Vocês sabem que eu já publiquei dezenas de textos sobre a refinaria de Pasadena. Tanto que até me cansei do assunto. Se você buscar Pasadena no google, o Cafezinho estará entre as primeiras fontes mostradas.
Fiquei também decepcionado com a Petrobrás, que podia ter se defendido com mais galhardia. Bastava oferecer mais informações sobre a refinaria. Até mesmo algumas coisas aparentemente inocentes ajudariam muito, como trazer fotos das máquinas funcionando, dos trabalhadores, imagens e dados do canal de Houston. Números precisos de produção, estoques.
Enfim, qualquer coisa que pudesse nos ajudar a materializar a imagem de Pasadena num objeto palpável, concreto, num patrimônio real da estatal e do povo brasileiro.
Com isso, poderíamos até aceitar que, à luz da conjuntura de hoje, não tenha sido um bom negócio adquiri-la em 2006.
Mas entenderíamos o seu valor, e porque a estatal se interessou em comprá-la. É preciso mostrar à sociedade, afinal, que o petróleo apenas se materializa enquanto produto para o consumo, só ganha valor de uso, após ser devidamente processado por uma refinaria como a de Pasadena.
A reação da Petrobrás, de não falar quase nada, isso tem sido cruel. A estatal, tão valiosa para o povo brasileiro, se deixou tragar, mais uma vez, para o centro de uma crise política que apenas produz desinformação. A Petrobrás, quando não responde a contento aos ataques que sofre, ajuda a botar lenha na campanha de criminalização da política, e em especial do Partido dos Trabalhadores.
Perdem todos: a política, que fica refém de campanhas pseudo-moralistas; as empresas fornecedoras, que passam a ser vítimas inclusive de chantagens por parte da imprensa e políticos de oposição; a Petrobrás, cuja imagem é atacada (que adianta gastar centenas de milhões em propaganda se a imagem é destruída em poucas semanas?); o governo, que passa a ser alvo de campanhas de desestabilização; e sobretudo o cidadão comum, que fica desinformado e, com isso, se torna presa fácil para a manipulação.
Graça Foster é talvez a primeira petroleira, na acepção plena da palavra, a presidir a Petrobrás. É uma pessoa que respira petróleo dia e noite. Que ama profundamente a Petrobrás. Ela conhece petróleo. Sabe como produzir e aumentar a produtividade da estatal. Tanto que isso tem acontecido: em termos técnicos e tecnológicas, a Petrobrás tem avançado de maneira espetacular sob sua gestão.
No entanto, Foster deve entender que ela não é gerente de produção da estatal. Ela é a presidente. A CEO. Sua função principal é melhorar o relacionamento da Petrobrás com o país e o mundo. Essas campanhas contra a estatal precisam ser respondidas, não com agressividade, mas simplesmente com informação.
E agora entendo que não adianta culpar “a comunicação” da Petrobrás. A decisão tem que vir de cima, da presidência.
Enquanto a Petrobrás apanha calada, a blogosfera tenta estabelecer um mínimo contraponto à campanha acusatória unilateral da grande mídia.
Reproduzo abaixo um texto do Fabiano Amorim sobre a nova patacoada da imprensa: tratar relatórios preliminares do TCU como julgamentos definitivos.
Olha que Amorim nem abordou um ponto essencial: o responsável pelas investigações contra a Petrobrás no TCU é o ministro José Jorge, ex-ministro de Minas e Energia no governo FHC, a figura responsável pelo afundamento da maior plataforma de petróleo do mundo, um acidente que nunca foi devidamente investigado pelo… TCU.
Para José Jorge (ex-senador pelo DEM), afundar uma plataforma que valia bilhões e produzia bilhões de dólares em petróleo, isso é normal. Adquirir uma refinaria no melhor lugar dos EUA, tentando contornar o principal problema nosso, que era a falta de refinarias, aí é crime.
Eu preparei uma tabela com as importações de petróleo, para vocês terem uma ideia de quanto a gente gasta importando petróleo, e como é importante, portanto, produzir e refinar tudo aqui, e logo como a Petrobrás sempre esteve certa quando procurou adquirir refinarias no exterior.
No acumulado dos últimos 12 anos (e fazendo um exercício para 2014), as importações de petróleo totalizaram quase US$ 300 bilhões. 300 bilhões de dólares, mais de 700 bilhões de reais, apenas com a importação de petróleo! E o maior gasto é justamente com petróleo refinado: mais de US$ 135 bilhões em 12 anos.
Essa é a razão que levou a Petrobrás a adquirir refinarias no exterior, para reduzir esta sangria. E agiu bem.
Ao texto do Fabiano:
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A nova e frágil munição da imprensa contra a Petrobras
sexta-feira, 4 de julho de 2014 17:34
Por Fabiano Amorim, em seu blog.
Uma matéria publicada pelo Estadão nesta terça-feira, dia 01/07, cujo título é “Relatórios do TCU pedem devolução de US$ 873 mi [milhões] por Pasadena”, chama a atenção pelo volume de dinheiro mencionado.
Estadão – Relatórios do TCU pedem devolução de US$ 873 mi por Pasadena (01/07/2014)
Um dos pareceres contidos num desses relatórios, acusa a presidente Dilma Roussef de “ato de gestão ilegítimo e antieconômico”, “omissão” e “exercício inadequado do dever de diligência”.
Na época da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, em 2006, Dilma Roussef era presidente do Conselho de Administração da Petrobras. A compra da refinaria foi decidida por unanimidade por todos os integrantes do conselho.
Um leitor apressado, que passar pelo título dessa matéria, provavelmente irá achar que o TCU (Tribunal de Contas da União) comprovou que há irregularidades na compra de Pasadena e determinou a devolução dessa quantia.
O que na verdade há na matéria é que alguns relatórios conseguidos pelo Estadão, que foram elaborados por técnicos do TCU, recomendam que os diretores envolvidos na compra de Pasadena devolvam U$ 873 milhões aos cofres públicos.
Esses relatórios servirão para embasar o voto do relator do processo, o ministro José Jorge, no julgamento que será realizado no plenário do Tribunal, ou seja, o processo ainda será julgado por diversos outros ministros.
Esses pareceres, que são completamente preliminares ainda, estão sendo divulgados de uma forma que pareçam serem decisões do Tribunal de Contas. A grande imprensa está simplesmente copiando e colando o conteúdo da matéria em seus sites, sem um único questionamento.
Essa informação também está sendo fortemente divulgada nas redes sociais. Apenas o link do Estadão, no momento em que escrevo, já conta com 2300 compartilhamentos no facebook.
Recomendação demonstra fragilidade na avaliação
A recomendação de devolução de U$ 873 milhões por causa da compra de Pasadena é algo completamente sem sentido, pois para exigir a devolução de tal valor, seria necessário provar que a gestão da Petrobrás causou, de forma intencional ou por negligência, um prejuízo de U$ 873 milhões à empresa e que esse prejuízo é irrecuperável.
Imagine, por exemplo, que a Petrobrás comprou uma refinaria que custou U$ 2 bilhões. Após 5 anos de funcionamento teve lucro de U$ 1 bilhão e em seguida ocorreu um acidente que inutilizou a refinaria para sempre.
Neste caso, estaríamos falando de um prejuízo irrecuperável de U$ 1 bilhão na compra da refinaria.
Mesmo assim, só poderia ser exigida a devolução do dinheiro, se o acidente tivesse ocorrido por culpa dos gestores da empresa.
Agora imagine que nessa mesma refinaria não ocorreu nenhum acidente, mas houve uma grave crise econômica mundial que fez a empresa ter um prejuízo de U$ 200 milhões.
É justo afirmar que, nesse segundo exemplo, houve um prejuízo irrecuperável?
Se a empresa faliu após esse prejuízo, aí sim pode-se falar sobre prejuízos irrecuperáveis.
Mas se a empresa continua em funcionamento, ela ainda poderá, nos anos seguintes, tentar recuperar o investimento feito inicialmente. Neste caso, o investimento e o prejuízo são recuperáveis.
Esse segundo exemplo reflete o que está acontecendo com a refinaria de Pasadena, neste momento.
A Petrobrás comprou a refinaria por um valor próximo dos U$ 873 milhões contabilizados pelos técnicos do TCU.
Ao pedirem a devolução dessa quantia, eles consideraram esse valor como sendo um prejuízo irrecuperável. É como se, nos oito anos de funcionamento da refinaria, ela jamais tivesse produzido lucro e a sua venda não pudesse resultar em um único centavo.
Esse raciocínio não faz sentido algum, pois a refinaria de Pasadena é uma empresa que está ativa desde 2004.
Para calcular algum prejuízo, seria preciso ter em mãos os valores de lucro ou prejuízo da empresa nos últimos 8 anos. Apenas com base nisso, é possível saber o quanto houve de prejuízo.
Segundo depoimento da presidente da Petrobras Graça Foster, concedido em abril no senado, a refinaria de Pasadena teve um prejuízo de U$ 536 milhões de dólares ao longo dos seus 8 anos de funcionamento. Recentemente, a Petrobras também declarou que nos três primeiros meses de 2014, a refinaria registrou um lucro de U$ 63,8 milhões. Nesse ritmo, o prejuízo poderia ser recuperado dentro de dois anos.
Dado que a empresa ainda está em funcionamento e obtendo lucros, não faz sentido que técnicos do TCU recomendem a devolução de quaisquer valores, pois o investimento feito na refinaria ainda pode ser recuperado.
Manipulação da informação
É de causar espanto como a grande imprensa utiliza de documentos com avaliações tão frágeis, para induzir a opinião pública a crer que a atual gestão da Petrobras lesou os cofres públicos em quase U$ 1 bilhão.
Percebam como o título da matéria “Relatórios do TCU pedem devolução…” é manipulador. É feita uma afirmação como essa, quando na verdade apenas tiveram acesso a um parecer que vai embasar o voto de um único ministro, num julgamento que nem tem data para acontecer.
O julgamento do TCU pode até não ter data marcada, mas o da grande imprensa já foi feito e todos os diretores já foram condenados e sem direito a apelação.