Agora está provado: Graça Foster é “mau negócio”

Graça Foster pode ser uma técnica brilhante, mas receio que seja uma incompetente quando se trata de visão estratégica. Segurança energética não é apenas “valor contábil”. Os EUA não torram trilhões de dólares invadindo outros países para garantir petróleo e gasolina para suas indústrias e seus automóveis? Quando fazem isso, eles pensam em “valor contábil”?

Foster afirma que Pasadena é um “mau negócio” do ponto-de-vista contábil. Ora, como é possível que ela venha a público dizer isso sem oferecer um mísero número sobre a produção da refinaria, seus lucros, seus estoques? Que não diga uma palavra sobre seu valor estratégico?

Eu fico imaginando os funcionários de Pasadena lendo as manchetes dos jornais brasileiros, estampando frases da própria presidente da empresa falando mal de um de seus principais ativos no exterior.

A Petrobrás tem uma subsidiária nos Estados Unidos. É a Petrobrás USA. O que ela faz?

Mau negócio, para a Petrobrás, é sustentar, nos EUA, um montão de burocratas inúteis. Aposto que somente com o salário deles, daria para comprar uma Pasadena por ano.  E o pior é que eles devem ser contra Pasadena, que os obrigaria a trabalhar de verdade. Preferem trabalhar em papeis na bolsa de Nova York…

E Pasadena, que processa 100 mil barris por dia e se situa no meio do maior “hub” petrolífero do maior mercado de gasolina do mundo, é que é o “mau negócio”.

Como pode ser mau negócio, para o Brasil, que tem um déficit enorme de gasolina e derivados de petróleo, a ponto de hoje estes serem os itens que mais pesam em nossa balança, possuir uma refinaria de petróleo nos EUA, que voltou a ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, após novas descobertas no golfo do México e no Texas?

Petróleo é um ativo que não tem apenas “valor contábil”. Petróleo é valor estratégico. Se o Brasil tiver qualquer dificuldade para obter gasolina em outras partes do mundo, sempre poderá comprar em Pasadena.

Eu chequei a evolução dos faturamentos em Pasadena. Como qualquer outra refinaria, trata-se de um negócio instável, sujeito às intempéries do mercado internacional de petróleo. Teve um ano em que Pasadena teve prejuízo de US$ 700 milhões. Em outro, teve lucro parecido. Sob controle da Petrobrás, porém, o risco é bem menor, porque a estatal é produtora de petróleo, e portanto não haverá tanto prejuízo com eventuais altas da matéria-prima.

Vivemos uma civilização do petróleo, infelizmente. Tudo à nossa volta é feito de derivados de petróleo. Como é possível que a própria presidente da Petrobrás fale mal da primeira refinaria que adquirimos no Texas, bem no meio do maior corredor petrolífero do mundo? Uma refinaria que está dando lucro!

A própria ação da Petrobrás no Brasil é fundamentada numa lógica muito mais estratégica do que contábil. Não fosse assim, a estatal não seguraria por tanto tempo os preços da gasolina. A mesma coisa tem de valer para Pasadena!

Ela é uma cunha do Brasil no coração do império. Através dela, podemos adentrar em outros ramos da economia norte-americana, internacionalizando os investimentos brasileiros.

Refinaria é indústria de base! É estratégia de desenvolvimento! Quem quer obter ganho “contábil” abre rede de lanchonete! Quem quer garantir soberania descobre petróleo e compra refinaria!

Quanto às cláusulas não lidas, isso é desculpa esfarrapada. A Put Option é praxe. E a cláusula Marlin não foi sequer usada.

Pasadena não foi um mau negócio.

Mau negócio é Graça Foster.

*

Abaixo, as manchetes nos principais de hoje. Graça Foster botou fogo na CPI da Petrobrás e prestou uma excelente colaboração para a atmosfera de fracasso e pessimismo que os urubus tentam criar dia e noite.

É fogo! Agora a gente tem que defender os interesses nacionais contra as próprias tendências suicidas do governo.

Enquanto isso, a direita esfrega as mãos, excitada, gritando para uma Graça Foster confusa e agitada, lá em cima:

– Pula! Pula! Pula!

Na Folha.

No G1

No Estadão.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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