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Petrobrás, chegou a hora de usar o blog!

O Cafezinho obteve mais documentos inéditos que ajudam a explicar um pouco essa confusão sobre Pasadena. Antes, um breve comentário político. Permaneço bastante crítico à maneira como a Petrobrás, através de sua presidenta, Graça Foster, vem conduzindo a “crise”. Estendo a culpa à própria presidenta da República. Ambas escolheram a estratégia de sair cortando cabeças […]

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O Cafezinho obteve mais documentos inéditos que ajudam a explicar um pouco essa confusão sobre Pasadena.

Antes, um breve comentário político. Permaneço bastante crítico à maneira como a Petrobrás, através de sua presidenta, Graça Foster, vem conduzindo a “crise”. Estendo a culpa à própria presidenta da República. Ambas escolheram a estratégia de sair cortando cabeças à torto e direito, e não estão fazendo nenhuma defesa política da estatal, nem da refinaria de Pasadena. A oposição está fazendo a festa.

A última da Foster foi demitir outro alto executivo da empresa, José Orlando Azevedo, sem oferecer nenhuma explicação. Com isso, a mídia domina a narrativa. Para cúmulo da trapalhada política, o sujeito é primo de Gabrielli, ex-presidente da Petrobrás.

Ou seja, tá parecendo que a Foster está se aproveitando da crise para fazer um ajuste de contas interno. O blog da Petrobrás continua inerte. Não há informação, então a gente não tem para onde correr senão para a mídia tradicional, que iniciou mais uma campanha de manipulação.

Tenho a impressão que tanto Dilma quanto Foster estão sendo vítimas de seu próprio “tecnicismo”. É tiro no pé em cima de tiro no pé.

A refinaria de Pasadena tem de ser defendida. É coisa nossa. Esse é meu recado como blogueiro político.

Já como blogueiro investigativo, minha função é levantar dados para que as pessoas entendam melhor a conjuntura.

A primeira coisa para entender o imbróglio é partir do início. O que era a refinaria de Pasadena antes de ser comprada pela Astra? Era uma sucata? Estava desativada? Dava lucro? Tinha dívidas?

Como eu ia dizendo, O Cafezinho teve acesso a dois documentos inéditos que nos ajudarão a responder a essas perguntas.

O documento mais recente, de agosto de 2000, é um informe da Golnoy Barge Company, empresa que detinha 14% das ações da refinaria de Pasadena, aos outros sócios minoritários.

O documento fala da preocupação dos sócios pequenos com a gestão de Henry Rosenberg, e seus dois filhos, à frente da refinaria. Eles estavam preocupados com uma operação financeira que Rosenberg tinha iniciado para ampliar sua participação acionária da refinaria e aumentar seu controle sobre ela.

O final da década de 90 tinha sido bem difícil para o negócio de refinaria. Em 1998, a Crown Central (nome antigo da refinaria de Pasadena) havia registrado fortes prejuízos, e ainda enfrentava inúmeros processos trabalhistas.

O segundo documento obtido por Cafezinho é um artigo publicado no Oil Daily, onde se lê que o mercado desconfiava que Henry Rosenberg estava se preparando para vender a companhia. Até aí nada demais, a empresa era dele e ele podia vender quando quisesse. Acontece que ninguém confiava em Rosenberg, nem os sócios pequenos, muito menos os sindicatos.

A matéria informa que a Crown registrou prejuízo de 829,4 milhões de dólares em 1998. Segundo a matéria, parte desse prejuízo se devia ao boicote que os sindicatos vinham fazendo à empresa. Era uma campanha popular. Ninguém queria comprar a gasolina vendida nos postos da Crown. A empresa, por sua vez, atribuía o prejuízo a situação do mercado, e lembrava que todas as empresas estavam amargando prejuízo aquele ano, o que era verdade.

O caso de Pasadena, contudo, era mais alarmante porque Rosenberg, dono da empresa, enfrentava um grave problema de crédito na praça. E não estava conseguindo renegociá-lo junto aos bancos.

No documento de agosto de 2000, da Golnoy Barge Company, somos informados que o mercado de refinaria se recuperou vigorosamente a partir do início da nova década. O faturamento líquido (EBITDALL) da Crown nos primeiros seis meses de 2000 totaliza US$ 66,6 milhões. O lucro líquido no primeiro semestre de 2000 atingiu US$ 5,6 milhões, comparado ao prejuízo de US$ 22 milhões no mesmo período de 1999.

Os sócios pequenos da refinaria dão duas informações que serão fundamentais para a gente entender o preço pago pela Astra em 2005.

A Crown tinha promissórias junto a seus acionistas pelas quais “qualquer um que quisesse adquirir a Crown Central deveria estar preparado para refinanciar o débito de US$ 125 milhões”.

Isso em 2000! Em 2005, esse débito teria subido para US$ 200 milhões, como eu disse em outro post. A diferença é que essa fonte agora é mais oficial ainda. É um documento dos próprios sócios da Crown.

A outra informação importante é sobre os estoques da Crown. A mídia vem repetindo que a Astra comprou a refinaria por US$ 42,5 milhões. Mentira. A Astra começou a trabalhar junto à Crown em 2004. Pagou suas dívidas, comprou seus estoques, e só então adquiriu as ações da refinaria por US$ 42,5 milhões.

O documento da Golnoy nos dá uma ideia do valor dos estoques da Crown no ano 2000. Os sócios achavam que esses podiam ser US$ 83 milhões maiores do que o informado oficialmente pela empresa. Portanto, o valor dos estoques, no ano 2000, eram um valor X mais US$ 83 milhões. Quanto valiam? US$ 100, 300, 500 milhões? A refinaria tinha capacidade para estocar mais de 6 milhões de barris, portanto o valor desses estoques poderia até ultrapassar US$ 1 bilhão.

Por que Pasadena tinha uma capacidade tão grande de estoque? A resposta é fácil. A volatilidade alucinante das cotações do petróleo e seus derivados, fazem com que seja estratégico, para uma refinaria, ter uma boa capacidade de estoque, para ordenar a oferta e evitar vender em momento inadequado.

Na sexta-feira, o Valor confirmou uma informação que eu já detectei em vários documentos, inclusive no relatório da Astra.

“Conforme o acordo de acionistas, ao qual o Valor teve acesso, o prêmio de 20% valeria tanto para os 50% restantes do ativo refinaria, avaliado em março de 2006 por US$ 378 milhões, como para a trading, que tinha preço de referência inicial de US$ 300 milhões, que era o “capital comprometido” pela Astra no negócio até a assinatura do acordo.

A Petrobrás não adquiriu somente a refinaria de Pasadena. Ela comprou também a Astra Trading, que era o braço comercial da refinaria montado pela Astra quando a assumiu. Essa trading tinha recebido US$ 300 milhões da Astra. Não está claro se esse valor já embute os estoques. E não se sabe exatamente a dívida herdada pela Astra quando assumiu o controle da refinaria. O que se tem certeza é que havia uma dívida de US$ 125 milhões em 2000 e, segundo a Jefferies, US$ 200 milhões em 2003. Como os americanos nunca pagam uma dívida de uma vez, pois os juros lá são muito baixos e todos apenas rolam seus débitos, indefinidamente, é certo que estes deveriam continuar na casa dos oito dígitos quando houve a compra pela Astra.

Portanto, a Astra quando adquiriu Pasadena, investiu US$ 42,5 milhões pelo controle acionário, assumiu uma dívida milionária, mobilizou US$ 300 milhões, comprou estoques, e ainda fez investimentos de quase US$ 100 milhões para modernizar a refinaria. Os documentos da Astra deixam bem claro que a venda decorreu de um “processo”, cujos detalhes jamais foram revelados.

Não sei se houve, como dizem os paulistas, alguma treta em algum momento do negócio. Talvez. Mas pode haver treta na Abreu Lima, no porto de Suape, no Comperj, em qualquer negócio da Petrobrás em qualquer lugar do mundo. O ser humano, infelizmente, é corrompível por natureza.

O importante a saber aqui é que essa disparidade absurda de valores com que a mídia tenta impressionar o cidadão comum não existe. A refinaria de Pasadena sempre valeu um bocado de dinheiro, sempre esteve operante, e possivelmente se revele com o tempo uma excelente aquisição para a Petrobrás.

Outra coisa que é preciso deixar claro é que as cláusulas Put Option e, sobretudo, a Marlim, existiram porque a Petrobrás também tinha suas prerrogativas. Também haviam cláusulas a favor da Petrobrás: a estatal podia “forçar investimentos”, ou seja, podia fazer o que quisesse dentro da refinaria.

Lembro-me que o ex-presidente Lula, certa vez, ensinou que um bom negócio é o chamado “ganha-ganha”. Um ganha e o outro pensa que ganha. Acho que foi exatamente o que aconteceu aqui. A Astra pensou que fez um bom negócio, mas quem agora possui uma refinaria no coração dos EUA é a Petrobrás!

Esta CPI da Petrobrás pode ser uma oportunidade do governo e da estatal aprimorarem suas estratégias de comunicação. Aliás, o que vemos hoje é resultado do fiasco comunicativo da Petrobrás. Os brasileiros não têm ideia do aumento das reservas brasileiras de Petróleo, e do montante que a estatal tem investido no país.

Na propaganda eleitoral, Eduardo Campos fala em “meia Petrobrás”. Todos falam no declínio do valor de mercado da empresa. Mas o que tem efeito na economia brasileira não é o valor especulativo da Petrobrás nas bolsas, e sim a quantidade real de dinheiro que a empresa tem investido no país, o número de empregos gerados a partir desses valores, sem falar nos impostos. Além disso, a Petrobrás continua dando lucro.

Na última vez que a mídia fez uma campanha contra a Petrobrás, a estatal inovou e criou um blog que fez história, rendeu até mesmo teses de mestrado. Foi um sucesso. E agora o blog está lá, às moscas, sem participar do debate político. Neste sábado, após manchete bombástica do Globo, o blog informa que a “Petrobrás patrocinou o Festival de Curitiba”. Legal que o tenha feito, mas alguém entrará no blog da Petrobrás para saber isso?

Por que a Petrobrás não faz um belo infográfico com dados atualizados sobre seu lucro e faturamento?

Ao invés de ocupar o noticiário com demissões talvez desnecessárias, numa lamentável demonstração de medo, porque não aproveita a visibilidade e expõe suas estratégias, aqui, no Golfo do México, em Pasadena?

Enquanto demonstrar medo, a Petrobrás vai apanhar. Ela só vai virar o jogo quando exibir os dentes. Por que não mostra, por exemplo, que paga seus impostos em dia?

Por que não mostra o Darf?

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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