Barbosa mergulha em seu próprio vazio

De fato, a saída de Barbosa não poderia ser mais melancólica, e sintomática de uma gestão perturbada, sempre baseada em acusar, acusar, acusar.  Ao invés de juiz, Barbosa arvorou-se no Grande Promotor, ou pior, no Grande Justiceiro, e assim foi aclamado, com ajuda da mídia.

Saca só a capa do Globo de hoje:

Na chamada de capa, Barbosa diz que “a Corte não é lugar para quem tem vínculos com determinados grupos e certas corporações”.

Grupos? Corporações?

Barbosa faz acusações sem nome, lançadas no vazio. Que tipo de grupos? O new kids on the block? O PT? O Green Peace?

Que corporações? Seria a Globo, que lhe deu o prêmio Faz Diferença, empregou seu filho, e onde o último ex-presidente, Ayres Brito, arrumou uma sinecura de luxo como presidente do Instituto Innovare?

Não podia deixar de reproduzir esse post do Conversa Afiada, que traz um poema de um dos meus poetas preferidos, T.S.Eliot.

No Conversa Afiada.

Barbosa, o homem vazio

O último dia do Presidente Barbosa no Supremo foi um estampido de baixa intensidade.

Acusados sem nome, princípios inarticulados, ausência de legado, e um lugar comum que atinge o peito com uma punhalada: sai de “alma lavada”!

Encerrou-se assim, como sempre foi, agora se vê: como um homem vazio, de palha.

Na companhia de T. S. Eliot.

Clique aqui para ler “O ocaso de Barbosa. Sem poesia”.

Os Homens Vazios
T. S. Eliot
(Tradução de Heber Costa)

I

Somos os homens vazios.
Somos os homens empalhados.
Tombando juntos
com capacetes cheios de palha.
Que desgraça!
Nossas vozes ressecadas,
quando sussurram juntas,
são mansas e incompreensíveis
como o vento na grama seca
ou ratos por sobre os cacos
de nossa adega consumida.

Forma sem formato,
sombra sem cor,
Força paralisada
num gesto sem movimento.

Aqueles que viram com os próprios olhos
o Reino da Morte.
Lembrem-se de nós
— se é que lembrarão —
não como almas perdidas e violentas,
mas como os homens vazios.
Os homens empalhados.

[…]

III

Esta é a terra dos mortos.
Esta é a terra dos cactos.
Aqui os ídolos de pedra são erigidos,
aqui recebem súplicas
da mão de um homem morto
sob os últimos cintilos
de uma estrela que se apaga.

Não é assim que é
no Reino da Morte?
Caminhando na solidão
até a hora em que
trememos de ternura
e os lábios que outrora beijavam
fazem preces às pedras fendidas.

IV

Os olhos não estão aqui.
Não há olhos aqui,
neste vale de estrelas decadentes,
neste vale vazio.
Esta mandíbula fraturada de nossos reinos perdidos.

E, neste último lugar de encontro,
tateamos para junto dos outros
fugindo à fala.
Reunidos às margens de um rio profundo.

Sem a visão, a menos que
os olhos reapareçam
como estrela perene,
rosa multifoliada
do Crepúsculo, o reino da Morte:
a esperança que resta
aos homens vazios.

V

[…]
Entre a idéia
e a realidade,
entre o movimento
e a ação,
recai a Sombra.

Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
e a criação,
entre a emoção
e a reação,
recai a Sombra

E a vida é longa demais

Entre o desejo
e o espasmo,
entre a latência
e a existência,
entre a essência
e a descendência,
recai a sombra.

Porque Teu é o Reino

[…]

Porque é assim que o mundo termina
Porque é assim que o mundo termina
Porque é assim que o mundo termina
Não com um estampido,
mas com um lamento.

Ler no original.

Repórter da Globo, Zileide Silva, tira “selfie” com Joaquim Barbosa.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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