O blogueiro e o senador, uma parábola moderna

O senador Aloysio Nunes, num surto de autoritarismo e truculência, cometeu um erro imperdoável: deixou cair a máscara.

A imprensa, por sua vez, cometeu outros erros. O Globo, por exemplo, que tem sido o jornal, na minha opinião, com menos ética e menos caráter dos últimos tempos, diz que Pilha é “o mesmo que agrediu o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, na saída de um restaurante, no mês passado”.

Ops, palavras são perigosas, e um jornal deveria cuidar para que elas fossem precisas. Pilha, junto com várias pessoas, hostilizou verbalmente o ministro. Não é o que fazem todos os dias os blogueiros da Veja? Não hostilizam verbalmente autoridades da república, e ninguém lhe tira o direito de fazê-los? Um colunista da Veja certa feita lançou um livro que agredia o presidente da república no título: “Lula é minha anta”. Todos os aeroportos no país ficaram repletos de cartazes do livro.

A história do rapaz tem as cores de uma parábola antiga. A imprensa o chama de “militante” como se isso o excluísse da raça humana, o que é uma incoerência. O fato do rapaz ter ideias, ter um lado, humaniza-o, torna-o uma pessoa mais confiável, porque sabemos que não se trata de um psicopata solitário. A própria mídia vive tentando desmerecer os partidos e a política dizendo que estes não tem mais ideologias. Pois bem, quando ela encontra um ser humano com ideologia, militante de um partido, ela passa a desqualificá-lo por… suas qualidades.

O fato de alguém ser filiado ou militante do PT não lhe tira nenhum dos direitos humanos básicos. Todo cidadão, militante ou não, filiado ou não a um partido, tem o direito de ser respeitado pelas autoridades, e de ter sua dignidade defendida pelo sistema.

Aloysio Nunes não é também filiado e militante de um partido? Então ele merece ser xingado, agredido e preso por causa disso?

Em suma, o garoto Rodrigo Pilha, militante do PT, tem os mesmos direitos de Aloysio Nunes, militante do PSDB. São dois cidadãos que merecem tratamento igualitário numa democracia. E não foi o que aconteceu. Nunes xingou e tentou agredir fisicamente o rapaz. Nunes é mais velho, é um senador, deveria estar acostumado com perguntas incômodas vindas de repórteres ou blogueiros. O Congresso está infestado deles, muitos dos quais travestidos de humoristas, o que lhes dá liberdade de serem infinitamente sarcásticos e agressivos – embora sempre contra o PT.

É interessante. O PT é o partido no poder, mas não é o partido do sistema. O partido do sistema é o PSDB, e a prova é que os parlamentares tucanos, mesmo em minoria, mesmo derrotados eleitoralmente, continuam agindo como campeões olímpicos que jamais podem ser incomodados.

A postura de Nunes revelou a face autoritária do PSDB. Quer dizer que é assim que ele trata alguém que lhe pergunta sobre um escândalo no qual seu nome está envolvido? Que repórter, que blogueiro, irá se arriscar a ser xingado tão violentamente, a ser perseguido, a ser preso, apenas por fazer uma pergunta incômoda?

Além disso, Pilha tem de lutar, não apenas contra a violência do senador, mas também contra o desrespeito da polícia do senado, que tentou violar suas contas pessoais e seu instrumento de trabalho. Pior, um vídeo não publicado, gravado em seu celular, foi parar horas depois em poder de um repórter da Veja! Por aí a gente vê a promiscuidade que existe entre a grande imprensa e setores institucionais.

Quando lembramos da truculência de José Serra, que agride até mesmo jornalistas do seu próprio campo político, entendemos que estamos diante de pessoas que incorporaram o espírito da Casa Grande, da violência enquanto modo de fazer política. Se eles fazem isso abertamente, em público, imagine-se o que fazem quando sabem que não estão sendo vistos?

No vídeo abaixo, Rodrigo Pilha desmente matéria da Folha que tenta justificar a detenção do blogueiro, alegando que ele jogou uma garrafinha de água na direção do senador. Mentira. Pilha deixou a garrafa cair no chão. Tudo isso enquanto o senador o perseguia furiosamente, qual uma besta fera hidrófoba, atiçando a polícia do senado como outrora um senhor de engenho atiçava seus cães para estraçalhar escravos arredios.

Pilha também revela a tentativa, por parte da polícia do senado, de violar suas contas pessoais de email e redes sociais, além de repassar vídeos e fotos para a Veja.

O blogueiro revela o truque que usou para publicar o vídeo. Ele já tinha sido detido pela polícia, que pediu para ele apagá-lo. Pilha respondeu que já o tinha publicado. Era um blefe. Com isso, ganhou alguns minutos para efetivamente publicá-lo. Caso não tivesse conseguido publicar, Pilha estaria em maus lençóis, porque a grande imprensa poderia mentir como se não houvesse amanhã. Poderia pintar e bordar, e usar somente na versão do senador. Com o vídeo publicado, as mentiras perderam credibilidade. Qualquer um pode ver que o senador iniciou as agressões. Este é o homem cotado para ser vice de Aécio Neves…

*

Recado e vídeo que recebi do blog Botando Pilha esta manhã:

“Olá! Então, como a Falha publicou essa mentira aqui: http://linkis.com/folha.uol.com.br/fTzA0
e o globo essa:http://oglobo.globo.com/pais/ex-assessor-de-deputada-petista-preso-no-senado-por-insultar-aloysio-nunes-12403718

Fiz e envio p vcs vídeo resposta às matérias da Falha de SP e da Globo!
Agradecido!

Botando Pilha

Vídeo Resposta à Falha de SP!
Garrafinha d’água é nova bolinha de papel dos Tucanos!”

PS Cafezinho: aqui neste link, você vê o episódio filmado pelo vídeo interno das câmaras do senado.