Em convenção realizada neste sábado, que teve a participação do presidente nacional do partido, Rui Falcão, o PT-RJ finalmente decidiu sair do governo Cabral, o que constitui uma vitória especial para o senador Lindbergh Farias, cuja candidatura ao Palácio Guanabara dependia desse movimento para se consolidar.
Os estrategistas da campanha de Dilma (entre eles, Lula) atrasavam a saída do PT do governo Cabral por temer a agressividade de alguns caciques do PMDB fluminense. Alguns dos mais temidos líderes pmedebistas estão no Rio, como Eduardo Cunha e Jorge Picciani. O primeiro tornou-se um dos mais influentes líderes do “centrão” a nível nacional, e não só junto ao PMDB. O segundo, presidente do PMDB-RJ, nunca hesitou em fazer ameaças diretas à campanha de Dilma, na tentativa de minar a candidatura de Lindbergh e forçar o PT a apoiar o candidato de Cabral, Luiz Fernando de Souza, o Pezão.
Picciani certamente ainda não engoliu a sua derrota na campanha para senador em 2010, quando era o candidato de Cabral e, em tese, também da base aliada. Lindbergh veio correndo por fora, recebeu apoio de Lula e Dilma, e ganhou a eleição, ocupando uma das duas vagas abertas aquele ano. A outra foi ocupada por Marcelo Crivella.
Entretanto, Lindbergh tem dois trunfos importantes. Um deles é o derretimento incrível da aprovação do governo Cabral. O governador caiu de um arranha-céu. Elegeu-se com votação recorde, entrou no início do governo com popularidade nas alturas, e agora encerra a sua gestão como o governador mais impopular no país.
Cabral não é mais, definitivamente, um bom cabo eleitoral para Dilma Rousseff.
Lindbergh, por sua vez, pode ser de grande valia para a campanha presidencial petista, além de oferecer uma alternativa de esquerda a um eleitorado que, após as manifestações de junho, radicalizou-se de maneira notória. Aliás, uma coisa liga-se à outra.
O senador nasceu politicamente no meio de manifestações juvenis, conhece a dinâmica, as contradições e as ansiedades do jovem que protesta na rua. Terá condições, portanto, de lidar com um dos vetores mais delicados do processo eleitoral deste ano – e não só a nível regional – com um know how que talvez falte aos estrategistas do Palácio do Planalto.
O segundo trunfo de Lindbergh é sua posição nas pesquisas de intenção de voto. Uma das mais recentes, feitas pelo Datafolha em novembro do ano passado, o posiciona num confortável segundo lugar. Eu editei e separei os gráficos para torná-los mais amigáveis. Confiram abaixo. Faço alguns comentários em seguida.
Para simplificar, vou analisar um cenário sem a participação de Crivella e sem Bernardinho (PSDB). Mas o cenário com Crivella não altera em muito as observações que farei aqui, até porque Crivella poderá tirar mais votos de Garotinho do que de Lindbergh. E Bernardinho, com todo o respeito a esse grande técnico do volei brasileiro, ainda não fede nem cheira em termos eleitorais.
Lindbergh lidera em dois segmentos importantes num estado como o Rio de Janeiro: entre os eleitores com ensino superior e entre as camadas mais ricas da sociedade. Ou seja, num estado altamente midiatizado como o Rio, sede das Organizações Globo, Lindbergh lidera entre os chamados “formadores de opinião”, o que facilitará a sua blindagem quando os ataques mais pesados começarem a acontecer.
A liderança de Garotinho se dá, principalmente, entre os mais pobres. Entretanto, com a entrada de Lula e Dilma na campanha, e com o horário eleitoral, Lindbergh deverá disputar pau a pau com Garotinho a hegemonia eleitoral junto a esse público.
O dado que mais me chamou a atenção nesse segundo gráfico foi a força de César Maia junto ao eleitorado com mais de 60 anos. Nesse segmento, ele fica em segundo lugar, com 16%, atrás apenas de Garotinho, que também possui uma força notável na terceira idade, com 32%. Lindbergh tem 12% nesse eleitorado.
Garotinho também tem uma força especial entre os jovens até 24 anos, onde pontua 28%, contra 20% de Lindbergh. Entretanto, na faixa que vai de 25 aos 59 anos, Lindbergh tem vantagem: empata com Garotinho entre os jovens com 25 a 34 anos, e ganha a liderança na faixa dos que ganham entre 35 a 59 anos.
Conclusão: a eleição no Rio deverá ser bastante competitiva, muito longe da barbada cabralesca que vimos em 2010. Temos quatro ou cinco candidatos que detêm votações substanciais garantidas: Garotinho, Lindbergh, Crivella, Pezão e Jandira Feghalli. Esta última, do PCdoB, não consta da pesquisa Datafolha, mas é uma candidata forte no estado.
Com muito pouco tempo de TV e ainda rompido com o PSDB local, César Maia não deve ganhar muita força. Por isso, deixei-o de fora dessa equação. E deixei Pezão no ranking porque, apesar do mau momento de Cabral e de sua própria pontuação baixa nas pesquisas, não se pode jamais desprezar a força da máquina do governo do Estado.
JOSÉ MARCIO TAVARES
19/01/2014 - 21h10
O Vilmar com certeza não conhece o RJ, não conhece o candidato nem o PT do RJ.