Agora que se conseguiu furar o golpe que o ministro José Jorge, do TCU, queria dar no governo, fazendo uma avaliação da compra de Pasadena considerando mais o interesse político do que a realidade do mercado, podemos voltar a especular um pouco sobre os negócios de refinaria nos Estados Unidos.
José Jorge foi obrigado a abortar o golpe contra Dilma e os membros do conselho, e jogou a conta do suposto prejuízo de Pasadena para os ex-diretores da Petrobrás, só que eles terão tempo para se defender, e reverter a decisão, que eu considero equivocada.
Quem deveria ser condenado é o próprio José Jorge, ex-senador pelo DEM (ex-PFL) e ex-ministro de Minas e Energia de Fernando Henrique Cardoso. Jorge era ministro quando a P-36 afundou, matando gente e dando prejuízos de bilhões aos cofres públicos – além do dano, esse impagável, à imagem da estatal, visto que os vídeos e fotos da plataforma afundando correram o mundo.
Pois bem, a estatal venezuelana PDVSA está querendo vender uma empresa que possui nos EUA, a Citgo, cujos principais ativos são três refinarias de petróleo, com capacidade somada para processar 757 mil barris por dia.
As ofertas que recebeu até o momento, através de três bancos de investimento, o Goldman Sachs, o JP Morgan e o Deutsche Banck, oscilam entre 10 e 15 bilhões de dólares.
Isso dá mais ou menos entre 14 e 20 mil dólares por barril.
Esses números são importantes para a gente ter uma ideia de quanto vale Pasadena, que processa cerca de 100 mil barris/dia.
A Petrobrás pagou cerca de US$ 457 milhões por Pasadena. Se formos considerar o valor cheio, que incluí as garantias bancárias, os estoques, a facada da Justiça americana, tudo, a estatal brasileira pagou US$ 1,2 bilhão, ou US$ 12 mil por barril, ainda sim um preço compatível com o que é praticado no mercado norte-americano hoje.
A Citgo possui pipelines e armazéns subterrâneos para estocagem de petróleo cru e refinado. Pasadena também possui esses armazéns. E também tem ligações diretas com os grandes sistemas nacionais de oleodutos dos EUA.
As refinarias da Citgo tem uma desvantagem em relação a Pasadena. Elas já foram preparadas para a receber óleo pesado, como é o da Venezuela.
Pasadena não passou pela reforma planejada para receber óleo pesado do Brasil, o que acabou se revelando uma vantagem, porque hoje há abundância de petróleo leve nos EUA, sobretudo vindo das reservas de xisto.
E as novas reservas do Brasil, do pré-sal, são de óleo super-leve.
Como eu mostrei ontem, as refinarias norte-americanas, sobretudo aquelas situadas na região do Texas, estão registrando produção e lucro recordes.
Pasadena está situada no melhor lugar onde uma refinaria norte-americana poderia estar.
O único problema de Pasadena é que a Petrobrás, após descobrir quantidades planetárias de petróleo na costa brasileira (o que aconteceu após sua aquisição), precisa dar prioridade à exploração e ao refino no Brasil.
Mas Pasadena continua lá, dando lucro, instalada no coração petrolífero dos EUA. Quanto mais o tempo passa, mais os investimentos feitos para sua aquisição, os prejuízos causados pelo entrevero judicial com a antiga proprietária, a Astra, vão se diluindo.
Sem contar que Pasadena foi transformada de uma indústria poluente, que oferecia riscos ambientais e trabalhistas, numa fábrica que hoje ganha prêmios de segurança nesses itens.
Segundo especialistas, a Venezuela quer vender suas refinarias nos EUA porque está sendo pressionada pela China, que quer o petróleo para ela.
*
Abaixo, a notícia da Reuters, publicada no dia 24 de julho de 2014.
Venezuela state oil company evaluates offers to buy Citgo -media
(Reuters) – Venezuela’s state-run oil company Petroleos de Venezuela SA (PDVSA) is considering offers to buy its U.S. downstream subsidiary Citgo, industry research group Argus Media reported on its website on Thursday.
The government has received three separate offers to buy Citgo submitted through Goldman Sachs, JP Morgan and Deutsche Bank, Argus said citing energy ministry officials.
“The offers are in the range of $10bn to $15bn for the Citgo assets, including three U.S. refineries with a combined nameplate crude processing capacity of 757,000 barrel per day (bpd), 48 products storage facilities, three wholly owned Citgo pipelines and stakes in six other U.S. pipelines.”
PDV America, Inc., an indirect, wholly owned subsidiary of PDVSA, owns the 427,800 bpd Lake Charles refinery in Louisiana, the 163,000 bpd Corpus Christi refinery in Texas, and the 172,045 bpd Lemont refinery in Illinois.
Citgo has long been a key cash-paying client of PDVSA, whose debt payments to China are made in crude and do not generate regular cashflow.
(Source: here)
(Reporting by Anupam Chatterjee in Bangalore; Editing by Michael Perry)