Paulo Nogueira: A entrevista “camarada” de Dines com o chefão da Globo

Que bom que o Paulo Nogueira conseguiu assistir a entrevista com o chefão da Globo. Eu vou lhes confessar, não tive estômago. Aliás, foi por isso que a publiquei no blog, na esperança de que alguma alma curiosa, ou alguém com espírito profissional suficiente para assumir tal tarefa, a assistisse e me contasse o que tem ali.

O post de Nogueira mostrou que minhas suspeitas estavam certas. Foi uma entrevista “camarada”. E agora, vamos ligar para o Dines e perguntar de que partido ele é, porque ele entrevistou João Roberto Marinho, que horas ele acorda, como ele paga suas contas, quais são os patrocínios do Observatório da Imprensa, como os repórteres do Globo fizeram conosco, blogueiros, quando entrevistamos Lula?

Não, porque somos dignos. Dines pode fazer a entrevista que quiser. Fazemos nossas críticas, mas não vamos iniciar uma campanha para destruir o Observatório da Imprensa, como fez a Globo com a gente, ligando para todos os anunciantes (não deu trabalho, de tão poucos…), e praticamente achacando-os a não continuarem anunciando em blogs.

A Globo não é digna. É traiçoeira e monopolista. Não aceita que outros produzam conteúdo e façam entrevistas importantes.

Ao post do Paulo:

*

A entrevista camarada de João Roberto Marinho a Alberto Dines

Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo.

O pior momento de Dines

Ao ver a entrevista que Alberto Dines fez com João Roberto Marinho no seu Observatório de Imprensa, me lembrei, rindo, da ira que acometeu, aspas, o Globo quando Lula conversou com blogueiros.

O ponto do Globo é que Lula fizera uma “entrevista camarada”.

Pergunto: será que eles viram a entrevista de seu patrão? Pode haver entrevista mais “camarada”? Ou entrevista “camarada” só é um problema quando um inimigo a concede?

Não é uma entrevista exatamente nova. Foi feita há alguns meses, mas por algum motivo só agora ela foi assunto na internet.

É um tema complicado para mim. Dines foi um dos meus heróis no começo da carreira, o pioneiro da crítica da mídia no Brasil com seu Jornal dos Jornais aos domingos na Folha, na década de 1970.

Vi a entrevista inteira. Com dificuldade. Primeiro desisti, depois da apresentação bajuladora e dos sorrisos servis de Dines. (Lição número 1 de entrevista: não ria. Não aquiesça com a cabeça a cada resposta. Seja altivo.)

Depois decidi ir adiante, por motivos profissionais.

É, provavelmente, a pior coisa que Dines fez na carreira.

Dines simplesmente ignorou quanto a ditadura alavancou uma empresa que se resumia a um jornalzinho de segunda linha, O Globo, muito inferior ao Jornal do Brasil e ao Correio da Manhã, os grandes diários do Rio de Janeiro nos anos 1960.

A Globo virou grande ao receber, dos generais, uma tevê com a finalidade de apoiar a ditadura.

“Somos os maiores amigos do regime na imprensa”, dizia Roberto Marinho aos poderosos da ditadura quando lhes ia pedir favores e mamatas, conforme está registrado num livro que traz os papeis pessoais de Geisel.

Dines perde também uma chance inestimável de indagar uma coisa de João Roberto quando este se queixa dos “impostos pesados” que recaem sobre as empresas de mídia.

Se são pesados os impostos, como se explica que a família Marinho seja a mais rica do Brasil? Com o dinheiro da geleia de mocotó Colombo, que no passado fez parte dos negócios da família?

Dines serve o tempo todo de escada para João Roberto. Ele ouve, sem retrucar, que o Globo é “pluralista” porque publica articulistas de esquerda.

Pausa para rir.

Faça uma conta. Quantos colunistas conservadores as Organizações Globo têm em suas variadas mídias? Agora conte os colunistas progressitas.

Um para dez?

É a mesma defesa ridícula que a Folha faz de sua “pluralidade”. Para cada dez conservadores, a Folha abria um Saflatle, e isso dá direito a ela de se definir “plural”.

Dines, ao tocar na regulamentação, ouve sorrindo JRM dizer que os Estados Unidos erraram ao não permitir a concentração de mídia.

A entrevista já começa torta. Dines pergunta se a Globo não sente falta de concorrência.

Ora, a Globo é famosa por tentar exterminar de todas as formas a concorrência.

Adolfo Bloch, da Manchete, foi pedir ajuda a Roberto Marinho quando estava perto de quebrar. Depois de uma espera de horas na ante-sala de RM, Bloch foi despedido assim: “Passar bem.”

E quebrou.

Este é o amor à concorrência da Globo. Como você imagina que o Jornal do Brasil foi conduzido à morte depois que a Globo, com a televisão, ficou muito maior?

Agora mesmo, a Globo luta para complicar a vida do Google no Brasil porque é uma ameaça à sua receita publicitária.

Tudo bem, o Google declara o faturamente publicitário em paraísos fiscais, o que é péssimo para o Brasil. Mas e a Globo, que ela tem a dizer no capítulo da sonegação?

Cadê a Darf?

Dines, naturalmente, não fez esta pergunta.

Repito: lembrei o rigor do Globo em relação à “entrevista camarada” de Lula aos blogueiros.

Para o Globo, parece, “entrevista camarada” deve ser mais um monopólio da Globo.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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