O Valor tem se caracterizado, como define um colega, como “PIG cheiroso”, porque, de fato, oferece uma linguagem muito mais sóbria que seus primos. Provavelmente porque seu público alvo são empresários; não os homers simpsons vulgares e analfabetos políticos que, desgraçadamente, formam a maioria da classe média consumidora de textos de opinião.
De vez em quando, porém, o Valor precisa mostrar serviço, não ao leitor, mas a seus donos e os interesses aos quais estes servem, que vão muito além de míseras assinaturas de jornal.
Nesta quarta-feira de cinzas, por exemplo, a manchete do Valor era sobre um suposto calote da Venezuela em empreiteiras brasileiras.
Só que não.
Se você ler a matéria, ficará mais confuso do que informado. Primeiro porque todas as informações sobre dívidas foram dadas por fontes anônimas. Todas as fontes nominadas, ao contrário, contestam a informação.
A própria matéria é contraditória. Ela diz que a Venezuela tem US$ 20 bilhões em obras contratadas com empreiteiras brasileiras, sendo que apenas US$ 2 bilhões não foram pagos. Ora, 2 bilhões é 10% de 20 bilhões. Não há nenhum sinal de calote aqui.
A matéria diz que a maior parte da dívida é com a Odebrecht, principal empreiteira engajada em obras no país. Pois então, quando o repórter pergunta ao diretor administrativo da empresa, Claudio Daltro, ele respondeu o seguinte:
“O atraso no pagamento é normal no negócio de infra-estrutura. Não tenho problema aqui que eu não tenha em outros lugares.”
Ou seja, a matéria é toda uma não-matéria. Fala de um calote que não se configura. De atrasos (não confirmados) perfeitamente naturais diante dos valores envolvidos e em função do tipo de serviço oferecido, obras de infra-estrutura que perduram por muitos anos.
O Valor fez uma matéria apenas tendenciosa, com objetivo de pintar o governo venezuelano como feio, bobo, mau e caloteiro. O artigo traz várias referências negativas sobre a economia venezuelana, omitindo-se de mencionar os profundos avanços sociais vividos pelo país.