Jornais, âncoras, coxinhas, reaças, todos acordaram hoje em festa com o desempenho catastrófico de Graça Foster.
Vários leitores tentam jogar a culpa na imprensa, dizendo que ela pinçou uma frase e a descontextualizou. Ora, não sou um blogueiro exatamente simpático à nossa grande mídia. Bater na mídia é o esporte favorito do Cafezinho. Só que não é o caso agora.
Graça Foster foi bem explícita. Ela tirou um revólver do bolso, calmamente. Apontou-o para sua cabeça, diante de todo o país. E ainda falou: “gente, reparem bem o que vou fazer, vou atirar em mim mesma e no governo, ok?” E atirou.
A frase dela sobre Pasadena foi a seguinte:
“Traduzindo: ele não foi um bom negócio. Não foi, definitivamente, um bom negócio. (…) Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio. Não há como reconhecer na presente data que se tenha feito um bom negócio, isso é inquestionável do ponto de vista contábil”.
Ponto.
Ela jogou lenha na fogueira. Disse exatamente o que a oposição e a mídia conservadora queriam ouvir.
Analisar a compra de uma refinaria como Pasadena, a primeira refinaria que a Petrobrás adquire nos Estados Unidos, com um ponto de vista estritamente “contábil” me parece um crime contra a soberania energética nacional.
Sobre Pasadena, a única informação nova dada por Foster foi de que a Astra teria pago, no mínimo, US$ 360 milhões. Ótimo, se somarmos a isso os estoques e as dívidas incorporadas pela Astra, chegamos a quase US$ 500 milhões pagos pela Astra, confirmando as informações que eu já vinha fazendo aqui.
Entretanto, se Graça Foster sabia disso, porque, meu Deus, não publicou essa informação antes no blog da Petrobrás? Por que deixou a Petrobrás ser achincalhada semanas a fio? E por que não publicou documentos relativos a este valor, que aliás falta ser melhor detalhado.
Vale uma recapitulação: fazia parte do planejamento estratégico da Petrobrás, ao menos desde 1999, comprar uma refinaria já pronta nos Estados Unidos.
Até mesmo Adriano Pires, o queridinho da mídia no tema petróleo, defendeu entusiasticamente, em seu blog no Globo, a decisão da Petrobrás de adquirir a refinaria de Pasadena:
“A estratégia de comprar refinarias fora do Brasil é a mais adequada para a Petrobras. Pois ao invés de exportar petróleo bruto, a empresa passará a produzir derivados no exterior com o seu petróleo, agregando maior valor e aumentando as receitas em moeda forte. Nesse sentido, a compra de metade da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos foi um excelente investimento, pois além de todos os benefícios citados, essa refinaria está localizada no maior mercado consumidor mundial.”
Apesar de todos os reparos que eu tenho contra Pires, o seu comentário é lógico. Pasadena está localizada no maior mercado consumidor mundial. É como adquirir uma bar em frente a uma universidade. Faturamento garantido.
O plano da Petrobrás, antes do pré-sal, era processar, em Pasadena, o petróleo pesado produzido em nossas jazidas tradicionais. Em seguida veio o pré-sal, e os planos mudaram. Ora, mas ainda temos déficit de refinaria, e se as circunstâncias mudaram, então mudemos as perspectivas! Os EUA também descobriram petróleo de xisto, ali nas proximidades de Pasadena, sendo este o fator que melhorou sensivelmente as margens de lucros das refinarias americanas.
Apenas nos três primeiros meses deste ano, o Brasil importou US$ 10,4 bilhões em petróleo e derivados. Isso correspondeu a quase 20% das nossas importações totais e foi, de longe, o item que mais contribuiu para o declínio do nosso saldo comercial.
Ou seja, o Brasil depende de importação de petróleo e derivados, em especial de derivados. Essa dependência será reduzida nos próximos anos, por causa da entrada em produção de novos campos do pré-sal; há refinarias em processo de construção; mas tudo isso deve demorar ainda alguns anos e mesmo assim o fundamento do conceito de segurança energética é justamente possuir fontes variadas.
Neste cenário, não entendo a postura de Graça Foster, ou mesmo da presidenta, em relação à Pasadena. Todas as informações que nos chegam são de que se trata de uma refinaria que dá lucro, e que vem operando normalmente, bem perto do limite de sua capacidade máxima. A nota de Pasadena na escala Nelson é bem maior do que a de qualquer refinaria no Brasil.
É surreal. Os tucanos afundam a maior plataforma da Petrobrás, maior do mundo, aliás, dando um prejuízo incalculável ao país, pois interrompeu um grande fluxo de produção. Isso é tranquilo. Aí a Petrobrás compra uma refinaria nos EUA, aumentando a sua capacidade de processamento no exterior em mais de 100 mil barris por dia, e isso é um escândalo.
Tem gente que esquece que o objetivo da Petrobrás não é produzir bons números “contábeis”. É garantir o abastecimento de petróleo e derivados para a economia brasileira. Qualquer ação no sentido de aumentar a produção de petróleo e a oferta de gasolina é mais do que positiva, é cumprir o objetivo para o qual a Petrobrás foi criada.
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A comunicação falha do governo já não é uma questão apenas política, muito menos eleitoral. Começa a afetar a economia brasileira. Em sua coluna de ontem, o próprio Delfim Neto, em sua coluna de ontem no Valor, diz que a “desconfiança recíproca entre o setor privado empresarial e o poder incumbente (…) gestou um pessimismo exagerado, que tem produzido um crescimento do PIB da ordem de 2% ao ano no último triênio e que, provavelmente, vai se repetir em 2014”. A razão disso, segundo Delfim, seria a “falta de uma comunicação inteligente”.
Gilberto Carvalho, titular da Secretaria-Geral da Presidência da República, admitiu, dias atrás, que o governo falhou na comunicação dos feitos da Copa. E agora o governo fará, às pressas, um trabalho para melhorar a imagem do evento junto à população. Só agora?
O pior é que não é falta de verba. Matéria na Folha de hoje, assinada por Fernando Rodrigues, mostra que os gastos publicitários do governo bateram recorde em 2013. E o que vemos? Que jornais e revistas, que ninguém mais lê, obtiveram mais que o dobro que a internet!
Até o item “mídia no exterior” teve mais verba que internet!
Repare bem no gráfico acima: em 2013, jornais receberam R$ 162,4 milhões, revistas R$ 146,8 milhões, mídia exterior, R$ 167,7 milhões. Na lanterninha, a internet, que recebeu R$ 139 milhões.
Para piorar, grande parte da verba da internet vai para as mesmas empresas donas de jornais e TV. A reportagem da Folha tenta jogar o veneno de sempre, ao dizer que “apurou” que estatais “irrigaram muitos veículos simpáticos ao governo com verbas de publicidade federal nos últimos anos”. Mentira. Os jornais mais à esquerda, como Hora do Povo, Correio do Brasil, Caros Amigos, Carta Capital, Forum, Brasil de Fato, foram deixados à míngua pelas estatais federais. Vários fecharam ou tiveram que demitir seus funcionários. Houve um processo de reconcentração de verbas, por parte da Secom controlada por Helena Chagas.
Outro veneno da Folha é dizer que o governo “não divulga os dados de publicidade”. Ora, se os jornalistas da Folha não conseguem entender o portal da Secom, então deveriam ao menos ler o Cafezinho. Eu já entrei lá, compilei e organizei os dados de publicidade, por veículo de mídia, até 2012. Não fiz 2013 ainda porque não tive tempo. Está tudo lá, a Folha é que é incompetente.
A tabela mostra que 72% da publicidade do governo na internet vai para os grandalhões da mídia corporativa, aí incluindo, por incrível que pareça, até mesmo a Fox, que ficou em sexto lugar na lista dos sites que mais receberam recursos federais em 2012. O governo deu mais dinheiro, em 2012, para o site da Fox do que para qualquer blog ou site brasileiro! Não seria mais legal investir esse dinheiro num site, mesmo privado, voltado à saúde pública? À pesquisa científica? À educação?
A Fox é “veículo simpático” ao governo?
Repare que o UOL, que pertence ao mesmo grupo que controla a Folha, tem sido, de longe, o portal que mais recebe recursos federais. Ou seja, a Folha recebe dinheiro do governo para caluniar e agredir os blogs e sites “simpáticos ao governo”!
Entretanto, os estrategistas de governo, como fica bem claro no depoimento de Graça Foster, acreditam na grande mídia como quem acreditava em Jim Jones. Estão dispostos até mesmo a cometerem um suicídio político coletivo, mas permanecerão até o fim rezando pela cartilha de seus próprios adversários. Isso tudo para quê, para receber uns cafunés na coluna do Ancelmo Goes?
O governo compra a lógica da mídia e criminaliza seus próprios aliados. Veículos “simpáticos ao governo” se tornam leprosos que não podem receber recursos. É uma esquizofrenia total, porque a grande mídia sempre foi “simpática” aos governos, desde que os governos fossem de direita ou comandado por generais. E os governos estaduais ainda dão à grande mídia milhões em publicidade e assinatura, sem que ninguém diga que isso é feio por se tratarem de “veículos simpáticos” aos mesmos governos.
Por acaso o governo de São Paulo ajuda a Carta Capital? Dá para Caros Amigos? Não, ele dá milhões para Abril, Folha e Estadão. Não está nem aí se alguém vai dizer que ele só dá verba para “veículos simpáticos”.
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E já que estamos falando em mentiras e veneno, a jornalista Rosângela Bittar, fala o seguinte, em sua coluna de hoje, no Valor, que pertence ao Globo e à Folha:
“O tom da entrevista, em que a novidade foi ter associado pela primeira vez o projeto antes eufemisticamente chamado de “regulação da mídia” a medidas de controle de conteúdo, ou seja, censura, teria tido o objetivo de dizer-se vivo, atuante, no comando da campanha e em posição de influir em mudanças no governo, para provar que ainda decide.”
Discretamente, “en passant”, a jornalista diz uma grossa mentira sobre Lula e sobre a entrevista. Ninguém, jamais, falou em “controle de conteúdo” na entrevista, nem em lugar nenhum. Quanto mais em censura! Trata-se de uma calúnia que visa bombardear qualquer iniciativa de regulação democrática da mídia, primeiramente regulamentando o que já está na Constituição. A democratização da mídia visa abolir a censura econômica que se sucedeu à censura política da ditadura. Busca aumentar a quantidade dos produtores de informação e cultura. Tem um viés modernizante e democrático, equalizando o país ao resto do mundo ocidental, onde a mídia é sempre regulada. Isso contribuirá decisivamente para melhorar a produtividade brasileira. Aliás, a nossa mídia faz sempre questão de acentuar nossos problemas e misérias, nossa baixa produtividade, a má qualidade da nossa representação política, mas esconde que, na raiz desses problemas, está ela própria, uma mídia oligopolizada, antipopular, fraudulenta, historicamente golpista, reacionária.
Em entrevista ao mesmo Valor, e por coincidência na mesma página, o publicitário Marcos Vasconcelos, marqueteiro de Aécio Neves, responde o seguinte a uma pergunta da repórter sobre o “conservadorismo” de Aécio Neves:
“Acho meio antigo esse negócio de direita e esquerda. E para mim, não tem nada mais de direita do que tentar censurar a imprensa. E essa ideia não foi do DEM. Foi uma ideia do PT.”
Eu queria terminar esse post chamando a esquerda brasileira no poder de burra e medrosa. Mas aí eu lembrei de outro trecho da entrevista do mesmo Vasconcelos, onde ele fala do pensamento econômico de Aécio Neves:
“Se você não parar de comprar, se você não puxar o freio de mão pode piorar”.
Meu Deus, o cara acha que a solução para o capitalismo brasileiro é fazer o cidadão “parar de comprar”. O pensamento neoliberal é simplesmente espantoso. Pagar juros pode. Pagar impostos, deve. Comprar uma geladeira, não pode.
Por essas e outras é que eu ainda prefiro a minha esquerdinha medrosa e burra, mas humanista, democrática e preocupada com o bem estar dos mais pobres, do que essa direita truculenta, antipopular, insensível, golpista.