Por fim descobrimos que a nossa ditadura esteve muito longe de ser uma “ditabranda”, conforme sugeriu o editor da Folha, há poucos anos.
Primeiro, o instituto João Goulart, ao entrevistar um oficial aposentado, conseguiu a informação de que o general Amaury Kruel, homem de confiança do presidente, fora traído por seis malas de dólares.
Essa é uma lição que deveríamos ter aprendido. O fato de um presidente escolher uma autoridade não lhe garante lealdade. Nem honestidade. Joaquim Barbosa que o diga.
A única coisa que garante lealdade e integridade moral de um homem público é a seu compromisso com o povo e com a soberania popular. É entender que os valores democráticos não podem ser trocados por um emprego para o filho na Globo, e por um prefácio no livro de Merval Pereira.
Agora, a Comissão da Verdade do município de São Paulo, que pelo jeito está mais ativa e competente que sua irmã nacional, afirma que Juscelino Kubischek foi assassinado. Nesta semana, talvez ainda nesta terça-feira, serão divulgados os documentos.
Com isso, aumentam as suspeitas de que João Goulart também foi morto. E que o modus operandis da ditadura era muito mais brutal, assassino e pérfido do que imaginávamos.
Enquanto o debilóide do Lobão fala em chamar Lula para depor na Comissão da Verdade, impõe-se cada vez mais que são os barões da mídia é que deveriam estar lá, explicando à sociedade até onde eles conheciam os segredos da ditadura. Seus pais foram os articuladores do golpe, e suas empresas se beneficiaram financeiramente do atentado monstruoso à nossa democracia.
Quem mais foi assassinado de maneira sorrateira, de maneira “casual”, como se se tratasse de acidente? Havia algum serviço estrangeiros por trás dessas ações?
A história brasileira precisa ser reescrita. Mas já temos elementos suficientes para entender que o golpe de Estado teve participação muito forte do interesse estrangeiro. E o poderio norte-americano, que tanto admiramos hoje, bebeu boa parte de sua força em nossas veias.
Também é importante deixar claro que a ditadura foi sustentada por nossa mídia, a começar pela Rede Globo, como esse vídeo abaixo deixa claro. É um documentário exibido na Globo em 1975, em que se exaltam os feitos da ditadura e se demoniza o momento democrático que antecedeu ao golpe.
O Brasil precisa rever a sua história e usar a imaginação para conceber o que perdemos. Enquanto os países desenvovidos viviam uma era de liberdade, efervescência cultural, euforia democrática e avanços na educação e nos salários, a ditadura nos fez viver um pesadelo sombrio: censura, arrocho salarial, truculência do Estado.
Para mim é evidente que este foi o grande crime político da nossa história. Quando faremos justiça? Quando os verdadeiros culpados dessa atrocidade contra nosso destino serão responsabilizados? Não sou nenhum sádico como os coxinhas psicóticos. Não quero ver nenhum velho doente morrendo numa prisão. Quero ver somente a verdade sendo dita, nas escolas, na imprensa, nas ruas.
Ainda temos um bocado de entulhos da ditadura a serem varridos para fora do recinto democrático. Ainda temos contas a acertar com nosso passado. Talvez seja isso que esteja bloqueando nosso crescimento. Sem encarar o passado, com decisão e coragem, não teremos condições de construir nosso futuro.