Em defesa de Marcelo Freixo

Eu tenho inúmeras críticas à Marcelo Freixo, deputado estadual pelo PSOL do Rio de Janeiro, e sempre as expressei de maneira transparente e democrática.

Mas o ataque que vem sofrendo da Globo é vil, por isso volto a me solidarizar com o parlamentar, que, repito, é um dos mais competentes e honestos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. É evidente que ele jamais incentivaria nenhum tipo de “terrorismo” ou “quebra-quebra” na cidade, quanto mais  colaboraria para que alguém explodisse rojões contra outras pessoas.  E a ONG de seu assessor é uma instituição muito boa, que dá assistência jurídica a pessoas pobres de comunidades. O fato da ONG ter dado assistência à manifestantes presos não tira seu mérito. Se entre eles havia algum vândalo que mereceria ter ficado preso, a culpa não é da ONG, e sim da polícia e da Justiça. O Judiciário fluminense, este sim, pode ser sido estranhamente conivente com alguns protagonistas de quebra-quebra.

Reproduzo abaixo o artigo de Luiz Eduardo Soares, que já foi assessor de Garotinho, do PT e hoje está próximo de Freixo. Mas antes queria fazer alguns comentários.

Soares fala que “Freixo foi um dos únicos que mantiveram a reputação intocada, durante e depois do maremoto de junho. As manifestações decretaram o colapso da representação, tal como praticada no Brasil”.

É claro que se trata de um exagero falar que manifestações “decretaram o colapso da representação”. É autoritário, antidemocrático e uma tolice falar em decreto e colapso da representação. Só quem pode decretar qualquer coisa numa democracia é o voto, após eleições limpas e onde as diferentes partes tenham tempo de TV para explicar suas posições. Crise, tudo bem. Colapso, não. É por causa desse tipo de discurso que não tenho muitas afinidades com Freixo e os freixistas.

É curioso também ouvir Soares falar que Freixo foi “um dos únicos que mantiveram reputação intocada”. Por que isso, Soares? Por que Freixo é o único político honesto e bom do Brasil? Ou será porque a mesma Globo contra a qual você se insurge agora promoveu o assassinato de reputações da maior parte dos políticos brasileiros, inclusive muitos também que tinham “reputação intocada”? Você se manifestou em solidariedade a José Genoíno? O que a Globo faz com Freixo é um beliscãozinho no braço em comparação ao que fizeram com Genoíno e sua família.  A Globo praticou tortura midiática com Genoíno até mesmo quando ele estava doente. Fez chacota com sua doença.

Torturou-o por longos oito anos.

Dito isso, vamos ao texto de Soares.

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Globo e milícias contra Marcelo Freixo (PSOL)

A artilharia pesada do sistema Globo quer fazer com Marcelo, no plano moral e político, o que as milícias não conseguiram, no plano físico

Por Luiz Eduardo Soares

Amig@s, são inacreditavelmente frágeis as bases para as reiteradas notícias veiculadas pelo Globo, especulando sobre os mais esdrúxulos vínculos entre Marcelo Freixo e a trágica morte do cinegrafista, Santiago. Detesto teorias da conspiração, mesmo depois das revelações de Snowden. Tampouco tenho tendências paranoicas. Por isso, me sinto no dever de alertar para a inominável manobra política que está sendo promovida pelo sistema Globo (certamente com outros atores políticos), onde trabalham muitos profissionais sérios, que merecem todo meu respeito –por isso, me recuso a generalizar críticas e estigmatizar profissionais honrados. O objetivo é aproveitar o momento de comoção e confusão para arruinar um dos últimos grandes patrimônios da cidade do Rio de Janeiro: a credibilidade de um cidadão digno, de um político respeitável e, nesse caso, a credibilidade da própria Política, com P maiúsculo, no campo da esquerda democrática.

O propósito é escandalosamente evidente: Freixo foi um dos únicos que mantiveram a reputação intocada, durante e depois do maremoto de junho. As manifestações decretaram o colapso da representação, tal como praticada no Brasil. Poucas lideranças resistiram ao terremoto. Freixo é uma dessas raríssimas exceções no Rio, e mesmo no país. Tornou-se um personagem público com autonomia e lastro para transcender partidos, ceticismos, acusações generalizantes. Freixo é um dos poucos deputados que atravessam as ruas de cabeça erguida e, sem qualquer veleidade messiânica ou discursos dogmáticos, têm potencial para salvar a política do pântano em que a meteram.

Não é só a esquerda democrática que, hoje, precisa dele. É a democracia brasileira. Atingir de forma grotesca esse potencial de revitalização da vida política, capaz de articular as ruas e as instituições, é um verdadeiro ataque à República. Não me cabe especular sobre motivações, mas cumpre compartilhar o que me parece óbvio: a artilharia pesada do sistema Globo quer fazer com Marcelo, no plano moral e político, o que as milícias não conseguiram, no plano físico. Há no ar uma tentativa de assassinato moral absolutamente irresponsável. E nós? E os que concordamos com essa análise e aprendemos a respeitar Marcelo Freixo? Vamos deixá-lo sozinho? Ele não deixou a sociedade entregue à própria sorte quando decidiu arriscar a vida para combater as máfias milicianas. Até hoje não pode dar um passo sem a cobertura da segurança armada. É nossa vez de retribuir. Marcelo Freixo não vai ficar sozinho. Vamos promover um ato supra-partidário de desagravo? Quem concorda comigo, por favor, diga sim, presente, ou cante o hino nacional de pé e se emocione, mas não se esqueça de digitar aqui, SIM.

Luiz Eduardo Soares é antropólogo, cientista político e escritor. Já foi secretário de estado de segurança pública do Rio de Janeiro. Atualmente leciona na UERJ.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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