Vou deixar aqui três tópicos para a gente debater e para eu mesmo desenvolver melhor mais tarde.
1) Conforme previmos ontem, a imprensa abriu a semana com uma operação blindagem para Aécio Neves, no caso do aeroporto na fazenda do titio, ao lado da sua própria, onde costuma descansar das noitadas do Rio.
Inclusive a Folha, que deu a denúncia. O jornal hoje dá mais espaço para a defesa de Aécio Neves do que para a repercussão do escândalo.
O Globo dá uma notinha escondida, sem chamada na capa, e apenas para defender Aécio. Nenhum aprofundamento, nenhuma repercussão. Ninguém pergunta a opinião do Álvaro Dias. Estadão, idem.
Não vi o que a Veja publicou, nem preciso: sei que ou não vai dar nada ou vai apenas blindar o tucano.
A explicação de Aécio, de que o governo construiu em terra do “Estado” é um acinte à inteligência. Claro que é terra do Estado! O Estado comprou de seu tio! E a sua fazenda, a de Aécio, fica a menos de 6 quilômetros do aeroporto “privê”.
Internautas descobriram ainda, na prestação de contas do candidato, que ele tem 50% numa propriedade em Cláudio, município onde foi construído o aeroporto.
Agora está provado que a denúncia da Folha entrou na “cota” de denúncia contra tucanos. A cada mil denúncias contra o PT, uma denúncia contra o PSDB. E com outra diferença, o espaço reservado para o acusado responder é maior do que a denúncia em si. E não há joguinho armado com os coleguinhas de outros jornais. Fica só em um.
O cartel midiático tem suas regras. Um deles pode vazar uma denunciazinha contra tucano, para disfarçar um pouco. Mas eles nunca entram em peso, e nunca se aprofundam. Vide o caso do “helipóptero”…
Agora, é divertido (e um pouco assustador) imaginar o que aconteceria se um governador do PT, ou mesmo a presidenta, construísse um aeroporto inútil, numa cidadezinha perdida no meio do sertão, a seis quilômetros onde a autoridade costuma passar férias, e dentro da propriedade de um parente!
Provavelmente, as redes de TV enviariam, com urgência, 600 repórteres à cidadezinha em questão, e nunca mais a autoridade poria os pés na rua sem que a mesma pergunta fosse repetida por repórteres com olhos vermelhos de indignação. Será que o Globo vai deixar de vigiar Dirceu para mandar um repórter averiguar o “aecioporto”?
2) O Globo puxou o tapete dos ativistas. Depois de passar meses incensando manifestações e revoltas Brasil a fora, agora o Globo dá a volta e assume o papel em que mais se sente confortável: um porta-voz cínico e acrítico do Estado. Por isso o Globo quer derrubar o governo do PT, para voltar a ser um porta-voz também do governo federal (não confundir governo com Estado).
A lição foi dura para os ativistas. Eu mesmo testemunhei, numa palestra, um jovem adepto das táticas de violência dizendo que elas serviam para “aparecer na mídia”. Na mesma palestra, quase fui insultado pelos garotos por causa de um texto meu bastante agressivo contra os black blocs.
Agora o Globo chancela uma farsa policial-judicial (mais uma), que transforma ativistas em terroristas ultra-organizados, com cadeia de comando. E as redes sociais de direita, que antes incensavam os quebra-quebra, agora fazem de tudo para jogar a culpa no PT e na esquerda.
E isso apesar dos ativistas detidos serem todos radicalmente antipetistas e nunca terem ocultado a intenção de “derrubar o governo”.
Hoje eles são defendidos por PT, PCdoB, PSOL, PSTU, os mesmos cujos militantes apanhavam nas ruas por causa de suas bandeiras, e que agora tentam protegê-los da sanha brutal de uma direita que pretendia usar as “manifestações” apenas e exclusivamente para derrubar Dilma e desqualificar os partidos políticos.
Quando os protestos perderam seu caráter difuso e enveredaram para greves trabalhistas e demandas populares, a direita e a mídia passaram a tratar os ativistas como perigosos terroristas. O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, é um bunda-mole, em quem não confio nem um pouco, mas não se pode agora culpá-lo pelas prisões dos ativistas, que ocorrem chanceladas pelo Judiciário, um poder independente, e pelo Ministério Público.
Não se esqueçam que muitos “manifestantes”, ingenuamente, chancelaram a derrubada da PEC 37, que impunha limites ao Ministério Público, hoje uma instituição arbitrária e antidemocrática, altamente corrompida, que pode perseguir qualquer cidadão ou empresa a partir de uma denúncia anônima, muitas vezes usada apenas para chantagear a vítima.
Conforme previsto, a violência nas manifestações produziu um grande reação conservadora anti-greve, anti-povo, anti-esquerda, anti-protesto. Mesmo assim, temos que suportar a reação e defender o direito à manifestação. Igualmente é preciso aguentar a reação popular-midiática conservadora em favor de prisões de ativistas, através de delírios policiais sustentados pela mídia.
A Ação Penal 470, que empreendeu um julgamento sem provas, apenas sustentado pela mídia e por uma “opinião pública” manipulada, fez escola.
Prenderam Dirceu e Genoíno. Agora prendem ativistas. Em Minas prenderam jornalistas críticos a Aécio Neves. Daqui a pouco estarão prendendo blogueiros.
Aliás, nem contei a vocês, mas um dos marketeiros de Eduardo Campos resolveu me processar, usando argumentos incrivelmente reacionários, cheio de menções midiáticas e udenistas ao “mensalão”, puxando o saco de Ali Kamel, dizendo que blogueiro “não é imprensa” e então deve ser processado. Criminalizando o fato do blog ter um viés político (como se a imprensa não tivesse também). Uma coisa de louco. Depois dou mais detalhes sobre o processo.
Meu advogado está, num primeiro momento, tentando trazer o processo para o Rio, porque o sujeito quer que eu me desloque até Brasília para me defender.
3) O terceiro pitaco é sobre uma matéria no Valor, daquelas boas em que a imprensa põe a política de lado por um momento e foca em dados de economia. A reportagem foca na estratégia das empresas para se beneficiar da melhora do poder aquisitivo das classes mais baixas. Este foco é que salva a matéria.
O link para as matérias estão aqui e aqui, mas são exclusivas para assinantes do Valor.
Eu reproduzo apenas os gráficos. É incrível como a renda dos mais pobres cresceu, e continua crescendo, mesmo com baixo desempenho do PIB. A pirâmide sócio-econômica brasileira sofreu mudanças profundas e permanece mudando, para melhor.
Esses dados põem por terra, totalmente, as mentiras de setores oportunistas do conservadorismo, que falam em piora da situação dos pobres. A situação deles tem melhorado, e muito, nos últimos anos.