Passou despercebido um excelente estudo feito pelo Valor, publicado na terça-feira, sobre o jogo de alianças do PMDB com os dois maiores partidos, PT e PSDB.
A reportagem é muito boa, mas talvez o texto tenha ficado meio complicado, e não se procurou a opinião dos verdadeiros interessados no assunto, os políticos. Essa falta de repercussão também prejudicou a circulação da matéria.
Ou talvez a mídia não tenha tido interesse em divulgá-la por conta da própria constatação inevitável que se tira a partir dela.
A constatação é que, tecnicamente falando, em termos de apoios em eleições estaduais, o PT não tem nada a dever ao PMDB.
Evidentemente, o assunto é complexo. O PT deve ter cedido tanto ao PMDB nas últimas eleições estaduais por conta de acordos para obter apoio parlamentar.
Mas, por isso mesmo, a “rebelião” dos parlamentares do PMDB adquire uma conotação ainda mais esverdeada, de traição a um compromisso político.
O Valor descobriu que, nas últimas eleições estaduais, a equação de apoios entre PT e PMDB foi bastante desequilibrada, em favor do PMDB. O PT tem dado generoso apoio a candidatos do PMDB, em grandes estados da federação, enquanto a recíproca do PMDB ao PT em eleições estaduais tem sido tímida e apenas em estados pequenos.
Nas últimas eleições estaduais, de 2010, o PMDB apresentou 13 candidatos a governador. O PT apoiou 7 deles. Já o PT teve, no mesmo ano, 10 candidatos a governador, dos quais apenas 2 receberam apoio do PMDB.
Agora pegue-se essa informação, misture-a à ação do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, e à agressividade do governo Cabral para detonar a candidatura própria do PT no estado do Rio.
Resultado: o PMDB não tem moral para impedir o PT de lançar Lindbergh ao governo do estado. O PMDB tem dívida com o PT em eleições estaduais, e sua atuação no Parlamento, que poderia justificar esse desequilíbrio, tem se caracterizado por um conservadorismo pesado que traz grande prejuízo político ao governo. Reforma política? Regulamentação da mídia? Reforma tributária? O PMDB trava tudo, e o governo Dilma paga o pato por essa paralisia.
Apesar disso, a aliança entre PT e PMDB foi importante para dar um mínimo de estabilidade legislativa ao governo. Só que, a partir de 2015, o PMDB deverá encolher, e não por culpa da “hegemonia do PT”, mas por anomia do próprio PMDB, que não está se aprofundando no debate social. O PMDB espalha seus tentáculos por toda a parte, inclusive à esquerda, mas está se deixando contaminar pelo conservadorismo midiático. Não pode culpar o PT por estar perdendo espaço. Culpe a si mesmo. O eleitor brasileiro já provou que sua preferência é por candidatos que ajudem os pobres. Se o PMDB acreditar na mídia, irá para o brejo, junto com os partidos que já seguiram por esse triste caminho, como PPS e DEM.
A partir de 2015, teremos a chance de aprimorar o parlamento, embora as perspectivas não sejam assim tão otimistas, por causa da falta de uma reforma política e da manutenção da influência do dinheiro sobre os resultados eleitorais.
Entretanto, política tem seus mistérios, e o povo brasileiro, quem sabe, pode nos surpreender positivamente e varrer para longe boa parte desses fisiológicos, mais interessados em jogadas palacianas e lobbies espúrios do que em representar verdadeiramente os interesses da maioria da população.
O apoio do PMDB para a “governabilidade” só será importante se: 1) o PMDB parar de fazer o jogo de uma mídia aliada às forças do atraso e aceitar fazer reformas importantes para o futuro do país; 2) convencer o eleitor de que pretende defender reformas reais, em prol do interesse popular, e com isso ampliar sua base no parlamento.