Uma amiga no Face me mandou um texto que está circulando na internet, contando uma história escabrosa que liga a refinaria de Pasadena à eleição de Lula e Dilma.
É um texto delirante, mas que eu parei para analisar como um desses cientistas que encontram uma borboleta rara.
De cara, lembrou-me a atmosfera paranóica e acusatória do último romance de Umberto Eco, Cemitério de Praga. As redes sociais reinventaram a imprensa marrom e seus delírios antissemitas, os quais, no Brasil de hoje, e sobretudo nesse ano eleitoral, transmutaram-se num antipetismo psicótico.
Eles agora pintarão os petistas como donos do mundo, como os judeus, e querendo dominar tudo. Com isso, justificam qualquer desonestidade midiática.
Primeiro eles chamam Lula/Dilma de comunistas, depois eles os acusam de laços com o capitalismo… belga.
O que mais me intrigou, contudo, é que, mesmo que tudo fosse verdade. Não consegui ver nenhum crime.
A fofoca internáutica diz que Albert Frère, proprietário da Astra, teria 8% de uma empresa, que é proprietária de outra no Brasil, que por sua vez é “dona” (dona?) de “Estreito, Jirau, Machadinho, Itá e dezenas de hidrelétricas, termelétricas e eólicas”.
Pô, mais um pouco e a fofoca virtual listava todas as grandes obras do governo Lula e Dilma. Repare só: o governo FHC era tão muquirana que jamais alguém o “acusaria” de ter ligações com construtores de tantas hidrelétricas, eólicas e termelétricas. Seu governo não construía nada. Suas ligações eram com especuladores e banqueiros.
Não houve preocupação com quem patrocinou um filme sobre FHC, porque ninguém quis fazer filme sobre ele…
Se Frère ajudou a construir tantas hidrelétricas no país, e ainda investiu no cinema brasileiro, deveríamos agradecê-lo. Fez muito mais que a Globo, por exemplo, que manipula a informação e ainda sonega impostos.
Só que a nota inteira nasce de uma desinformação. A de que a Astra pagou somente US$ 42,5 milhões pela refinaria de Pasadena. Ninguém sabe, e talvez nunca saberemos, o quanto Astra investiu em Pasadena. Era um negócio privado. A Astra pode ter dado, por exemplo, US$ 50 milhões por fora para Henry Rosenberg, antigo dono de Pasadena, cujo histórico não era exatamente de um bom moço. O preço pago pela Petrobrás por Pasadena era um preço de mercado, até mesmo abaixo. Não interessava à Petrobrás os detalhes de um negócio anterior, e sim adquirir uma nova refinaria por um bom preço.
E Pasadena não era sucata. Astra investiu US$ 84 milhões em reforma de maquinários e mais US$ 300 milhões para montar um braço comercial para a empresa. Ninguém investe isso numa “sucata”. O termo, aliás, ignora que o valor de Pasadena vai além da idade de seus maquinários, ele também está na infra-estrutura da refinaria para distribuir derivados para quase todo o país, via oleodutos, sem precisar usar caminhões de gasolina. Ignora também a localização estratégica da refinaria, bem no canal de Houston, que dá no golfo do México, onde ficam os principais empreendimentos petrolíferos na América do Norte.
O texto revela como será a campanha presidencial e como serão usadas as redes sociais.
Será montada uma grande rede de mentiras.
O “envenenamento” político de que falava João Goulart, e que resultou no golpe militar, volta a mostrar suas garras, como aliás jamais deixou de fazê-lo desde o início do governo Lula.
O governo tem obrigação moral de reagir. Porque o clima é de golpe. Não mais de golpe militar, mas um golpe político do mesmo jeito, liderado pelas mesmas forças que operaram em 1964. Exatamente pelas mesmas forças. Mídia, juízes, militares, empresários, todos unidos contra o povo. E agora, como vimos no regabofe de Aécio com empresários paulistas, não mais sequer escondendo isso.
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A fofoca anônima que circula nas redes:
“Financiou a campanha do Lula, o filme LULA, financiou a campanha da Dilma….e ninguém sabia de nada!!!!
Este senhor da foto aí de baixo é Albert Frère, um megaempresário belga. O homem mais rico daquele país. Ele era o dono da refinaria Pasadena, por meio da Astra Transcor Energy, que foi comprada por U$ 42,5 milhões como sucata e vendida por U$ 1,12 bilhão para a Petrobras. Ele comprou esta refinaria em 2005 e vendeu 50% para a Petrobras em 2006, já por mais de U$ 300 milhões.
Este senhor possui 8% das ações da GDF Suez Global LNG, ocupando a cadeira de vice-presidente mundial nesta mega organização, maior produtora privada de energia do planeta. A GDF Suez possui negócios com a Petrobras no Recôncavo Baiano, mas seu principal negócio no Brasil é a Tractebel Energia, dona de um faturamento de quase R$ 6 bilhões anuais. É dona de Estreito, Jirau, Machadinho, Itá e dezenas de hidrelétricas, termelétricas e eólicas.
A Tractebel, que é da GDF Suez, que tem como um dos principais acionistas o senhor Albert Frère, que é um dos donos da Astra Transcor Energy, que passou a perna no Brasil em U$ 1,12 bilhão, foi uma grande doadora da campanha de reeleição de Lula, em 2006. A doação de R$ 300 mil chegou a ser contestada na sua legalidade. Também foi uma das patrocinadores do filme Lula, Filho do Brasil. Já em 2010, para a eleição de Dilma, a Tractebel doou quase R$ 900 mil.
O dinheiro que ajudou a reeleger Lula e eleger Dilma veio, assim, mesmo que indiretamente, da Petrobras. Daquela bolada que ela pagou, inexplicavelmente, pela Refinaria Pasadena. Como é pequeno este mundo da corrupção.