Os números do Datafolha que tratam da percepção do brasileiro sobre a Copa do Mundo não são bons para ninguém. Nem para o governo, nem para a mídia anti-governo, nem para os coxinhas anti-copa.
Todo mundo saiu perdendo. Quer dizer, teve alguém que ganhou: o Brasil.
É bom que o governo perca porque mereceu. A comunicação foi desastrosa. Os marketeiros de governo só pensam em televisão, em eleição. O primeiro ato da presidenta, ao ganhar as eleições em 2010, foi fechar o seu twitter. Uma estupidez espantosa, porque poderia continuar usando-o para divulgar seus programas de governo, incluindo aí os gastos e ações relacionados à Copa. Não fez. Preferiu o silêncio, quebrado apenas por convescotes em programas da Ana Maria Braga.
A mídia apostou no caos. Uma aposta arriscadíssima, que deu certo com um determinado segmento, mas que deu com os burros n’água no final, porque não conquistou o povão.
Respeito os movimentos sociais e mesmo os trabalhadores que usam a Copa para amplificar suas demandas. E entendo que a Fifa é uma entidade que merece ser criticada. A própria Copa, com certeza, tem motivos para ser criticada, sobretudo pela relação autoritária com a sociedade.
Mas sou crítico à bandeira autodestrutiva dos anticopa radicais, porque é evidente que o cancelamento de um evento desse porte traria prejuízo econômico, desemprego e desmoralização ao país.
O Datafolha mostra um povo extremamente crítico à organização da Copa do Mundo no Brasil. E com razão, visto que a organização falhou miseravelmente em se comunicar com o povo, seguramente por achar que bastava dar uns capilés para a Globo que estava tudo resolvido. Não é assim, sobretudo porque a Globo não é uma parceira confiável para fazer a comunicação entre governo e sociedade, visto que ela tem interesses políticos contrários a do governo.
Mas a pesquisa mostra também, por exemplo, que o brasileiro não engoliu a tentativa da mídia de jogar a população contra Lula, ao repetir, fora de contexto (e ainda botar isso na pesquisa!), a afirmação dele de que “metrô dentro de estádio é babaquice”. Ora, Lula não disse com o sentido de desqualificar a importância de um metrô, e sim de que é impossível transformar uma Copa do Mundo numa pantomina mágica que solucionará todos os problemas nacionais de mobilidade urbana.
O governo tentou usar ao máximo o evento para levar obras de infra-estrutura às grandes cidades, mas é preciso ter um pouco de senso de proporção. É claro que seria legal ter metrô até dentro de um estádio, assim como há metrôs até dentro de quase todos os museus de Nova York e Paris.
Entretanto, se for para ampliar metrôs nas grandes cidades – e acho que foi um erro, sim, o governo federal não ter investido mais nisso desde o início da gestão Lula – a prioridade não deveria ser estádios de futebol, e sim a mobilidade entre o centro e a periferia.
Outra observação a fazer é sobre a tendência. Os gráficos mostram um declínio rápido e acentuado do apoio aos protestos contra a Copa. Tão rápido, aliás, que é até um perigo, pois alguns governadores e comandantes de polícia podem achar que isso é carta branca para violências contra manifestantes, o que seria um erro.