O ridículo esforço da Folha para igualar Abin à NSA

Fernando Rodrigues explicou hoje, em sua coluna, sem nenhum pudor, a razão pela qual a Folha insiste na mais esdrúxula teoria dos últimos séculos: o medo de que Dilma fature eleitoralmente com o escândalo da espionagem americana. Por isso está insistindo que a espionagem da Abin, o serviço brasileiro de inteligência, é igual ao da NSA, o serviço secreto norte-americano. A diferença é apenas uma questão de escala.

“A Abin, vá lá, não é a NSA. Já a espionagem é espionagem em qualquer lugar”, conclui o jornalista.

Vá lá?

Espionagem é espionagem em qualquer lugar?

A Folha noticiou outro dia que agentes da Abin seguiam “a pé” diplomatas do Iraque, em território brasileiro, no auge da guerra naquele país, e quer comparar isso à quebra de sigilo de milhões de pessoas em todo mundo?

A NSA quebrou os sistemas criptografados de emails, redes sociais de quase todo mundo, usando poderosos softwares que fazem triagem eletrônica. Companhias telefônicas com presença no Brasil colaboraram com o serviço secreto americano, fornecendo dados sigilosos ao governo americano. O celular pessoal da presidente foi grampeado.

Mais que isso: a NSA subornou ou ameaçou as grandes empresas de tecnologia para que implantassem sistemas criptografados “amigáveis”, “compatíveis”, com os programas eletrônicos de vigilância desenvolvidos pela agência americana.

E a Folha quer fazer seu leitor acreditar que isso é a mesma coisa que seguir diplomatas a pé ou vigiar a portaria de uma embaixada?

Fernando Rodrigues é um dos mais inteligentes jornalistas da Folha. O que ele está fazendo é cumprir uma obrigação política imposta por seu patrão, Otávio Frias Filho.

Mas isso é simplesmente ridículo.

Abaixo, a matéria de Fernando. Volto em seguida.

Espionagem e eleição

FERNANDO RODRIGUES, NA FOLHA

BRASÍLIA – A melhor observação que ouvi sobre a espionagem de diplomatas estrangeiros por parte do governo brasileiro foi uma pergunta: “Você acha que a Abin é a NSA?”. O questionamento veio de dentro da administração Dilma Rousseff.

De fato, a Agência Brasileira de Inteligência não é a Agência de Segurança Nacional (o nome traduzido da NSA, dos EUA). A começar pelo orçamento e pelo acesso à tecnologia.

Mas não é esse o ponto. A indagação adicional a ser feita é a seguinte: como atuaria a Abin se tivesse todos os recursos da NSA? Ou mais: resistiria a bisbilhotar a tudo e a todos como faz a contraparte norte-americana? Essas perguntas, é claro, não têm repostas. Teriam de ser testadas na prática –num cenário hoje inexistente. Só que ninguém está proibido de imaginar como seria o serviço secreto brasileiro desfrutando dos mesmos meios da NSA.

O fato é que o sentimento geral do governo brasileiro foi de desalento ao ler a reportagem de Lucas Ferraz, na Folha, relatando como atuou a Abin no início do governo Lula. Não porque haverá alguma repercussão de grande monta no cenário internacional. Tratou-se de uma espionagem mambembe. O problema maior é a erosão do discurso eleitoral interno, já em uso e a todo o vapor.

Dilma Rousseff havia tirado a sorte grande com o caso de espionagem dos EUA. Nada mais popular do que uma presidente da República se levantar, indignada, contra a intrusão ilegal dos norte-americanos nos telefonemas privados do governo brasileiro. Quem há de ser contra? Para melhorar as coisas, a petista maquinou uma aliança com a Alemanha na formulação de um plano mundial contra a violação de comunicações.

Tudo ainda poderá ser usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas sempre haverá o contraponto da Abin seguindo estrangeiros no Brasil. A Abin, vá lá, não é a NSA. Já a espionagem é espionagem em qualquer lugar.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br

*

A tese de Fernando, de que, se tivéssemos os mesmos recursos da NSA, faríamos o mesmo, é uma das maiores falácias morais que já li nos últimos anos.

Sim, Fernando, somos todos iguais. Você, jornalista da Folha, poderia ser um terrorista da Al Qaeda, se tivesse sido criado na Arábia Saudita ou no Afeganistão. Poderia ser Bin Laden, se além disso, tivesse “todos os recursos” do milionário saudita.

A questão, Fernando, é o desequilíbrio entre as nações, que gera tensões e injustiças, e precisa ser regulado por um rígido sistema internacional de leis e normas.

Segundo Fernando, “Dilma Rousseff havia tirado a sorte grande com o caso de espionagem dos EUA”.

Sorte grande?

A espionagem americana foi terrivelmente agressiva. Espionaram a Petrobrás e o celular da presidente. Como Fernando sabe que não foram obtidas informações estratégicas que podem comprometer a nossa economia e o futuro de milhões de brasileiros? Como sabe que a própria Dilma não poderá ser prejudicada futuramente, com a revelação de algum segredo pessoal?

Como é possível alguém ser tão alienado, irresponsável e antipatriota a ponto de não enxergar esses perigos?

Como é possível alguém não saber a diferença entre a montagem de um sistema de espionagem imperialista, na escala feita pela NSA, tendo como alvo todos os brasileiros, e a contra-espionagem defensiva feita pela Abin, com agentes seguindo “a pé” dois ou três diplomatas de países metidos em guerras? Ou ainda, no caso dos franceses, fazendo uma contra-espionagem necessária para saber se houve sabotagem da nossa base de lançamento de satélites em Alcântara, destruída por um acidente bizarro.

A nossa mídia, como sempre, defende os interesses imperialistas dos Estados Unidos. Receberam dinheiro dos EUA para apoiar o golpe de 64 (embora teriam feito o serviço até de graça), veicularam sempre suas versões de guerra, e agora novamente tentam recuperar a imagem do governo americano junto à opinião pública brasileira.

Assim eu fico até achando que, houvesse novo golpe patrocinado pelos EUA, um golpe mais moderno, mais tecnológico, os nossos jornais trairiam mais uma vez a nossa democracia e a nossa soberania, em prol de um punhado de dólares em seu departamento de publicidade.

Logo cedida gentilmente pelo blog Esquerdopata.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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