Em jantar-entrevista com jornalistas mulheres, Dilma foi taxativa em relação a eventuais aumentos de impostos.
“Não vai ter aumento de imposto. Passamos três anos reduzindo impostos. Ele (Mantega) estava falando em tese. Não tem nada em perspectiva. Nâo sei em que contexto ele falou”.
Eis o contexto, presidenta. Capa do caderno de economia do Globo, o que significa milhares de links país a fora.
Isso não tem perdão. O governo vive sob ataque diário da imprensa, com informações distorcidas e mentiras. O Ministério jamais se deu ao trabalho de fazer um contraponto. Não. Ao contrário, quando o ministro resolve dar entrevista, ele vai ao Globo e diz exatamente aquilo que o Globo quer ouvir, sobretudo naquela edição, repleta de “escândalos em série”.
Guido Mantega forneceu o elemento químico que faltava para a receita do linchamento político. O homer simpson vai lendo o jornal, só com escândalos de corrupção do governo do PT, aí ele chega à seção de economia com espírito irritadiço e cansado, e se depara com uma foto do ministro dizendo que pretende aumentar os impostos! O governo do PT passa o tempo inteiro roubando o povo, pensará ele, e ainda quer aumentar os impostos?
A resposta da presidente não foi para a manchete de nenhum caderno de economia. O prejuízo político não foi compensado.
Aliás, o próprio Guido Mantega até o momento não veio a público negar que haverá aumento de impostos. Parece que ele gostou da entrevista…
No site do ministério, encontro uma explicação para o tal “aumento de tributos” de Guido Mantega. Ele se referia aos impostos sobre bebidas frias, como cerveja e refrigerante.
A nota no site foi publicada no dia 29 de abril; antes, portanto, da entrevista do ministro. Ou seja, ele tinha os dados exatos e poderia fornecê-los na entrevista. Segundo o secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, o aumento médios de tributos sobre bebidas frias será de 2,5%. O impacto no preço de uma coca-cola será de 1 centavo! Isso mesmo, um centavo! Na cerveja, o impacto será de 12 centavos! Esse impacto é apenas estimado. Em função de se tratar de valores tão irrisórios, pode ser que o preço não mude para o consumidor.
Não é nem o caso, portanto, de falar de aumento de imposto, e sim apenas em atualização de um tributo que se mantinha estagnado há dois anos.
Felicito a presidenta pela entrevista com as jornalistas. É sempre um alívio ver o chefe de Estado se comunicando, defendendo seu governo e seu país. Só faço uma ressalva: essas entrevistas tem de ser gravadas, em vídeo, com uma câmara do próprio governo, e publicadas em seguida no blog do Planalto, para evitar o risco de deturpação das palavras da presidenta.
Quanto aos ministérios, em especial o da Fazenda, deveriam investir em seus próprios portais. A última notícia no portal do Ministério da Fazenda é de 30 de abril. Já estamos no dia 8 de maio. Não é possível que uma estrutura do tamanho da que possui o ministério não tenha alguém para fazer uma atualização diária do site. Ao invés de ficar dando entrevista para a Globo, Guido Mantega poderia cuidar para manter atualizado o portal do ministério, através do qual pode falar diretamente à população, sem intermédio de uma imprensa partidária e traiçoeira.
Todos os ministros e gestores de Dilma deveriam fazer cursos de “media training”, para evitar pronunciarem frases que se tornem manchetes negativas no dia seguinte. É o caso do “há previsão de aumento de tributos” de Guido Mantega, e o “mau negócio” de Graça Foster.
O governo federal tem um portal que, supostamente, serviria para centralizar notícias relacionadas aos ministérios, à presidência e estatais. No entanto, tem sido mal utilizado.
A última notícia de hoje, por exemplo, é sobre o resultado do jogo entre São Paulo e Vasco.
Não entendo o que uma notícia dessas tem a ver com o governo federal. De maneira geral, a pauta das notícias é péssima. Não há nenhuma preocupação em atrair o cidadão comum. Título de um post de hoje: “Anatel divulga datas sobre processo de etiquetagem de equipamentos para Copa”. Realmente, muito excitante!
Para piorar, ao acessar o portal, levamos um susto: uma voz de alguém começa a falar. É o supra-sumo da cafonice eletrônica: som ou vozes ligando automaticamente quando se entra num site.
De forma geral, as notícias tem aquele ranço de newsletter corporativa, daquelas que mofam sobre as mesas, sem que ninguém as leia. Quase não há infográficos, vídeos, ilustrações. Não há espaço para interação com internautas. Eu queria saber: é proibido ao governo contratar um ilustrador para embelezar um pouco as matérias? Um ilustrador às vezes é tão importante quando um redator. É proibido contratar editores de vídeo, de infográficos?
Deve ser muito tranquilo trabalhar num portal assim, apenas copiando e colando notícias de outros sites de governo.
O governo está subutilizando vergonhosamente seus próprios canais de comunicação. E aí, sem atração, sem planejamento estético ou editorial, eles se tornam cada vez menos acessados, e o próprio governo vai abandonando a si mesmo. Comunicação, mais ainda que o poder, abomina o vácuo. A mídia o preenche.
Isso é que se chama desgaste natural de um governo. Os servidores vão ficando preguiçosos. Os ministros, relapsos. É o caminho para a derrota. Aí, faltando algumas semanas para as eleições, o governo entra num ritmo frenético, a militância precisa se mobilizar num ritmo quase desesperador, para compensar anos de indolência política e comunicativa.
Essa inapetência do governo para a comunicação traz, além disso, reflexos negativos para a economia. De nada adianta injetar bilhões de reais na economia, se há um clima de pessimismo baseado em informações deturpadas. Os empresários ficam confusos diante do bombardeio midiático, que pinta o Brasil sempre a beira do caos, e seguram investimentos.
Entretanto, volto a afirmar que Dilma só perderá as eleições se quiser. Diferentemente da oposição, ela tem a caneta mágica. Só ela pode, efetivamente, tomar decisões que podem transformar a imagem de seu governo. O mau humor do brasileiro poderia ser revertido rapidamente, se houver um choque de criatividade e ousadia.
Dilma deveria lançar, urgentemente, um PAC da Comunicação, um programa de ações voltado apenas para dar um choque na comunicação pública. Além de renovar os portais, centralizar comandos, unificar padrões visuais, o governo poderia lançar aplicativos de informação que permitissem, por exemplo, exportadores terem acesso imediato a dados da balança comercial, a cidadãos comuns terem acesso a informações estratégicas de governo, a viajantes saberem o estado de cada aeroporto, rodoviária e portos, etc. Podia-se criar um curso obrigatório voltado especificamente para agentes de governo, para que eles mesmos fossem informados do que acontece hoje no país, do que há de bom e o que há de ruim, e trabalhassem a divulgação desses dados pela internet.
Ah, seria chamado de “eleitoral”. Ora, qualquer iniciativa boa do governo será acusada de eleitoral. Se formos pensar assim, então não façamos mais nada! Além disso, um PAC da Comunicação não teria missão de mostrar apenas as coisas boas, mas também as coisas ruins! O governo poderia, por exemplo, disponibilizar vídeos das câmeras dos atendimentos em hospitais e postos de saúde, para todo brasileiro poder acompanhar e denunciar abusos.
Um PAC da Comunicação, que também deveria trazer vastos programas de universalização da banda larga, poderia dar um choque profundo no imaginário nacional, que passaria a conhecer melhor o seu próprio país!
O governo poderia, no bojo desse PAC, lançar um programa de editais para a blogosfera, de maneira a silenciar, de uma vez por todas, as calúnias da direita midiática. Todos os blogs, de esquerda, centro, direita e neutros, seriam contemplados, com recursos de acordo com a sua visitação. Esses anúncios seriam importantes para levar visitação aos novos portais públicos, já que não teria sentido fazer esse projeto e anunciá-lo na grande mídia.
Enfim, o governo precisa entender que comunicação não é brincadeira. Nos dias de hoje, ela se tornou um coração a bombear sangue e recursos nas artérias da economia.