Povo ensina coxinhas a protestar sem violência

Hoje tem uma longa matéria no Valor, ocupando quase uma página inteira, refletindo como as mobilizações de rua evoluíram de junho do ano passado até hoje.

A classe média saiu das ruas, entraram sem-teto e trabalhadores.

A diferença maior? O povo pobre e trabalhador faz protestos bem mais organizados, com foco, tem lideranças que dialogam com as autoridades, e não promovem quebra-quebra.

Houve, de fato, uma crise na representação sindical, o que tem seu lado saudável, de dar um susto na pelegagem e forçar as diretorias a abandonarem a zona de conforto. Não adianta ser amigo do patrão. Tem que ficar ao lado da classe trabalhadora e entender suas demandas.

Claro que essa crise nos sindicatos tem um lado negativo, de levar ao extremo oposto da pelegagem, à influência de um radicalismo vazio, com ascensão de lideranças oportunistas e demagógicas.

Mas o tempo, sábio como só ele, encarrega-se de botar as coisas nos eixos. Aos poucos, o bom senso – um dom que o destino disseminou democraticamente para todos, conforme ensinava Descartes – prevalecerá.

O mais importante é que houve um processo de retomada das ruas por parte do povo.

Os coxinhas manipulados e manipuladores, reacionários e truculentos, deram lugar a trabalhadores e sem-teto. Esses não depredam patrimônio público e seu objetivo não é invadir a Câmara dos Vereadores para tirar a roupa lá dentro. Eles querem políticas públicas concretas, pontuais, que melhorem suas condições.

Ás vezes, suas manifestações cometem alguns excessos, como paralisar vias de importância vital numa cidade, impondo sofrimento a outros trabalhadores, mas não se pode, nem de longe, comparar ao clima barra pesado de violência pura que caracterizava algumas manifestações difusas, nas quais havia predomínio de classe média e coxinhas histéricos.

 

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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