Paulo M.Leite denuncia aliança de conservadores e esquerdóides no movimento anticopa

Excelente artigo do Paulo. Desde que o Brasil soube que iria sediar a Copa, o orçamento de Educação mais que dobrou. De 2007 a 2013 foram gastos mais de R$ 500 bilhões em educação.

Os estádios custaram R$ 8 bilhões, e foram financiados (o dinheiro voltará). Me recuso a contabilizar gastos em mobilidade urbana ligados à Copa como um gasto ruim contra o qual deveríamos protestar.

O problema do Brasil não é a Copa, que ao cabo será um encontro de civilizações, e mostrará o Brasil ao mundo, com suas qualidades e suas mazelas. Acho importante também o mundo conhecer nossos problemas, me incomoda às vezes a visão idílica que alguns países tem daqui.

O problema do Brasil é a sonegação, a concentração da mídia, a corrupção abafada por uma imprensa que se finge de imparcial mas que protege os grandes corruptos, instituições vulneráveis à pressão dos barões da mídia, como o STF e o Ministério Público… Além, é claro, dos maiores problemas de todos: a pobreza e a desigualdade, essas chagas que ainda assolam a sociedade brasileira!

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A GUERRA CONTRA A COPA

Depois de combater políticas de bem-estar, nossos dinossauros escondem números reais e usam fantasia social

Na medida em que dados concretos começam a ser divulgados, começa a ficar claro que a guerra contra a Copa é expressão de um delírio conservador que recebe, acessoriamente, o apoio ruidoso de uma retórica de ultra-esquerda – bastante comum em situações políticas como a atual.

Alguns números.

A sugestão de que os estádios de futebol tiveram reajustes e sobrepreços excessivos não resiste a uma matemática contábil. A inflação acumulada do país, no período, chegou a 40%. A alta média dos estádios ficou em 36%. Num país que convive com metas inflacionárias como política oficial, reajustes desse tipo são parte natural da paisagem dos investimentos públicos e privados.

Imaginar que o futebol retirou dinheiro da Educação é um acinte. Entre 2007, quando o país foi confirmado como sede da Copa,e o ano passado, os gastos do MEC com educação subiram mais do que o dobro, em valores deflacionados. Como algumas pessoas podem ficar em dúvida diante destes números, que contrariam tudo o que se disse e se ouviu nos últimos meses, aqui vão os dados completos, ano a ano:

em 2007, o gasto foi de R$ 50,2 bilhões;

em 2008, ocorreu um crescimento superior a 10%, e as verbas passaram para R$ 56,4;

em 2009, houve uma alta ainda maior, para R$ 67,1;

em 2010, o salto, de quase 15%, levou para R$ 78,3;

em 2011, foi para R$ 87,5;

em 2012, para R$ 100,5.

em 2013 chegou a R$ 107,00.

[Obs Cafezinho: total R$ 547 bilhões entre 2007 e 2013].

Os gastos totais com a Copa, somando empréstimos públicos, privados, investimentos estaduais e municipais, chegam a R$ 26,7 bilhões.

Não é pouco dinheiro, convenhamos. Mas é menos, por exemplo, que metade do patrimonio da família Marinho, dona da TV Globo, segundo a revista Forbes. Em outra conta: num país com PIB de R$ 4,5 trilhões, os R$ 26 bi continuam sendo um bom dinheiro mas não vamos perder a perspectiva dos números.

Agora, algumas ideias.

É claro que toda pessoa tem direito de ser contra a realização da Copa no Brasil.

Em 2007 levantei críticas neste espaço – como qualquer pessoa, interessada na arqueologia da internet, poderá comprovar.

Sete anos depois, essa discussão está fora de lugar. Depois da crise de 2008, a maior do capitalismo mundial em 85 anos, não é possível ignorar o lugar da Copa no estimulo a investimentos realizados no país. Os trabalhos da Copa garantem um acréscimo anual de 0,4% no PIB brasileiro. Também ajudam a criar 3,6 milhões de empregos. Talvez não seja a melhor saída. Nem a mais duradoura. Mas cabe lembrar que, sem alternativas, que jamais foram apresentadas, as pessoas não tem o que comer nem o que vestir, não é mesmo? Do ponto de vista dessas pessoas, a Copa já é uma vitória, ainda que parcial, beneficiando a população mais pobre. Ou desemprego no orçamento dos outros não arde?

Além de sugerir medidas de austeridade, que afundaram a Europa, alguém apareceu com ideias mais adequadas, socialmente aceitáveis?

A campanha contra a Copa é antiga. Se você fizer a arqueologia de seus críticos, irá encontrar declarações solenes de que o governo brasileiro deveria render-se definitivamente a supostas mediocridades nacionais e devolver a Copa para a FIFA. O argumento, na época, é que nem os estádios ficariam prontos. Sem comentários, não é mesmo?

O debate seguinte foi outro. Nossos dinossauros se tornaram sociais – e foi para isso que a aliança com porta-vozes de uma retórica de ultra-esquerda se tornou necessária.

Repare: a mesma turma que em 2007 – o ano em que o Brasil foi escolhido como país-sede –derrubou a CPMF, aquele imposto semi-invisível que garantia verbas para a saúde pública, resolveu pedir dinheiro para postos de saúde como argumento para combater a Copa.

Sem ruborizar, teve a mesma reação diante do programa Mais Médicos.

A tecnologia política é conhecida. Depois de negar recursos que poderiam, de forma consistente e duradoura, promover uma mudança real na saúde pública, vamos à rua pedir hospitais padrão-FIFA.

Com todo respeito pela população que dá duro na fila dos hospitais públicos – e também pelos que são ludibriados regularmente pelos planos privados – cabe perguntar: quem queremos enganar com isso?

Quem está falando de indignação real? Quem joga na hipocrisia total?

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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