Muito bom o artigo do Theo, nosso amigo no Barão de Itararé. Reproduzo abaixo. Em seguida, faço alguns comentários.
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Imprensa bipolar
Por Theófilo Rodrigues, em seu blog.
Se um desavisado quiser ler o jornal O Globo de hoje ficará perdido.
O editorial do jornal O Globo de hoje (12/02) intitulado “Os inimigos da democracia” afirma que “é a publicidade privada que garante a independência de fato (dos veículos da imprensa profissional), ao contrário de sites, blogs e publicações bancados por verba pública”.
Contudo, se abrirmos na página 24 do mesmo jornal encontraremos matéria sobre como a liberdade de imprensa na Argentina está sendo atacada através dos cortes de verbas de publicidade oficial. A matéria diz que “a Suprema Corte argentina determinou ontem que o governo promova de forma igualitária a distribuição da publicidade oficial aos órgãos da mídia”.
Na edição de segunda-feira (10/02) o jornal O Globo já havia dito que “apesar de ter uma das maiores circulações do país, Clarín recebeu só uma página de publicidade oficial em 2013” e que isso seria uma manobra política para sufocar a liberdade de imprensa na Argentina.
Alguém entendeu alguma coisa? O mesmo jornal afirma em uma página que o que garante a liberdade de imprensa é a publicidade privada, enquanto em outra página alega que a liberdade de imprensa depende da publicidade oficial. Afinal de contas, é a publicidade privada ou a publicidade oficial que garante a liberdade de imprensa?
Essa confusão precisa ser desfeita.
Em primeiro lugar, receber publicidade oficial nunca significou subordinação de pautas políticas. Jornais como O Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Correio Braziliense e revistas como Veja e Época sempre receberam verbas milionárias de publicidade oficial do governo federal. Alguém diria que por esse motivo esses veículos são governistas? Não acredito. A publicidade oficial é pública, requer transparência, além de ser fiscalizada por diversos órgãos de controle como o TCU entre outros.
Em segundo lugar, publicidade privada garante independência? Bom, há de se imaginar, por exemplo, que a Fetranspor (Federação das empresas de transporte de passageiros do estado do Rio de Janeiro) financie apenas os jornais que defendam em seus editoriais aumentos de passagem. Há de se imaginar que instituições do mercado financeiro financiem apenas os jornais que defendam em seus editoriais os consecutivos aumentos nas taxas de juros do Banco Central. Há de se imaginar que as construtoras invistam apenas em jornais que de algum modo defendam em seus editoriais a especulação imobiliária e a consequente gentrificação. Claro, tudo isso é apenas intuitivo. Ou não?
Em terceiro lugar, a publicidade oficial não deve ter apenas um objetivo, qual seja, ser instrumento de divulgação das iniciativas públicas. Há um outro fim que deve ser buscado pelo Estado através de suas verbas oficiais de publicidade: a construção de uma imprensa plural, diversificada e regionalizada. Para isso é necessário que os recursos sejam distribuídos não apenas para os grandes veículos já estabelecidos, mas também para os pequenos que ainda buscam seu espaço. O grande de hoje foi o pequeno de ontem. O pequeno de hoje será o grande de amanhã.
Pluralidade e diversidade. É disso que a democracia precisa.
Theófilo Rodrigues é cientista político.
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O editorial do Globo de hoje parece voltar à abril de 1964. Defende a democracia, como também fazia naqueles anos fatídicos, apenas para ludibriá-la. O texto inteiro é um lixo fascista. Cada parágrafo pode ser analisado como um pedacinho do ovo da serpente. Mas eu gostaria de comentar apenas um trecho:
Não pode, também, deixar de responsabilizar a campanha, sistemática, via internet, contra os veículos da imprensa profissional, chamados pejorativamente de “mídia corporativa”, quando é a publicidade privada que garante a independência de fato deles, ao contrário de sites, blogs e publicações bancados por verba pública.
Criou-se um ambiente tal de hostilidade que repórteres viraram alvo de marginais travestidos de manifestantes, até chegarmos ao assassinato de Santiago. É óbvio que a punição tem de ser exemplar, para sinalizar os limites que têm de existir num país democrático em qualquer manifestação popular.
Campanha sistmática via internet? Ora, Globo, quem faz campanha é você (permitam-me essa inocente maluquice, de chamar o jornal Globo de “você”), mentindo diariamente, pressionando as instituições para que façam isso ou aquilo, sempre em detrimento do interesse popular e em prol de setores, às vezes obscuros, da elite. Às vezes até mesmo estrangeiros. Os blogs rebatem a imprensa, isso é democracia. Acostume-se com isso, cacildes! Você quer ser dono único da verdade! Aliás, se alguém tem culpa da violência nas manifestações, a culpa também é sua, por causa da sua campanha eterna contra a política, contra os políticos, contra o Brasil. E concordo com o Theo. Não vem enganar não! Você é a empresa de mídia que mais recebeu e recebe verba pública no mundo inteiro. Do contribuinte brasileiro e do contribuinte americano, visto que os EUA usaram você para dar o golpe de 64.
Agora, não esqueça que a maioria dos blogs criticaram, desde o início, o viés violento das manifestações. Coisa que você não fez. Eu paguei um preço alto por criticar essa cultura de truculência, essa demagogia do quebra-quebra, que justifica a promoção do caos com um proselitismo oportunista contra as instituições, com essa conversa de “colapso” da democracia representativa. Argumentos que os violentos pegaram nas páginas do Globo.
É muito engraçado você falar em campanha contra a mídia corporativa e ao mesmo tempo fazer campanha contra os blogs. No mesmo parágrafo! E ainda vir com esse papinho de “bancados por verba pública”. Só tem dois ou três blogs que tem anúncios de empresa pública. A maioria – 99% – não tem nada. Deviam ter. Ah, e já que vocês falam que a publicidade privada garante a “independência de fato” (o que é suposição ridícula, como disse o Theo), então o governo deveria zerar a publicidade institucional para vocês e despejar tudo na internet. Para ser democrático, podia criar um sistema randômico, tipo um adsense do google, e dar para todos os blogs e sites do Brasil! Imagine? Os bilhões que o governo gasta com a Globo revolucionando a internet brasileira? Ia gerar muito mais emprego, mais desenvolvimento cultural e científico, seria muito mais útil ao país do que pagar o salário de Merval Pereira com o dinheiro do contribuinte, como hoje é feito.
Além de fazer campanha contra os blogs via editoriais como esse, não se esqueça que o seu diretor de jornalismo protagoniza uma cruzada pessoal para sufocar financeiramente diversos blogueiros, inclusive eu. Então não venha com esse papo de campanha contra “imprensa profissional”!