Confesso a vocês que passei o final de semana me preparando para escrever um post otimista. Achei que estava pegando muito pesado com o governo Dilma.
Por outro lado, ao mesmo tempo em que batia pesado na presidenta, em Graça Foster, em Mercadante, pude verificar o espírito democrático do Partido dos Trabalhadores, tanto aquele da militância histórica quanto o de seus eleitores. O PT gosta de ser criticado. A gente percebe que às vezes os posts mais críticos ao governo e ao PT são os que fazem mais sucesso entre leitores petistas e simpatizantes. Desde que, naturalmente, sejam críticas francas e honestas.
Essa é uma força do PT, que permite ao partido aprender com seus erros e se aprimorar.
Essa aceitação da crítica é uma força. Explica em boa parte a razão de Lula ser o presidente mais criticado, mais achincalhado, da nossa história e ao mesmo tempo ser o mais amado e o mais popular. Isso também diferencia o PT de agremiações ideologicamente afins em outros países latinos.
Já analisei, alhures, como a proteção da mídia desvirilizou e debilitou o PSDB. Seus quadros atrofiaram-se intelectualmente, em virtude de um conforto excessivo proporcionado pela mídia. Enquanto isso, o PT, mesmo no poder federal, continua apanhando tanto que não teve a oportunidade de relaxar seus músculos.
Isso explica, por fim, a dificuldade do partido em discutir uma lei que regulamente a mídia. Setores importantes da legenda não querem se associar a nenhuma medida que possa ser comparada, mesmo que apenas simbolicamente, a uma censura da crítica. Esse parece ser o receio principal, por exemplo, da própria Dilma.
O maior obstáculo para levar adiante uma regulamentação democrática dos meios de comunicação, portanto, é convencer os próprios quadros dirigentes do PT, sobretudo aqueles no governo, de que esta não tem como intenção silenciar a crítica.
Ao contrário, o que se pretende é democratizar a crítica. Dar a mais atores sociais o direito de criticar o governo. A blogosfera, os movimentos sociais, os ativistas digitais, querem mais espaço para criticar o governo e serem ouvidos. Para isso, precisamos quebrar os monopólios e oligopólios. As concessões de TV e rádio estão em poder de um número absurdamente pequeno de famílias. Que rádios, que TVs, criticam a família Sarney no Maranhão? Que rádio, que Tvs criticam os tucanos em São Paulo?
O governo federal, por ser controlado por um partido identificado como de esquerda, num ambiente midiático dominado por famílias profundamente conservadoras, tem sido criticado diariamente, mas sempre pela direita. Os movimentos sociais e ativistas digitais criticam o governo pela esquerda. É um embate desproporcional, desde que a direita tem concessões de TV outorgadas na ditadura, e construíram impérios financeiros com o dinheiro e a proteção política da ditadura.
No fundo, portanto, se trata de quem tem, verdadeiramente, o poder de criticar o governo.
Além do mais, o principal objetivo de uma mídia mais democrática não é ampliar a voz do governo, e sim a voz da sociedade. A democratização da mídia aumenta o número de vozes e amplia a percepção auditiva das autoridades, permitindo um aprimoramento da gestão do Estado.
Voltando ao início do post, eu contava sobre minha intenção de iniciar a semana com uma mensagem de otimismo. Não quero fazer um blog político que contribua para o aumento no consumo de antidepressivos. Já basta a pauleira da mídia e sua violência diária contra a esperança, contra a nossa autoestima, contra qualquer forma de otimismo, mesmo o mais inocente.
Então acordei na segunda-feira e decidi não ler os jornais ou portais de notícias. Fui ler um livro, para me inspirar antes de atualizar o blog. Só que, quando resolvi me sentar à mesa para escrever, topei com as manchetes dos jornais e tudo foi por água abaixo. Lá veio mais um post duro, crítico e pessimista.
Entretanto, não dá para tampar o sol com a peneira. O clima político não está bom, e o governo não tem ajudado a quebrar essa campanha sistemática por um “país pior”. O apagão político e comunicativo é uma realidade triste e presente.
Hoje saiu a última pesquisa CNT/MDA (ver íntegra aqui), que comprova isso. A aprovação de Dilma caiu ao menor nível de sua gestão. Está abaixo inclusive do pior momento do ano passado, quando o país foi tomado por uma onda de criticismo, após as chamadas “jornadas de junho”.
A oposição, pela primeira vez, dá sinais de vida. Os votos somados de Aécio Neves e Campos (34%) já estão encostando em Dilma (37%).
Minha análise “de botequim”, que fiz há alguns dias, está se confirmando. Teremos uma eleição bastante difícil pela frente. Mais uma vez, será PT versus Mídia. E a mídia tem muito mais dinheiro e “tempo de TV” do que o PT.
Todos os índices pioraram. Até mesmo a aprovação dos Mais Médicos caiu, de 84% para 75% da população.
Os números que tratam da refinaria de Pasadena revelam que o governo sofreu uma derrota política acachapante. As declarações de Dilma, tentando fugir à sua responsabilidade, não convenceram os que acompanham o tema. Para 66% dos entrevistados que já ouviram falar de Pasadena, Dilma é responsável.
E o pior é que Dilma parece insistir na estratégia contraproducente, quase suicida. A presidente afirmou hoje que “a Petrobrás não pode pagar pelo erro de um só”. Ora, o que significa isso? Mais um tiro no pé!
A presidente tem de reagir à crise trazendo informações novas. Tem de falar sobre as estratégias de longo prazo da Petrobrás, aquelas mesmas que levaram a estatal a adquirir refinarias no exterior, nos EUA e no Japão. Dilma tem de encontrar um discurso geopolítico e estratégico para falar de Pasadena. É a única maneria de reverter o tema a seu favor.
Pasadena está dando lucro? Se está, porque Dilma não vai lá no Texas e fecha acordos que ajudem a Petrobrás a transformar Pasadena num negócio ainda mais vantajoso?
Sei lá, alguma coisa precisa ser feita em prol de Pasadena. Algum gesto amigável. Dilma só tem dado cacetada em Pasadena, sendo que esta é uma refinaria nossa, que pertence à Petrobrás, e que ela mesma ajudou a comprar.
Dilma não percebe que a história de “resumo falho” não cola?
Não estou preocupado com a eleição de Dilma Rousseff e sim com a continuidade de um projeto de cunho popular e progressista, que vem sendo implantado no país desde a ascenção de Lula. Este projeto está em risco por causa desse maldito apagão político e comunicativo do governo. O núcleo político de Dilma deveria entender que agora nem adianta mais mostrar a presidenta na TV, pontificando do alto de um pedestal. A imagem de Dilma está pesada, ruim, arrogante.
Ela tem que descer do palanque, vir ao chão, participar dos debates, opinar sobre política, defender seus projetos! Por que não usa a EBC? Por que não usa o blog? Por que não faz hang outs semanais?
O importante é criar canais de interação e fazer a disputa política. O Brasil precisa conversar com Dilma e com a equipe de governo. Por que o Café com a Presidenta não é em vídeo e com a participação de interlocutores variados?
O governo precisa vir a campo e assumir um mínimo de protagonismo no debate político.
A única presença de Dilma nas redes hoje é tentando surfar oportunisticamente em algum meme midiático. Tipo: “Dilma é contra racismo e apoia iniciativa de Daniel Alves”. Ela, por si, não protagoniza nada. Não toma nenhuma iniciativa inovadora. Apenas inaugura obras onde faz discursos que se iniciam com frases terrivelmente convencionais: “queria agradecer o governador, queria agradecer a mulher do governador”…
A maioria dos brasileiros quer mudanças. Quer, por exemplo, um governo que ajude a população a se defender de uma mídia oligopólica e conservadora. Coisa que não está acontecendo. A mídia brasileira oprime a economia, a política e a cultura, com ajuda e chancela do governo! As informações não estão circulando de maneira saudável. Há um pessimismo no ar que não corresponde à realidade econômica do país.
Dilma tem de criar fatos políticos. Um amigo cientista político me disse outro dia, que se Lula fizesse mais umas quatro entrevistas com blogueiros, ajudava a mudar o clima. Não vou falar que Dilma deveria fazer igual porque pareceria legislar em causa própria, mas ela poderia fazer algo similar. Podia dar sua opinião sobre a judicialização da política, sobre o mensalão, sobre a reforma urbana, sobre a desocupação da favela da OI, sobre o trem bala, sobre Pasadena. Mas falar com franqueza, com tranquilidade, sem pose de discurso presidencial, explicando aos brasileiros quem são nossos adversários. Claro que isso implicaria em se preparar antes, discutir estratégias com ministros, com Lula, com assessores, para não disparar mais tiros no pé.
Enfim, alguma coisa precisa ser feita. Será lamentável ver a direita voltar ao poder. Se isso acontecer, quem perderá serão os mais pobres, naturalmente. A classe média também sofrerá. Afinal, quem vocês acham que serão as vítimas das “medidas impopulares” a serem tomadas pelo PSDB? A Globo? Os banqueiros?
Eu, como blogueiro político, continuarei meu trabalho tranquilamente. Se vierem tempos sombrios, estarei preparado para enfrentá-los.
Na verdade, será até positivo para a imagem do blog, que doravante ganhará o charme de ser “de oposição”.
No entanto, não é isso que eu desejo para meu país. Acho que a vitória do campo progressista popular, nas eleições deste ano, tem reflexos geopolíticos importantes demais para pensarmos apenas nos erros e acertos do PT. Aécio Neves irá minar o Mercosul, aliar-se aos EUA nos debates da ONU, e enterrar qualquer possibilidade de discutirmos uma reforma democrática da mídia. Isso para não falar na revisão da lei da partilha do pré-sal e em outras centenas de retrocessos que podem acontecer no caso de uma vitória do campo conservador.
Talvez o tempo de ser otimista já tenha passado. A hora é de adotar a máxima gramsciana de sermos pessimistas nas análises, realistas nas ações e otimistas quanto ao futuro. Afinal, em se tratando de luta de ideias, não importa se as perspectivas eleitorais de Dilma são boas ou ruins. O que importa é não esmorecer. O que importa é jamais esquecer que não se trata, apenas, de defender o governo Dilma ou o PT, e sim lutar para que o Brasil não venha a cair em mãos da Globo e seus afilhados políticos.