O baile fiscal dos empreiteiros?

Alguns esclarecimentos importantes. O viaduto Guararapes, que desabou sobre a Avenida Pedro I, constava no cronograma de obras da Copa. Ele comportaria uma das linhas de BRT que conduziriam, dentro outros destinos, ao Mineirão.

O secretário de Obras de Belo Horizonte, Lauro Nogueira Terror, insiste porém em afirmar que “não era obra da Copa”. A prefeitura age na mesma linha, ao divulgar um comunicado que assume a responsabilidade pela falha na fiscalização e observa que “não havia data estipulada para a entrega das obras e nem obrigatoriedade para a entrega ser antes da Copa do Mundo, apenas um cronograma referencial contido na licitação”.

De qualquer forma, este não é um ponto prioritário. O mais importante é apontar responsabilidades, para que tais erros não se repitam.

A mídia tenta eximir a empreiteira, jogando sempre toda a culpa em cima do governo.

O Globo faz editorial para falar da “incompetência do poder público”. Ora, a obra de uma empreiteira privada desaba e a culpa é apenas do poder público?

O mesmo jornal também mencionou doações da empreiteira responsável pela obra a partidos e políticos. Só que, estranhamente, não se aprofundou no assunto, provavelmente por ter identificado que a Cowan é acintosamente pró-tucana.

Em maio do ano passado, o filho de Saulo, o Saulo Wanderley Filho, deu uma festa de gala em sua casa que, à luz do que vemos hoje, poderia se constituir no baile fiscal dessa relação promíscua entre empreiteiras e governos.

O baile fiscal foi o último baile organizado pela monarquia, antes da proclamação da república.

No contrato público que rege as obras do PAC Mobilidade, não há dúvidas sobre de quem é a responsabilidade sobre a obra: da prefeitura.

Agora, vamos às especulações políticas.

A empresa ganhadora, Cowan, tem relações íntimas com os tucanos mineiros. Para começar, as únicas doações que ela fez para políticos, e não para diretórios, foram para tucanos e democratas. Em Minas, ela escolheu a dedo a quem doar:  Rodrigo Batista de Castro, deputado federal pelo PSDB, e filho do poderoso Danilo de Castro, secretário de Estado do governo de Minas Gerais.  O quadro abaixo é do TSE, com dados da eleição de 2010.

O outro beneficiado em Minas é Gustavo Correa, deputado estadual pelo DEM, que, em 2007, viria a ser nomeado pelo então governador, Aécio Neves, secretario de esportes e juventude do governo estadual.

A Cowen fez ainda uma doação também para Samuel Moreira, um mineiro de Governador Valadares que acabou construindo sua vida em São Paulo e hoje é o presidente da Assembléia Legislativa do estado.

Sobre as doações da mesma empresa em 2012, reproduzo um trecho de matéria do jornal mineiro O Tempo:

“Já em 2012, ano de eleições municipais no Brasil, a Cowan doou, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, R$ 2,82 milhões para os diretórios nacionais de três partidos: PCdoB, PMDB e PSDB. O comitê comunista foi o destino de R$ 500 mil da construtora, mesmo valor depositado para o diretório nacional do PSDB.

A conta do PMDB ficou bem mais recheada: o partido recebeu, ao todo, R$ 1,8 milhões da construtora. Neste mesmo ano, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) usou o jatinho da construtora para participar da campanha de Lúdio Cabral (PT) à Prefeitura de Cuiabá.”

 

O restante do post vem em forma de colunismo social. Selecionei criteriosamente algumas fotos que podem nos ajudar a entender como opera a alta sociedade belorizontina. A maioria delas são do aniversário de 40 anos de Saulo Wanderley Filho.

Saulo Wanderley Filho, presidente da Cowan, dança com Latino, em sua festa de aniversário.

Festa de luxo montada em sua mansão.

 

Empresários Alberto Freitas Ramos e Saulo Wanderley com o governador em exercício Alberto Pinto Coelho (PP).

Saulo Wanderley Filho e mulher na companhia de um colunista famoso de BH. 

Saulo Wanderley, presidente do Conselho da Cowen (que herdou do irmão, falecido em 2004), abraçando o ex-governador Antonio Anastasia.

Congraçamento entre Marcio Lacerda, prefeito de BH, Saulo Wanderley, e os ex-ministros tucanos Arlindo Porto e Paulo Paiva.

Danilo de Castro, secretario de Estado do governo de MG, é o segundo, da esquerda para direita. Na extrema direita está Saulo Wanderley. Tuti amici.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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