É incrível que, ao mesmo tempo em que projeta tantos holofotes sobre a refinaria de Pasadena, no Texas, a nossa imprensa dispense um desprezo solene por qualquer informação concreta sobre o mercado de refinarias nos Estados Unidos.
A repórter da Folha, Isabel Fleck, até tentou falar no assunto. A enviada especial da Folha à Pasadena publicou um artigo em que mencionava o bom momento econômico vivido pelas refinarias americanas, e as boas margens de lucro auferidas pela refinaria de Pasadena nos últimos dois anos. Mas a ingênua Fleck já foi devidamente bloqueada. Não interessa trazer qualquer notícia positiva sobre o mercado de refinaria e sim cavar escândalos que possam alimentar a oposição no Congresso e desgastar eleitoralmente a presidente. O Datafolha já está na rua tentando detectar declínio na intenção de votos, o que, acho eu, acontecerá fatalmente caso o governo não reaja com transparência e proatividade (que é exatamente o que o governo não está fazendo).
Eu estou curioso para saber como andam as perspectivas do mercado de refinaria nos Estados Unidos, e descobri que há uma agência governamental que faz um monitoramento semanal do setor de petróleo e refinaria (EIA – US Energy Information Administration). Em seu último boletim, do final de março passado, a agência aponta uma queda nos estoques de refinados, o que é uma ótima notícia para as refinarias, pois sinaliza bons preços para seus produtos.
Os estoques de gasolina caíram 1,6 milhão de barris na última semana (terminada ao final de março), e estão muito abaixo da média histórica. Estoques de outros derivados também caíram e estão abaixo da média histórica. Ou seja, as refinarias americanas estão ganhando dinheiro como há muito tempo não faziam.
O relatório semestral da EIA é ainda mais otimista para o negócio com refinaria nos EUA. Um trecho da conclusão do relatório:
O texto acima menciona o frio excepcional que varreu os EUA em janeiro deste ano, aumentando o consumo de óleos destinados ao aquecimento, além da interrupção na produção de várias refinarias. Esses fatores reduziram os estoques em várias regiões do país. Em consequência, novas paradas que podem ocorrer neste primeiro semestre de 2014 podem reduzir a oferta e pressionar os preços dos refinados.
No Wall Street Journal, encontro um artigo, de março deste ano, falando da “farra” das refinarias, em especial do Texas (justamente onde fica Pasadena) por causa do aumento da produção própria no estado. A descoberta de novas jazidas de petróleo no Texas e no Golfo do México elevou a competitividade das refinarias texanas, em comparação com as estrangeiras, porque caiu o custo da matéria-prima.
A matéria informa que a Valero, uma das maiores empresas do ramo, está investindo US$ 730 milhões apenas para elevar a sua produção, numa refinaria já instalada, em 160 mil barris por dia. Esse valor nos ajuda a ter uma ideia do custo de implantação de uma refinaria, e logo, do valor de Pasadena, cuja produção está em torno de 100 mil barris por dia.
A maior parte dos novos investimentos em refinarias está acontecendo justamente ali nas vizinhanças de Pasadena, no canal de Houston. As refinarias estão voltando a exportar quantidades significativas de derivados, estimuladas pelo ganho de competitividade gerado pela descoberta de novas jazidas no Texas.
O momento é bom para as refinarias porque a oferta está aumentando, reduzindo os preços da matéria-prima, mas a demanda tem crescido ainda mais, elevando os preços dos derivados. Ou seja, a margem de lucro das refinarias tem estado bastante favorável a novos investimentos.
Um agência de notícias especializadas em energia (AAA) informou, há alguns dias, que o preço médio da gasolina vendida nos EUA alcançou US$ 3,55 por galão no último dia de março, o mais alto desde setembro. A média do preço em março ficou 17 centavos acima da média de fevereiro. A mesma fonte prevê que o preço da gasolina deve fechar o mês de abril numa média entre US$ 3,55 e US$ 3,75.