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Conta na Suíça de Pizzolato é novo factóide?

Parentes de Pizzolato contatados pelo blog, que ainda tem contato com ele, negaram peremptoriamente a existência de tal conta.

7 comentários
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A pauta do mensalão é cansativa. A mídia tenta se impor pelo cansaço. É humanamente impossível rebater a contento a artilharia diária de mentiras, distorções e manipulações.

Em se tratando de Henrique Pizzolato, acusá-lo virou uma espécie de esporte, praticado inclusive por pessoas de boa fé, não ligadas à mídia. Em novembro do ano passado, até mesmo o nosso velho Nassif, ao escrever um post em que denuncia o erro da Procuradoria e do Judiciário no caso Visanet, pois o dinheiro teria sido regularmente usado em campanhas publicitárias, vem com uma acusação insólita:

Antônio Pizzolato cometeu crime, sim, mas de outra natureza e gradação. Trabalhou para antecipar o pagamento à DNA, antes de executados os trabalhos. Aplicando no mercado financeiro, a DNA teve um lucro estimado de R$ 2 milhões. Em troca, Pizzolato recebeu os R$ 326 mil de Marcos Valério, que provavelmente não se destinavam ao caixa do PT, conforme alegado por ele.”

É surreal. Em primeiro lugar, quando se trata de acusar Pizzolato, parece que todos os cuidados se esvaem. Nassif não se preocupa sequer em escrever seu nome corretamente. Não é “Antônio Pizzolato”. É “Henrique Pizzolato”. E o erro continua lá, três meses depois…

Em segundo lugar, os documentos mostram que Pizzolato não tinha nenhuma ingerência sobre os fundos da Visanet, cuja gestão financeira estava a cargo de outros servidores. Como pode ter “trabalhado” para pagar antecipadamente à DNA?

Em terceiro lugar, a DNA vinha recebendo esse tipo de antecipação há muitos anos, muito tempo antes da entrada de Pizzolato na direção de marketing do Banco do Brasil. Se você ler o Laudo 2828, ou as auditorias do Banco do Brasil sobre a relação entre a DNA, o BB e a Visanet, encontrará um monte de advertências contra eventuais irregularidades (não necessariamente criminosas), mas as principais delas aconteceram antes da entrada de Pizzolato.

A grande ironia é que a gestão de Pizzolato promoveu uma série de reformas no sentido de dar mais transparência e rigor aos contratos publicitários do Banco do Brasil. E que, durante sua gestão, o Banco do Brasil conseguiu ampliar de maneira espetacular o seu market share no uso de cartão de débito no país.

Hoje a própria defesa de Dirceu é a primeira a afirmar que o desvio de R$ 74 milhões do Fundo Visanet – do qual se acusa Pizzolato – é o pilar de toda a farsa da Ação Penal 470.

E agora, a mídia aparece com outra informação bombástica: Pizzolato teria movimentado conta na Suíça com até 2 milhões de euros.

Parentes de Pizzolato contatados pelo blog, que ainda tem contato com o mesmo, negaram peremptoriamente a existência de tal conta. E perguntam:

“Que conta é essa, tão secreta, que não se sabe nem o banco?”

De fato, as notícias sobre a conta na Suíça de Pizzolato não poderiam ser mais vagas.

Hoje, o Globo repercute a notícia. Como todos os outros jornais, a fonte é o Estadão, agora convertido em fonte primária. Folha, Veja, Brasil 247 também deram a notícia sobre a conta , sempre citando o Estadão, como se o Estadão fosse o próprio governo Suíço.

Só que o próprio Globo, ao publicar a matéria, traz uma informação contraditória, escondida envergonhadamente ao final dela:

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Ué, a própria nota do Globo inicia dizendo que “autoridades brasileiras e suíças investigam uma conta secreta movimentada por Henrique Pizzolato”. Como é que, após tal início, a matéria desmente a si mesma dizendo que as autoridades suíças “desconhecem” qualquer cooperação neste sentido?

Essa nova informação da Globo desmente todas as notícias anteriores. E aí? É incrível como, em se tratando de mensalão, qualquer preocupação com objetividade, coerência, ou simples bom senso, vão para o beleléu.

Estaremos diante de mais um factóide? De mais uma mentira?

Os familiares de Pizzolato lembram que uma das primeiras medidas da Justiça, quando começou a investigar o réu, foi quebrar todos os seus sigilos. Com anuência do próprio Pizzolato, que considerava isso uma questão de honra. Sua vida financeira e fiscal foi devassada em mais de 25 anos. Não se encontrou nada.

E agora descobrem uma conta de 2 milhões de euros na Suíça? No caso das contas suíças dos trensaleiros, sabemos o banco, o número da conta, há documentos, datas de saques e depósitos. Com Pizzolato, não há necessidade de nada disso. Não se informa banco, nem número da conta, nem nada. É apenas uma “suposta conta”, que ele “supostamente” teria utilizado.

Ora, sou um blogueiro adulto. Não me surpreenderia se até o Papa tivesse uma conta secreta na Suíça. Ficaria espantado, até mesmo decepcionado, se descobrisse que Pizzolato escondia uma gorda conta secreta na Suíça. Mas não seria a primeira vez que teria esses sentimentos, nem isso mudaria a minha convicção, baseada em documentos, de que o dinheiro da Visanet não foi desviado, nem era público.

Se o Estadão e as misteriosas autoridades que lhe deram a informação, apresentarem provas convicentes sobre a tal conta na Suíça de Pizzolato, aí sim, cogitarei em levar o assunto a sério. E mesmo assim, ainda terei de investigar por conta própria, porque infelizmente não dá para acreditar em nada do que diz a mídia brasileira, sobretudo quando o tema é mensalão.

Só que não posso levar a sério esse tipo de acusação, apresentada sem nenhum tipo de prova, ainda mais considerando o histórico de mentiras que caracterizou toda a Ação Penal 470.

Se a mídia ou “autoridades” têm alguma prova de que Pizzolato tem “conta secreta” na Suíça, terão que oferecer alguma coisa mais concreta. Não existe “suposta conta”, ninguém faz “supostos saques”. Ou a conta existe ou não. Ou se faz saque ou não. Quando eu disse que a família Marinho, proprietário da Globo, tinha conta no Panamá, eu apresentei documento. Quando dei o furo da sonegação da Globo, apresentei documentos. Temos que nos acostumar a só fazer acusações se há provas para fazê-las. Da mesma forma, só devemos acreditar em acusações minimamente embasadas em provas.

Da parte das fontes no Brasil, também nota-se algo estranho. Os jornais ora falam que é a Polícia Federal que investiga a suposta conta de Pizzolato na Suíça, ora falam que é o “governo do Brasil”, ou “governo brasileiro”.

Mas também não há nenhuma identificação. Nenhum delegado, nenhum departamento específico da PF, nada.  O Brasil 247 ilustra o post em que reproduz a matéria do Estadão com uma foto do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso; só que o Cardoso não deu nenhuma declaração sobre a suposta conta na Suíça de Pizzolato. Ao contrário, afirma outra coisa, que desvia o assunto para outra esfera:

“Caso o governo italiano entenda que ele não possa ser extraditado, a alternativa será voluntária do governo brasileiro. Enviaremos cópia para que a Justiça italiana o processe lá. Se ele for condenado como cidadão italiano, cumprirá pena lá”, declarou Cardozo, esclarecendo que, por ter cidadania italiana, um eventual pedido de extradição de Pizzolato poderia ser negado.

A declaração de Cardoso foi imediatamente abafada por toda a mídia, que morre de medo de que o mensalão seja investigado na Itália, por um Judiciário fora de sua zona de influência.

O fato é que o mensalão, enquanto um processo político, não é, definitivamente, uma página virada. Muitas águas correrão ainda por essa ponte…

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Anônimo

19/01/2014 - 06h55

Miguel, você sempre atento e colocando os devidos pontos nos iiiiis!
Confesso que li a notícia sobre esta conta no 247. Fiquei incialmente decepcionado e depois passei a pensar que tal conta poderia ter sido criada a partir do planos de ele sair do Brasil ( o que seria até compreensível). Mas, de fato, você está coberto de razões… não há porque se confiar em nenhuma informação sobre este episódio vinda da mídia. Para mim era um fato e não uma suposição.
Espero sinceramente que o mensalão do PT não seja uma página virada… e que novas aguas comecem a mudar esta história construída pelas elites. Quanto ao mensalão do PSDB não tenho qualquer esperança… vamos aguardar para ver. Não acredito que o Barroso vá usar a mesma métrica do Barbosa… dará um tratamento adequado, como adequado foi o seu desmembramento.

Mirian Belchior

18/01/2014 - 23h39

Claro !!!!!!!!!!!!

Francisco de Assis

18/01/2014 - 13h21

Já se ouve à boca pequena no supremo que a tese vencedora, no caso do julgamento da máfia tucana do Azeredo/PSDB, mostrará que era privado o dinheiro roubado da CEMIG-COPASA-BEMGE-COMIG.

A razão para a confiança na absolvição do mafioso é simples: quem demonstrou que o dinheiro da multinacional VISA era público demonstra qualquer coisa.

Anchieta Vidal

18/01/2014 - 13h30

querem pizzolato mandem o barbosa trazer ele ,a boca é quente pra barbosa mexer com pizzolato ele sabe porque não mexer com pizzolato quanto menos ele mexer com pizzolato melhor pra ele.

Ermindo Castro

18/01/2014 - 13h29

precisam explicar quem foi o benificiado pela Visanet!!! e o mensalão470!!!!n e com contratos especias !!!

Carlos Mendes

18/01/2014 - 13h16

Enquanto os Deputados não votarem a Lei de Direito de resposta, já aprovada no Senado, a velha mídia que serviu e se beneficiou da ditadura vai continuar plantando noticias e manipulando a informação em beneficio próprio.

Fernando Castilho

18/01/2014 - 13h13

Mais perseguição.


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