Neste final de semana, estorou nas redes sociais uma foto de Joaquim Barbosa ao lado de um sujeito com mais de duzentos processos judiciais nas costas, e que até 2007, quando ganhou um habeas corpus de Ayres Brito, era considerado foragido pela Justiça brasileira.
O Nassif publicou um post hoje debatendo os excessos da parcialidade política na blogosfera. A gente reclama que a mídia é extremamente parcial, mas – argumenta Nassif – os blogs também pisam na bola ao pegar no pé de Joaquim por uma foto ao lado de um sujeito que ele, provavelmente, nem conhecia.
A mídia não perdeu tempo. Globo, Folha e Estadão publicaram textos tentando blindar a imagem de Barbosa e atacando os blogs, sempre mencionados como “alinhados ao petismo”, etc. Toda aquela ladainha de sempre.
Concordo com o Nassif. Mas com uma ressalva. Não podemos esquecer que os blogs, em geral, não posam de imparciais, nem sequer isentos. Muito menos se arvoram em paladinos do politicamente correto ou da lhaneza aristocrática. Um pouco de malícia não mata ninguém, e boa parte dos blogs e seus comentaristas são cidadãos que gostam de se expressar com uma veemência que às vezes flerta com a ofensa. Isso é a vida real. A liberdade de expressão não é limpinha. É suja, caótica, apaixonada.
A diferença dos blogs em relação à mídia é que eles são plurais e democráticos. Qualquer um pode ter um blog. Já a grande mídia, no Brasil, tem um histórico mais complicado; consolidou-se com dinheiro público, financiamento estrangeiro clandestino e suporte a ditadura.
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Barbosa é encarado como um adversário político porque ele se comporta não como um juiz, mas como um político.
E ninguém perdoa político.
Além disso, a foto tinha sim um valor jornalístico. Mostra Barbosa em Miami com um de seus mais fanáticos eleitores. A maneira como o tal sujeito ficha-suja se refere a Barbosa não é como se tratasse de um político. Barbosa é idolatrado por Mahfuz como um “justiceiro”. Em caixa alta.
Não deixa de ser didático e alarmante que uma parcela do eleitorado tenha essa visão de democracia, de que a solução para o Brasil é um presidente “justiceiro”. É uma visão antidemocrática, incentivada pela própria mídia, que transformou Barbosa em heroi não por suas qualidades, mas por sua truculência e parcialidade.
Além disso, é um tanto engraçado que um sujeito com tantos problemas na justiça tenha tanta admiração por um juiz conhecido pela falta de cuidados com o direito de réus. Ou seja, o valor de Barbosa enquanto justiceiro é tão alto para Mahfuz, que ele sequer pensou que, se ele fosse um petista e estivesse sendo julgado por Barbosa, teria motivos para sérias preocupações. Barbosa, ao contrário do que alguns pensam, não inspira medo em criminosos de colarinho branco; estes o vêem como alguém que persegue apenas petistas, e por isso, o idolatram, por se identificaram com o antipetismo.
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Se você pensar bem, a brincadeira com Barbosa foi inocente. Afinal, era bem óbvio que Barbosa aparece na foto apenas como uma “celebridade” ao lado de um fã. Podia acontecer até com Dalai Lama. Não é o tipo de malícia que vinga por muito tempo. Por que então o nervosismo da mídia em blindar Barbosa, “desmontar” a imagem e atacar os blogs?
Simples, porque eles se sentiram também ameaçados. Barbosa é uma imagem importante para a grande mídia, porque é seu marionete de estimação. Ninguém pode falar mal de Barbosa perto dos jornalões e revistões. Ele tem que manter a aura de santo. Só que não está mantendo, e a mídia está nervosa ao ver a imagem que construiu com tanto zelo sendo descontruída por um punhado de malucos sarcásticos da internet.
Entre a imparcialidade hipócrita da mídia, que mal esconde seu cinismo e suas más intenções, e o sarcasmo quase diabólico, mas franco, assumidamente parcial, das redes sociais e da blogosfera, eu prefiro este último. Podemos passar do ponto, flertar quase com a ofensa e com a baixaria, como se estivéssemos num boteco, mas ao menos sabemos de que lado estamos. E ter lado, em política, é o primeiro passo para saber o que almejamos.