Quando eu era bem pequeno, tipo 4 ou 5 anos, meu pai costumava me contar histórias surreais, de aventuras loucas em que tinha se metido.
Ele sempre terminava as histórias dizendo que, após derrotar algum monstro, tinha ganho um presente, uma bandeja de brigadeiros ou coisa assim, mas que na volta, “escorregou no seco, caiu no molhado” e deixara tudo cair no chão.
É engraçado pensar nisso porque, alguns anos mais tarde, ele não me contava mais história nenhuma. Como se tivesse se decepcionado com o fato d’eu ter crescido o suficiente para não mais acreditar nas suas fábulas. Ou simplesmente se cansado.
Lembrei-me disso ao pensar numa explicação para o fato de ter passado quatro horas escrevendo um artigo, ontem à tarde, mas desistido de publicá-lo. Parece história para boi dormir, mas é verdade. Meu artigo escorregou no seco e caiu no molhado.
Entretanto, o texto trazia alguns conceitos que ficaram na minha cabeça e que vou desenvolvê-los em outros textos.
Um deles é que, apesar das metáforas entre política e luta, não podemos confundir as bolas.
Uma eleição não é exatamente uma luta. Não é uma guerra.
Uma guerra visa destruir o adversário, a política, num processo democrático, tem como objetivo conquistar amigos.
Para vencer o conservadorismo, portanto, não adianta atacar “as elites”, ou brandir um discurso raivoso contra inimigos reais ou imaginários. Não adianta atacar a mídia.
Para vencer, é preciso oferecer sonhos. Convencer as pessoas que estes sonhos podem se tornar realidade, e que se está comprometido para que isso aconteça.
O principal trunfo do partido da direita, a mídia, é a vasta gama de habilidades que o dinheiro pode comprar. Eles tem cadernos de cultura, entrevistam celebridades, publicam colunas sociais, empregam milhares de repórteres prontos para cavar denúncias e mais denúncias em qualquer área do governo.
E nós, o que temos? Textos nervosos sobre a manipulação das notícias, algumas reportagens, um ou outro furo, muita análise, doses cavalares de sarcasmo, um humor meio alucinado.
No entanto, por que a gente – diante dessa incrível assimetria de forças – tem vencido tantos embates?
Talvez a razão seja essa estranha certeza de que estamos do lado certo, do lado de quem acredita que o povo brasileiro ainda precisa, por alguns anos, talvez por muitos anos, de governos preocupados com a questão social.