O pessimismo militante da velha mídia passou de todos os limites e já está se tornando uma caricatura de si mesmo.
Nossa mídia escondeu, por exemplo, a explicação para o declínio do saldo comercial no ano passado.
A tabela abaixo, trazendo números do comércio exterior em 2012 e 2013 com e sem petróleo e derivados, nos permite tirar várias conclusões instrutivas.
O saldo comercial de 2013, caso não fosse contabilizado o petróleo e derivados, não seria muito diferente do registrado no ano anterior.
Ou seja, o déficit no saldo comercial se deu principalmente pelo aumento das importações de combustíveis, que aumentaram em 16% em 2013.
Sem o petróleo, o saldo comercial em 2013 ficaria em 22,84 bilhões de dólares, contra 24,77 bilhões no ano anterior.
A importação total em 2013, sem o petróleo, ficaria em 196,9 bilhões de dólares, apenas 4,6% superior à registrada em 2012.
As exportações brasileiras em 2013, sem o petróleo, cresceram 3,1% sobre o ano anterior.
Ou seja, se desconsiderarmos o petróleo, os números do comércio exterior apresentariam um quadro bem melhor.
O leitor poderá perguntar: e daí?
Se o Brasil fosse um país sem produção de petróleo e sem perspectiva de aumentar a produção e exportação de petróleo, os números do comércio exterior em 2013 seriam preocupantes, porque apontariam um quadro crescente de déficits comerciais para os próximos anos.
Acontece que o setor brasileiro de petróleo vive a véspera de uma grande mudança, com a entrada em produção dos novos poços do pré-sal, de gás e petróleo líquido.
Ou seja, o único ponto fraco do comércio exterior brasileiro em 2012, é justamente o segmento mais promissor do país: a produção de combustíveis e derivados de petróleo.
Isso quer dizer que os déficits comercial provocados pelo petróleo serão em breve substituídos por generosos superávtis.
Se os colunistas e analistas de banco não estivessem tão obcecados em encontrar elementos para depreciar o país, poderiam abordar esses avanços e usá-los para atrair mais investidores ao Brasil.
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E a Folha de hoje traz manchete que, desde já, se anuncia como uma das mais ridículas do ano.
E tudo porque “analistas” consideram que o desemprego pode aumentar em até 1% em 2014… E não por fechamento de vagas, mas por aumento da procura.
A manchete é ridícula pelo notório tom de pessimismo militante, um dia após um de seus melhores colunistas, Janio de Freitas, ter denunciado, em artigo brilhante, essa postura eternamente negativista da grande imprensa.
O desemprego pode até aumentar 1% em 2014, visto que ele fechou o ano em nível tão baixo que qualquer oscilação, se houver, pode se dar para cima. Mas se o próprio jornal diz que isso não se dará por fechamento de vagas, qual o sentido em dar essa manchete negativa? O próprio negativismo, ao propagar um quadro falsamente ruim, parece incentivar a demissão de trabalhadores.
A razão alegada, de “aumento dos preços”, também é falsa, visto que a inflação dos últimos meses tem apresentado queda.
Além disso, anos eleitorais costumam, tradicionalmente, assistir a aumento da oferta de empregos, em função do aumento dos investimentos públicos, com governos tentando mostrar serviço na última hora.
A informação na reportagem, de que “2013 pode ter a mais baixa criação de empregos desde 2003” repisa uma velha falácia, que já denunciei mil vezes por aqui. Se o desemprego cai muito, aproximando-se de zero, a geração de novos empregos tende também a zero, visto que há equilíbrio entre a oferta e a demanda. É matematicamente impossível haver saldo de empregos num cenário de desemprego zero. Os saldos apenas são grandes quando há grande quantidade de mão-de-obra disponível.
PS: Há ainda a possibilidade da mídia estar preparando um golpe baixo. Tradicionalmente, o saldo de emprego em dezembro fica bastante negativo, porque as indústrias e lojas demitem as pessoas que contrataram provisoriamente para as vendas de fim de ano. É normal e acontece todo ano um repique em torno de 1% no desemprego no início do ano. Será que a nossa velhíssima e manjada imprensa vai usar isso para fazer terrorismo?