O problema de comunicação não é apenas do Executivo. Diante dos ataques que sofre da imprensa, o Legislativo também deveria exibir um pouco mais de autoestima e desejo de defender a sua imagem perante a sociedade.
Sei que é arriscado defender o Senado, diante de uma opinião pública viciada e udenista. A antipolítica é a pior doença atual no Brasil, e contamina todos os espectros ideológicos.
Observe a matéria abaixo, publicada no Globo de hoje com destaque. Ocupa quase uma página inteira. Aliás, a página inteira é dedicada à campanha antipolítica. Metade é a matéria sobre o recesso do Senado, outra metade é sobre Tiririca.
Ora, legislativos do mundo inteiro tem seus recessos, períodos em que os políticos retornam às suas bases, fazem articulações políticas, estudam a conjuntura.
Pretender que o trabalho de um senador, seja de esquerda, seja de direita, se limita ao “bater ponto” no Senado é ofender a inteligência e insultar a democracia.
Um senador é como um escritor, não pára de trabalhar porque não está em Brasília ou diante da máquina de escrever. O tempo dedicado à pesquisa, à observação, à discussão, é tão importante quanto o tempo passado dentro do Senado.
Além disso, até parece que a imprensa faz uma cobertura decente do trabalho dos senadores quando estão em Brasília. A imprensa só se interessa pelos escândalos, pelas CPIs, pelas brigas. Não faz o minimo esforço em despertar o interesse dos leitores pelos trabalhos das comissões especializadas, pelos debates parlamentares, por qualquer coisa de realmente útil produzida pelo parlamento.
Lembro-me de um livro de Gore Vidal, Linconl, que há alguns anos, no qual fala de um momento crucial da vida política e parlamentar os EUA. Os senadores às vezes tinham recesso de meses, por várias razões, como a dificuldade de transporte da época, mas também pela necessidade dos senadores de fazerem articulações políticas em seus estados. Ninguém os criticava por “não trabalhar”, ou por continuar recebendo salários, como faz o Globo.
A crítica da imprensa ao parlamento é vulgar, sensacionalista, despolitizante. Desinforma. Acentua a ignorância política do leitor. Incentiva o preconceito antipolítica e afasta o brasileiro do trabalho de seu parlamento, que pese seus inúmeros defeitos, é o único que ele possui.