A gente que mora no Rio e discute política está sempre de olho em quem o Globo vai apoiar, ou em quem os platinados irão mirar suas baterias. Não é mais um fator decisivo, felizmente, mas permanece um elemento importante no cálculo político.
Hoje saiu uma pesquisa Datafolha sobre as eleições fluminenses.
Os resultados gerais já são conhecidos. Ficaram assim:
Ué, mas Crivella não é sobrinho de Edir Macedo, principal concorrente da Globo. Por que a Vênus quer um cara desse no segundo turno?
Simples, porque a Globo está apoiando Pezão, por razões óbvias, e entende que, num segundo turno, Pezão tem condições de ganhar com relativa facilidade.
A rejeição de Garotinho é seu grande obstáculo para vencer o pleito.
Voltaremos a este assunto daqui a pouco; antes vamos conferir alguns gráficos.
A tabela abaixo traz números fundamentais para se entender o perfil e a força de cada candidato. Observe que a força de Garotinho concentra-se no interior do Estado, o que é um trunfo dele, na minha opinião, porque corresponde a um público de difícil acesso.
Pezão também retira a maior parte de sua força das cidades menores, com até 50 mil habitantes.
Na capital, a força está em Crivella. Ele lidera isolado no município do Rio, com 26%, contra 16% de Garotinho, 14% de Pezão e 10% de Lindberg.
Interessante notar, porém, que o percentual de voto nulo e branco na capital é mais que o dobro do interior. O “desencanto” com a política, provavelmente estimulado pela imprensa, concentra-se na metrópole.
No recorte por renda, temos Garotinho e Crivella com muita força entre os mais pobres. Entre os mais ricos, quem lidera é Lindberg Farias. É uma situação irônica, porque as “elites”, segundo algumas interpretações, deveriam odiar o PT. No caso do Rio, porém, Lindberg tem 19% dos votos das famílias com renda superior a 10 salários, contra 18% de Pezão, 15% de Garotinho e 13% de Crivella.
Seja como for, os candidatos enfrentarão uma campanha agressiva no Rio, e a briga não é apenas um com o outro, mas da Globo contra todos. Para a Vênus, interessa que, seja qual for o ganhador, que seja um governador fraco, fácil de manipular.
O jornalão publica hoje uma página inteira para falar dos candidatos.
A estratégia me parece simples: pintar os quatro como bandidos. Os processos judiciais contra os quatro são tratados de maneira superficial. Condenações são igualadas a inquéritos, que são tratados como prova de crimes.
Os mais prejudicados me pareceram Garotinho e Lindberg.
Nenhuma das vitórias judiciais desses dois foi mencionada.
Num trecho perdido ao final da matéria, apenas entrevemos um advogado explicar que “dez inquéritos” contra Lindberg foram “arquivados”.
Não há informação de quantos desses inquéritos arquivados foram mencionados antes na reportagem.
Se o Globo tivesse a intenção de fazer uma apuração isenta, e ainda dá tempo para fazer isso, deveria fazer uma série de reportagens sobre os problemas judiciais de cada candidato, com explicações detalhadas sobre cada caso. Há casos sérios, mas há também um bocado de intriga política. O eleitor merece saber a diferença.
Os próprios aspirantes a governador terão prazer em ajudar a imprensa a levantar os podres de seus concorrentes.
Garotinho, por exemplo, trouxe, hoje mesmo, informações quentes sobre o chefe de gabinete de Pezão, no tempo em que este era prefeito de Piraí; e outras ainda mais incandescentes sobre a família Picciani, que tem vários candidatos a deputado, além da presidência do PMDB no estado.
Confira a íntegra da pesquisa aqui: