Conforme a história avança, a lama em torno do golpe de estado de 1964 aumenta mais e mais. Com o filme o Dia que Durou 21 anos, aprendemos que os EUA participaram ativamente da organização da derrubada de João Goulart. Recentemente foi revelado que Jango era altamente popular à época, desmentindo as teorias de que ele seria um governante fraco e sem respaldo social.
E agora a Comissão da Verdade de São Paulo descobre que empresários da Fiesp subornaram Amaury Kruel, então comandante do II Exército e supostamente amigo de Jango, para que este apoiasse o golpe.
A história do golpe é cada vez mais podre. E há muitas outras verdades duras a serem reveladas.
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Coronel reformado diz que Fiesp subornou ex-ministro de Jango para apoiar golpe militar
Em depoimento à Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, Erimá Pinheiro Moreira afirmou que o então presidente da entidade empresarial ofereceu US$ 1,2 milhão ao general Amaury Kruel
POR GUSTAVO URIBE
SÃO PAULO – O presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, Gilberto Natalini, informou que em depoimento nesta terça-feira, na capital paulista, o coronel reformado Erimá Pinheiro Moreira, de 89 anos, relatou que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) subornou em 1964 o então comandante do II Exército a apoiar o golpe militar no país.
Segundo o ex-major farmacêutico, que servia na época no Hospital Geral Militar de São Paulo, o então presidente da entidade empresarial, Raphael de Souza Noschese, ofereceu US$ 1,2 milhão ao general Amaury Kruel para que deixasse de apoiar o então presidente João Goulart, do qual havia sido ministro da Guerra de 1962 a 1963.
No depoimento, o coronel reformado relatou que cedeu as instalações de um laboratório de análises clínicas, em sua propriedade, para a reunião entre Amaury Kruel e Raphael Noschese, ocorrida no dia 31 de março de 1964, dia do golpe militar. Segundo o coronel, três homens acompanharam o encontro, os quais portavam maletas que estavam cheias de dinheiro.
Após o encontro, segundo Erimá Moreira, as maletas foram colocadas no veículo do general Amaury Kruel e, horas depois do encontro, ele anunciou apoio ao golpe militar. Segundo a Comissão Municipal da Verdade, o coronel reformado questionou na época se o general havia recebido o dinheiro. Ele foi cassado, na época, e vigiado pelo II Exército.
No depoimento, Erimá Moreira disse ainda que recebeu a informação, posteriormente, que o comandante, que morreu em 1996, usou o dinheiro para comprar duas fazendas na Bahia. Procurada pelo GLOBO, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo afirmou, por meio de nota, que “é importante lembrar que a atuação da entidade tem se pautado pela defesa da democracia, do Estado de Direito e pelo desenvolvimento do Brasil”.
Segundo a entidade empresarial, “eventos do passado que contrariem esses princípios podem e devem ser apurados”.