PV, PT e PCdoB foram os partidos que mais ganharam filiados em 12 anos

Quando alguns falam em fim dos partidos políticos, parecem se basear mais em teses acadêmicas do que na realidade política, pelo menos do Brasil. O número de eleitores filiados a partidos no país cresceu 43% nos últimos 12 anos.  

O destaque vai para o PV (+254%), PCdoB (135%) e PT (92%).

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Sobre o extraordinário crescimento do PT nos últimos 12 anos

Registrando crescimento de 91% nos últimos 12 anos, PT é o partido preferido em todas as idades, regiões, religiões e níveis de escolaridade no Brasil.

Por Antonio David, na Carta Maior.

“Quantidade não é qualidade”, já diz o provérbio. O número de filiados de um partido político tem grande importância, mas não diz tudo. Sobretudo, não implica necessariamente em força política. Há partidos com baixa expressão eleitoral e significativo leque de correligionários e vice-versa. Enquanto a conjuntura muda e com ela muda a influência do partido na sociedade, em geral os filiados permanecem filiados por inércia, mesmo quando na prática não guardam mais vínculo algum com o partido.

Ademais, há partidos pequenos cuja força reside na influência que exercem na sociedade ou em ramos dela, como o meio sindical ou entre a população evangélica. Por tudo isso, a mera quantidade de filiados de um partido não é um retrato fiel de sua força. Para aferi-la, há que se considerar outros fatores.

Feita a advertência, convém observar o atual quadro de filiações partidárias no país.

Há atualmente 7 partidos com mais de um milhão de filiados. Logo abaixo destes, encontram-se outros 7 partidos de porte médio, que possuem entre trezentos mil e um milhão de filiados. Por fim, há 18 partidos pequenos ou “nanicos”.

Comparando-se as filiações partidárias entre 2002 e 2014, dois dados saltam aos olhos.

Em primeiro lugar, o extraordinário crescimento do PT. Nesse período, o aumento do número de filiados dos partidos de porte médio e grande foi bastante variável. Contudo, o crescimento do PT é significativamente maior do que o crescimento dos demais partidos grandes e médios. Enquanto o PSDB cresceu 28,65%, o PT quase dobrou de tamanho, como se vê na tabela adiante.

À direita e à esquerda, há quem faça pouco caso das filiações do PT. Não é o caso de reproduzir os argumentos, até porque praticamente todos giram em torno da chamada “filiação em massa” e dos problemas nela envolvidos. O certo é que nesse período o PT popularizou-se: não só no eleitorado – nas eleições presidenciais, o PT tem vencido entre os eleitores mais pobres –, mas também entre seus filiados. Entre 2002 e 2014 filiaram-se 761.210 pessoas no Partido dos Trabalhadores. Em sua grande maioria, trabalhadores.

Não obstante o número de filiados não ser o único critério de força política, em se tratando de um partido de massas, presente em todo o território nacional e com mais de um milhão de filiados, e levando-se em conta todos os ataques que o partido sofreu nesse período, o vertiginoso crescimento do PT é sinal de uma grande vivacidade e força política. Mas, como dissemos, para aferir a força do PT como um todo, há que se levar em conta outros fatores.

PREFERÊNCIA – Outro dado indica que o crescimento do PT não é artificial. Na última pesquisa nacional de intenção de voto do Datafolha (publicada em 09/05/2014), o perfil da amostra revela que 23% dos entrevistados declaram ter como partido de preferência o PT. Em segundo lugar, muito abaixo, figuram PSDB e PMDB, com 4% cada. 62% declararam não ter partido de preferência.

E não se trata de uma preferência concentrada entre os mais velhos. Também entre os mais jovens esse percentual é praticamente o mesmo: 21% dos que têm entre 16 e 24 anos e 24% dos que têm entre 25 e 34 anos declararam ter preferência pelo PT. As tabelas revelam outros dados de grande interesse, ligados à renda, escolaridade, região, dentre outros recortes:

 

O fato de haver simpatizantes do PT entre aqueles que declararam ter a intenção de votar em Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB), Pastor Everaldo (PSC) e em branco ou nulo – respectivamente, 13%, 12%, 15% e 13% – revela o potencial de crescimento de Dilma durante a campanha. Há outros dados que apontam para a mesma direção. Na resposta espontânea à pergunta “Em quem você gostaria de votar para presidente este ano?”, 55% dos eleitores com renda familiar mensal até 2 salários mínimos declararam não saber em quem votar. Como sabemos, esse segmento responde por aproximadamente 40% dos eleitores e nele predomina o voto no PT.

“NANICOS” – Voltando à tabela que versa sobre a diferença do número de filiados entre 2002 e 2014, chama a atenção outro dado que para muitos certamente passaria despercebido: o crescimento dos partidos de pequeno porte ou dos chamados “nanicos”. Enquanto a variação total do período foi de 42,96% e enquanto a maior parte dos principais partidos de direita, tanto da base do governo como da oposição, não cresceram mais do que 30%, os “nanicos” cresceram juntos 146,57%.

Desse meio, convém diferenciar os partidos de esquerda, que têm ideologia e militância: PSTU, Psol, PCB e PCO. Quanto aos outros, tratam-se em sua maioria de meras legendas de aluguel. Em 2002, apenas PTC, PMN e PRP possuíam mais de 100 mil filiados. Hoje, só as três legendas já são maiores que o PSB em número de filiados. E se todos estes continuam sendo nanicos, todavia, em número de filiados, todos juntos já são maiores que o DEM.

Esse vertiginoso crescimento talvez revele um esforço de parte da direita, ou ao menos de pessoas com ideias, propostas e práticas mais afinadas à direita, de fuga da polarização esquerda versus direita. Se essa hipótese for verdadeira, pode-se concluir que a fuga do conflito central acaba por alimentar o fisiologismo.

Outros dados parecem confirmar essa hipótese. A evolução do número de vereadores e prefeitos, ao lado das filiações que aqui mostramos, sugere haver um processo de interiorização das legendas de aluguel no país e um fracionamento do quadro partidário no qual essas legendas saem fortalecidas.

Como sabemos, um dos efeitos da migração em massa de parlamentares para os partidos nanicos é o fortalecimento do comércio eleitoral do tempo de rádio e TV nas vésperas de cada pleito eleitoral, cada vez mais pulverizado e negociado no varejo. No fundo, muitos desses partidos foram criados e são mantidos para esse fim.

Analisando os dados ano a ano, de 2002 a 2014, no caso dos grandes partidos as dissidências do período, não obstante tenham impactado, não parecem ter causado sangramentos. É o caso de SDD e Pros. A despeito de suas bancadas, ambos têm poucos filiados, como se pode constatar nas tabelas sobre filiação. Ao contrário, as fusões e incorporações ocorridas no período tiveram grande impacto: é o caso do PTB e do PR, tal como as notas 1 e 2 evidenciam.

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Antônio David é estudante de pós-graduação na FFLCH/USP.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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