O golpe está de volta! Vamos reagir!

A carta de um general do Exército publicada no site da Sociedade Militar, onde ele fala abertamente em intervenção militar e pede a opinião pública para se mobilizar em favor de um movimento neste sentido, nos obriga a algumas reflexões e ações de caráter emergencial.

Arrisco algumas razões para o surgimento desses ovos de serpente e sugiro, humildemente, algumas reações.

1) Há uma falha histórica do Brasil, onde os valores democráticos vieram impostos de cima. Temos séculos e séculos de autoritarismo e apenas poucos anos de democracia. Seria preciso um investimento mais assertivo em valores democráticos, a ser disseminado pelo sistema de educação pública e pelas redes de TV. O governo poderia aproveitar os 50 anos de golpe para elaborar spots para a TV aberta com aulas sobre democracia, contendo denúncias contra a ditadura, em horário nobre.

2) A questão da mídia é novamente central aqui. Nossa mídia ainda é a mídia da ditadura. Quem detêm os meios de comunicação no país ainda são as mesmas forças que impuseram o regime militar. As forças da redemocratização tiveram espaço aberto na mídia a partir dos anos 80, mas a propriedade permaneceu em mãos dos mesmos de antes. Eles agora estão voltando a botar as manguinhas de fora para mostrar quem é que manda na comunicação social brasileira.

3) Assim como antes, acena-se com o fantasma do comunismo para assombrar setores manipulados da classe média. É preciso uma resposta de alto nível, explicando que essa é uma tática enganosa. Soa até ridículo falar isso, mas enfim, alguém precisa esclarecer a esse povo que o Brasil não caminha para nenhuma ditadura comunista. O partido no poder, o PT, nasceu sob a égide da democracia, em oposição às vertentes autoritárias da esquerda.

4) Talvez a coisa mais importante a fazer é mostrar, de maneira mais simples e popular, que a ditadura brasileira foi fundamentalmente corrupta. Hoje sabemos, aliás, que o golpe de 64 foi comprado. A cúpula militar se vendeu por propinas milionárias. Generais estavam no bolso de empresários, e houve inclusive muito financiamento estrangeiro. Até um intérprete semi-conservador do golpe, como Elio Gaspari, que escreveu alguns livros sobre a ditadura, mostra claramente que o regime foi corrupto até os ossos. Corrupto, caótico e incompetente.

5) Nestes 50 anos do golpe, o Brasil que acredita na democracia se vê diante de um desafio que precisa ser superado. As comissões de verdade precisam de um apoio maior. A luta contra a ditadura agora é simbólica, e não menos importante.

6) A pregação por uma nova intervenção militar é um movimento apenas hipocritamente apartidário, porque bebe sua força no ódio ao PT. Assim como, em 1964, se alimentava do ódio ao PTB, ao varguismo e ao movimento sindical. A reeleição de Dilma Rousseff, portanto, precisará se politizar também neste sentido, como uma reafirmação dos valores democráticos contra aqueles que não aceitam ser derrotados pelo voto. A vitória de Dilma, reafirmando a liderança e popularidade do PT junto ao grande eleitorado, será uma vitória também contra esse monstro bizarro que fugiu de seu túmulo: o golpismo anti-povo, que não aceita que nenhum partido de esquerda assuma o poder, e se assumir o poder, que se mantenha nele por muito tempo.

7) Não pode haver medo. As instituições democráticas precisam reagir com mais rigor e severidade contra esse tipo de agitação.

8) A grande mídia, sobretudo aquela voltada para uma suposta classe média esclarecida, vai agir com bem mais discrição hoje, até porque ainda tem imagem queimada pelo que fez em 1964, mas não podemos nos enganar de que lado ela está. Observe que o general, em sua carta, dá destaque à “profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza”, referindo-se aos conservadores cuja única função nos jornais é bater no PT. A mídia apoiará o golpe, de maneira subreptícia num primeiro momento, abertamente num segundo.

9) A crise na Venezuela e a postura do governo brasileiro estão sendo muito distorcidos por uma suja campanha de desinformação. Hoje, Eliane Cantanhede, parece querer jogar o Itamaraty e as Forças Armadas (!) contra o governo. “O Itamaraty, como as Forças Armadas, bate continência [para o governo, para Dilma?]”, escreve Cantanhede, sugerindo que a nossa política externa está a serviço do PT. A colunista questiona, de maneira ignorante e desrespeitosa, a legitimidade do governo e do próprio PT, que é o partido que governa o país porque foi eleito para isso.

Ao final de sua coluna, diz que “resta saber se essa posição do governo é também a do próprio Brasil – ou seja, a dos brasileiros”, novamente questionando a legitimidade do Executivo num ponto que é, eminente e exclusivamente, uma questão de governo. De governo eleito, reitere-se. Nâo se faz plebiscito ou pesquisa Datafolha para se saber qual será a política externa nacional. Pode-se fazer um plebiscito, eventualmente, para se saber se devemos entrar numa guerra ou não. Mas no caso da crise venezuelana, a obrigação do governo brasileiro é apoiar o regime democrático constituído, ou seja, o governo eleito daquele país, que mantém o poder através do sufrágio universal, em eleições limpas, o governo de Nicolás Maduro.

10) Os golpistas de hoje estão surfando nas barbaridades midiáticas cometidas durante o julgamento do mensalão. A criminalização da política, em especial do partido dos trabalhadores, feita pela mídia, é o pano de fundo desse movimento em apoio a uma nova intervenção militar. Os discursos golpistas de alguns ministros, aplaudidos pela mídia, repercutiram profundamente em setores conservadores (ou seja, quase todos) das Forças Armadas. Qualquer movimento do STF no sentido de reverter os arbítrios absurdos cometidos na Ação Penal 470 agora se tornam pretexto para soluções de força antidemocráticas.

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Reproduzo abaixo a carta do general, que pesquei no blog do Rodrigo Vianna. Ao fim do texto, reproduzo também alguns comentários publicados no post original.

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No blog de Rodrigo Vianna.

General já fala em “eventual intervenção militar”; democratas não vão reagir?

publicada domingo, 09/03/2014 às 00:48 e atualizada domingo, 09/03/2014 às 00:25

Reproduzimos artigo de general que pede apoio civil a uma intervenção militar. Trata-se de clara incitação ao golpe, um ataque frontal à Democracia:

“Não basta pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado”.

Cinquenta anos depois, a pregação autoritária se espalha pelas redes sociais. E não são apenas generais que defendem o golpe. É preciso reagir. (Rodrigo Vianna)

Na causa da democracia, quem está dispensado?

por general de brigada Paulo Chagas, na página da Revista Sociedade Militar

Caros amigos

A debacle da Suprema Corte, desmoralizada por arranjos tortuosos que transformaram criminosos em vítimas da própria Justiça, compromete a crença dos brasileiros nas instituições republicanas e se soma às muitas razões que fazem com que, com frequência e veemência cada vez maior, os Generais sejam instados a intervir na vida nacional para dar outro rumo ao movimento que, cristalinamente, está comprometendo o futuro do Brasil.

Os militares em reserva se têm somado aos civis que enxergam em uma atitude das Forças Armadas a tábua da salvação para a Pátria ameaçada, quando não são eles próprios os alvos do clamor daqueles que já identificam nas imagens dramáticas da capital venezuelana a cor fúnebre do nosso destino.

Ao exercerem seu direito legal de opinar e criticar, os militares da reserva diferem entre si na forma, na intensidade e na oportunidade de uma eventual intervenção militar que venha a dissuadir as pretensões mais ousadas dos dissimulados adeptos da versão “bolivariana” do comunismo de sempre, todavia, são coincidentes e uníssonos no rebatimento de acusações mentirosas que, divulgadas de forma criminosa, visam a criar na sociedade o receio de ter os militares como fiadores da democracia.

Entre os civis esclarecidos é fácil perceber a confiança no discernimento e no patriotismo dos soldados. Todos querem que os Generais “façam alguma coisa”, mas ainda são poucos os que se dispõem a fazer o que está ao seu alcance. Poucos são os que adotam atitudes concretas e manifestam-se pública, individual e coletivamente, em defesa dos governos militares, escrevendo para os jornais ou protestando contra a hipocrisia e as más intensões das “comissões da verdade”.

No momento atual, a causa da democracia não dispensa o concurso de ninguém. Seria portanto uma importante contribuição se todos os civis que têm as Forças Armadas como última razão da liberdade e a garantia dos fundamentos constitucionais pusessem suas opiniões a público, em artigos, manifestações, textos, “cartas do leitor” e outros recursos do gênero e não apenas em comentários restritos à leitura dos poucos profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza ou dos escribas de mídias sociais que, mesmo comprometidos com a causa, têm apenas seu limitado e débil sopro para tentar enfunar as velas da embarcação.

A opinião pública está dispersa, contudo não é difícil identificar o que rejeita. Também não é fácil definir com quem está e o que quer. Falta-lhe um “norte confiável”. As pessoas de bem, informadas, estão com medo do futuro, acuadas até para reagir e para manifestarem-se pacificamente. Não basta, portanto, pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado.

As “Marchas da Família com Deus Pela Liberdade”, programadas para o mês que se inicia, são um bom começo para esta soma de esforços e para reafirmar o que, há cinquenta anos, fez com que o Brasil fosse visto e admirado como a “Nação que salvou a si própria”!

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Alguns comentários na postagem original:

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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