Há algumas semanas, em jantar na casa do amigo Wanderley Guilherme dos Santos, ele me dizia: “você vai achar estranho o que vou lhe falar, mas o Brasil tem um excelente parlamento!”
Na verdade, eu não achei assim tão estranho, porque eu tive uma prima, que trabalhou num grande jornal uns anos atrás, que falava algo parecido. Ela me dizia que, pese a presença de deputados de reputação suspeita, a Câmara tinha um corpo de assessores e comissões que trabalhavam muito e produziam sempre material de qualidade.
Hoje, pensando em algumas leis recentemente aprovadas, e motivado por minha tendência atual, quase orgânica, de suspeitar de tudo que vem da grande mídia, tendo a concordar com o professor.
No espaço de alguns meses, o Congresso Nacional brasileiro aprovou o Marco Civil da internet, um dos mais avançados do mundo, que servirá de modelo para Estados Unidos e União Europeia, e a Pec do Trabalho Escravo, uma lei quase inédita no mundo, que está recebendo elogios de organizações internacionais. Pela lei, quem for pego usando trabalho escravo terá seu imóvel desapropriado para fins de reforma agrária.
E ontem (28/05), às dez horas da noite, o Parlamento aprovou o texto-base do Plano Nacional de Educação, que prevê aplicação de 10% do PIB em educação, como meta para os próximos dez anos. Esse último item, se bem me lembro, nem é do agrado do professor Wanderley, que acha exagero engessar orçamentos, mesmo que seja a um item tão essencial como educação. Entretanto, no caso do Brasil, acho que a aprovação tem um valor simbólico e político importante, inclusive para o próprio Parlamento, porque mostra o esforço dos deputados em realizarem ações concretas em benefício do povo brasileiro. Mais que isso, revela a integração entre parlamento e os mais importantes movimentos sociais em prol da educação pública, visto que os 10% tem sido uma das principais bandeiras de entidades ligadas ao setor, sobretudo as estudantis.
Além do mais, com a iminência do présal, será positivo termos, junto ao poder público, uma meta estabelecida para investimento em educação, ao qual poderemos associar pesquisas avançadas, sobretudo na área de ciência e tecnologia.
Wanderley denuncia, há anos, em seus livros, a campanha sistemática da imprensa contra o parlamento. Pinta-se o parlamento como um antro de inúteis e desgraçados, através de um jornalismo sensacionalista e vulgar, e logo em seguida se faz uma pesquisa para saber o que a população pensa do Congresso. O que vemos é uma crise de imagem, uma dissociação cada vez maior entre o que o parlamento realmente produz e a visão que dele tem os brasileiros, através da mídia.
Uma lei de mídia que derrubasse os monopólios e promovesse uma liberdade real de imprensa, e que, ao contrário de censurar ou controlar conteúdos, permitisse a proliferação de centenas, milhares de novos produtores de conteúdo, teria ainda essa vantagem: de aproximar a população do parlamento.
A crítica que os parlamentares receberiam de uma mídia mais democrática seria mais incisiva e mais exata, ao invés do sensacionalismo barato e, na maioria das vezes, tendencioso e chantagista, que vemos hoje. E seus projetos e estudos seriam divulgados com mais generosidade.
À mídia interessa apenas promover uma imagem idílica de si mesma. O ano inteiro, a nossa grande imprensa promove eventos se autoexaltando. Convoca ministros do STF para meio que forçá-los a dizer frases bonitas e idealistas sobre a importância da imprensa e da liberdade de imprensa para a democracia, mas na verdade confundindo, quase criminosamente, conceitos abstratos com a realidade.
Um punhado de empresas de mídia não são “a imprensa”, muito menos representam “a liberdade de imprensa”. Blogs políticos também são “imprensa” e também representam “liberdade de imprensa”, e, no entanto, nunca são mencionados nesses convescotes onde se vê uma promiscuidade lamentável entre juízes e interesses econômicos privados de alguns barões da mídia
Natalia
02/06/2014 - 10h17
Miguel,concordo que de vez em quando o Congresso trabalha bem, mas convenhamos, ele é caríssimo e trabalha pouco. Não são só os congressistas que geram despesas exorbitantes, os funcionários, também, parecem que vivem em outro país.
Penso que ainda não estamos com boa situação financeira para todos os cidadãos, para justificar o que é gasto no parlamento.
Anônimo
31/05/2014 - 10h18
Precisamos resolver a questão do monopólio da midia urgentemente. Afinal, enquanto o parlamento e o executivo promovem a garantia de direitos a continua manipulando a opinião publica.
Marcos Vinicius Silva
29/05/2014 - 16h25
Que texto pífio… Elogiar um parlamento que tem trancado sistematicamente um monte de projetos e só porque recentemente aprovam alguns projetos importantes já são louvados e tidos como ótimos.
Vitor
29/05/2014 - 11h06
Entendo, mas suas manchetes estão muito sensacionalistas…
Miguel do Rosário
29/05/2014 - 13h14
isso se chama marketing de guerrilha. não tenho recurso para contratar a grazi massafera,
para promover meus posts.
Vitor
29/05/2014 - 13h56
Entendo, mas não concordo!
Acho que quem entra no seu blog já está pré-disposto a clicar em alguma matéria…
Ricardo Matos
29/05/2014 - 10h28
Realmente interessa aos maus políticos a imagem que todos os políticos são iguais e que o Congresso é um antro de maus elementos. Porém cabe ao próprio Congresso zelar por sua imagem e agem com deficiência na divulgação de suas realizações. Apesar de ter melhorado um pouco com a chegada da internet.
Ninguém
29/05/2014 - 09h16
Oi, Miguel, tudo azul?
Li, não me lembro em que blogue sujo, que esses 10% não serão exclusivamente destinados à educação pública. Essa informação procede?
[ ]s,
Ninguém
Miguel do Rosário
29/05/2014 - 09h22
Sim.
Vitor
29/05/2014 - 09h03
Não convenceu! No dia que fizeram algo parecido com uma reforma política ou tributária eu começo a pensar melhor…
Um mês bom não vai apagar um passado de corporativismo e vexames!
PS: Miguel, chamar de vira lata que não acha que o congresso brasileiro é excelente é no mínimo falta de educação, não entre em jogo baixo…
Miguel do Rosário
29/05/2014 - 09h24
Não é isso. Se fosse assim, eu estaria chamando 90% da população de vira-lata. Não gostar do Congresso não é vira-latice, mas todo vira-lata, por obrigação contratual com sua ideologia, tem de odiar mortalmente o parlamento brasileiro.