Hoje, no Observatório da Imprensa, vejo a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmen Lúcia, participando de um convescote com jornalistas do Globo e o publisher da Abril, e dizendo platitudes sobre a liberdade de imprensa.
É incrível como esses ministros gostam de posar ao lado da mídia. Pois bem, Carmen Lucia disse, durante sua palestra, que “não haveria eleição sem imprensa”.
Excelentíssima ministra! Eu concordo que a imprensa livre é indispensável à democracia. Só que a imprensa brasileira nunca foi democrática! Ao contrário, historicamente, sempre trabalhou contra a democracia, e até hoje, com suas campanhas de criminalização da política, continua sendo uma força anti-democrática.
Aproveito a oportunidade para divulgar um discurso do deputado Garotinho, que fez uma denúncia gravíssima contra o papel da imprensa na ditadura. Roberto Marinho e outros barões de mídia não apenas apoiaram o golpe de 64, eles conspiraram para que jamais houvesse eleições em 1965. Segue o vídeo e o texto da assessoria do deputado:
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Garotinho relembra papel de Roberto Marinho na manutenção da ditadura
O deputado federal e ex-governador Anthony Garotinho (PR-RJ) usou a tribuna da Câmara para ressaltar a ligação do fundador das Organizações Globo, jornalista Roberto Marinho, morto em 2003, com a ditadura militar – implantada no país após o golpe de 1964.
Em discurso de seis minutos, de posse de um documento oficial norte-americano de caráter confidencial, Garotinho leu trechos que revelam a intimidade de Roberto Marinho com o embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon. Trata-se de um telegrama de 14 de agosto de 1965 que Gordon enviara ao Departamento de Estado dos EUA, logo após encontro com Roberto Marinho.
Garotinho explicou que trazer luz a esse passado é importante “no momento em que estamos debatendo a questão do direito de resposta”. Segundo o parlamentar do PR do Rio, o documento, tornado público, “mostra bem o papel da imprensa num momento difícil da vida brasileira”.
Em um dos trechos, Lincoln Gordon diz o seguinte: “Roberto Marinho está convencido de que a manutenção de Castelo Branco como presidente é indispensável para a continuidade das políticas governamentais presentes e para evitar uma crise política desastrosa. Em outro, o embaixador relata ao Departamento de Estado dos EUA: “Ele (Roberto Marinho) tem trabalhado silenciosamente com o grupo, incluindo o general Ernesto Geisel, chefe da Casa Militar; o general Golbery, chefe do Serviço de Informações; Luís Viana (Filho), chefe da Casa Civil; Paulo Sarasate, um dos mais íntimos amigos do presidente Castelo Branco”.
O documento mostra também Roberto Marinho se posicionando contra eleições diretas para presidente. Segue o relato do embaixador Gordon: “No dia 31 de julho, Roberto Marinho teve um segundo almoço reservado com o presidente em que insistiu que eleições diretas, em 1966, sem ter Castelo como candidato, poderiam trazer sérios riscos de retrocesso ao Brasil”.
O embaixador diz ainda que “nessas bases, o grupo planejou uma estratégia para transformar a eleição presidencial de 1966 em eleição indireta e viabilizar a reeleição de Castelo Branco”.
No final do telegrama a que teve acesso o deputado Garotinho o embaixador comenta o seguinte: “As colunas de fofoca política estão cheias de especulações sobre mudanças do regime. Eu considero as informações de Roberto Marinho muito mais confiáveis”.
E Garotinho concluiu da tribuna da Câmara Federal: “Realmente ele (o embaixador americano) estava certo. Vivemos muitos anos sob ditadura porque homens da imprensa sob o manto da liberdade de imprensa faziam negócios com o poder”.