Globo argentina tenta constranger artistas a não apoiar Kirchner

Legal essa discussão puxada pelo Diario do Centro do Mundo, sobre o que está acontecendo na Argentina. Sobretudo porque a situação no Brasil é infinitamente pior.

E explica porque os artistas vem dando declarações apenas contra o governo, inclusive num ano eleitoral, e isso numa categoria que, historicamente, sempre foi, em sua maioria, progressista e de esquerda. Como a Globo detêm hegemonia absoluta no mercado de ficção, e se tornou uma emissora fortemente partidarizada, o constrangimento aos artistas é claro.

Com exceção do Zé de Abreu, que conquistou, a duras penas, uma condição única, os artistas brasileiros de televisão se vêem absolutamente constrangidos a se posicionarem contra o governo. Aliás, não apenas de televisão. O domínio da mídia sobre o mercado cultural é muito mais terrível do que na seara política, porque na política existem os blogs, os jornais alternativos, e o poder nasce do voto. Na arte, como é um universo totalmente meritocrático, de um lado, e comercial de outro, a dependência da mídia é absoluta. A classe artística vive oprimida pela oligarquia midiática, talvez mesmo sem ter disso consciência, porque precisa da mídia para ficar conhecida junto ao grande público. A concentração da mídia atinge a classe artística em cheio.

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Grupo Clarín ataca artistas favoráveis a Cristina Kirchner

Postado em 28 de maio de 2014, no Diario do Centro do Mundo

Afinal, artistas têm ou não têm o direito de assumirem publicamente suas posições políticas e ideológicas? Esta interessante discussão ganhou força agora aqui na Argentina.

Tudo começou depois das declarações do ator e todo-poderoso gerente de programação do Canal Trece, do grupo Clarín, Adrián Suar (foto) em um programa de TV. Entre outras coisas, Suar afirmou que a maioria dos atores que se identifica e apoia publicamente o governo de Cristina Kirchner o faz por dinheiro ou por interesses que nada têm a ver com suas reais convicções. A crítica também foi dirigida aos chamados atores militantes, que, segundo Suar, são pouco inteligentes por tornar públicas posições ideológicas e/ou partidárias, correndo o risco de se depreciarem.

As declarações de Suar revoltaram o meio artístico argentino. A resposta mais contundente veio da Associação Argentina de Atores, presidida pela atriz Alejandra Darín, irmã mais nova do famoso ator Ricardo Darín, um artista que nunca escondeu seu apoio às políticas públicas do governo Kirchner – e que nunca esteve depreciado, muito pelo contrário, é um dos atores argentinos mais prestigiados da Argentina e do mundo.

Em um comunicado, a entidade afirmou:

“É comum encontrar no setor empresarial essa aversão à participação política de seus funcionários, às ideologias e, inclusive, à conscientização dos trabalhadores quando estes decidem se agrupar e se sindicalizar. O sonho de um mundo sem sindicatos que cuidem dos direitos dos trabalhadores se torna explícito na permanente intenção de manter o trabalho precário. E não satisfeitos com isso, como neste caso, pretendem a assepsia do pensamento dos atores, ávidos por continuar mantendo-os dentro da “ficção”, essa que intencionalmente tenta trocar nosso trabalho e arte por espetacularização, fora da realidade. (…) Custou-nos, e ainda nos custa, e continuamos lutando para que os empresários do setor, Suar entre eles, reconheçam plenamente nossa condição de trabalhadores e respeitem integralmente nossos direitos trabalhistas. Era o que faltava, que um representante do setor empresário pretenda dar-nos seu certificado de bons cidadãos e nos diga o que devemos ou não devemos dizer.”

Reproduzido do Argentin.etc.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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