o nosso futuro.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
Related Post

Privacidade e cookies: Este site utiliza cookies. Ao continuar a usar este site, você concorda com seu uso.