Eu acho que já saquei qual a jogada de Joaquim Barbosa, ou melhor, dos graúdos que o manipulam (embora ele me pareça alguém que se deixa manipular com gosto e prazer).
É uma estratégia política e eleitoral, com objetivo de prejudicar o PT.
Barbosa não dá ponto sem nó. Não é a tôa que se tornou o herói da mídia, o justiceiro dos coxinhas psicóticos.
O mensalão sempre entrou na agenda política como um fato negativo a atrapalhar o desempenho eleitoral do PT. Só que agora, na fase da execução penal, Barbosa tem a chance de tensionar a situação a um limite próximo ao desespero, porque estamos lidando mais diretamente com a vida e com a liberdade de pessoas muito admiradas, por sua história, pela militância de esquerda.
Com isso, Barbosa força boa parte do campo da esquerda a adotar uma agenda de comunicação negativa, nervosa, depressiva, necessariamente defensiva, que é a defesa dos direitos humanos dos réus da Ação Penal 470.
Eles conseguem nos manchar com a imagem de “defensores de bandidos”.
Eu vejo isso pelo Cafezinho. Os posts que fazem mais sucesso, de longe, são aqueles que acusam as arbitrariedades de Joaquim Barbosa, do STF e da Procuradoria Geral da República.
Com isso, porém, deixamos de discutir políticas públicas, e abraçamos uma agenda melancólica e complexa demais para aqueles que não estudaram com atenção os desdobramentos da AP 470. A mídia jamais abriu brechas, em seus espaços, para se discutir erros no processo. A AP 470 é totalmente blindada. Ayres Britto, presidente do STF durante a primeira parte do julgamento, assinou prefácio do livro de Merval Pereira sobre o mensalão ainda ocupando a vaga. E quando saiu, foi direto assumir a presidência do Instituto Innovare, da Globo.
O PT tinha que trazer essas informações ao grande público, sob o risco de pisar em todas as minas explosivas montadas pela mídia para detonar o partido.
O mensalão sempre foi uma estratégia eleitoral da mídia e oposição. Em 2014, chegamos a um momento decisivo. Barbosa e mídia tensionam o máximo suas truculências, para gerar movimentos de defesa aos “mensaleiros”, e com isso desqualificar o PT como um partido que se solidariza com “corruptos na cadeia”.
Quando não se debate os erros do processo, quando não se procura esclarecer a sociedade sobre a existência de documentos, e agora até de vídeos, que confirmam os erros do STF e PGR, essa é a impressão que se transmite à sociedade.
A mídia tem agido conforme seus interesses, sem nenhuma vontade de discutir erros, debater ideias, apresentar contrapontos. E Barbosa tem se portado, desde que abraçou as causas da oposição, com um timing político completamente afinado com os interesses dos adversários do PT, ou seja, com os interesses da mídia e seu braço político, o PSDB.
A nota do presidente do PT, Rui Falcão, é bem vinda, mas sem uma discussão democrática dos erros do processo, incorrerá, mais uma vez, na armadilha de ser uma “defesa de bandidos”. Essa discussão tem de ser feita com muita qualidade, com ilustrações, infográficos, análises, dados, documentos, opiniões diversas.
O PT terá que montar um dossiê – um dossiê transparente, simples, objetivo, legal – muito completo sobre os erros da Ação Penal 470, sob o risco de passar toda a sua vida pagando um alto preço político por crimes que não cometeu.
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Nota da Presidência Nacional do PT
“Ao obstruir novamente, de forma irregular e monocrática, o direito de José Dirceu cumprir a pena em regime semiaberto, o ministro Joaquim Barbosa comete uma arbitrariedade, tal como já o fizera ao negar a José Genoíno, portador de doença grave, o direito à prisão domiciliar. Mais ainda: apoiando-se em interpretação obtusa, ameaça fazer regressar ao regime fechado aqueles que já cumprem pena em regime semiaberto, com trabalho certo e atendendo a todas as exigências legais.
O PT protesta publicamente contra este retrocesso e espera que o plenário do STF ponha fim a este comportamento persecutório e faça valer a Justiça”.
Rui Falcão
Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores – PT
11.05.2014
PS Cafezinho: A intenção desse texto não é dizer que o PT deve se calar diante dos arbítrios da Ação Penal 470. Ao contrário. Acho que o PT deve aprimorar suas críticas e entrar sempre na questão do mérito. Decisão judicial se cumpre, mas isso não quer dizer que não deva ser criticada e discutida. Não fosse isso, não haveria o direito da Revisão Criminal. O PT tem de apostar na Revisão Criminal, e construir um discurso neste sentido desde já. O partido tem de pensar no futuro.