Tem briga na Casa Grande!
Miriam Leitão, em sua coluna de domingo, manda petardos sem dó na direção de Reinaldo Azevedo.
Trechos:
“O Brasil não está ficando burro. Mas parece, pela indigência de certos debatedores que transformaram a ofensa e as agressões espetaculosas em argumentos.”
“Suzana Singer foi muito feliz ao definir como “rottweiller” um recém-contratado pela “Folha de S.Paulo” para escrever uma coluna semanal. A ombudsman usou essa expressão forte porque o jornalista em questão escolheu esse estilo. Ele já rosnou para mim várias vezes, depois se cansou, como fazem os que ladram atrás das caravanas. Certa vez, escreveu uma coluna em que concluía: “Desculpe-se com o senador, Miriam.” O senador ao qual eu devia um pedido de desculpas, na opinião dele, era Demóstenes Torres.”
“Não costumo ler indigências mentais (…)”
Só que eu tenho algumas observações a fazer sobre Miriam Leitão. Em primeiro lugar, sua pose de “equilibrada” é totalmente falsa. Eu acompanho sua coluna há anos, e Leitão é uma das próceres antipetistas mais estridentes dos grandes jornais. Não chega perto de Reinaldo, claro, porque Reinaldo é um caso patológico, não jornalístico. Eu parei de ler Reinaldo há anos, porque o que ele escreve é simplesmente idiota. Ele não agrega nenhuma informação ou análise, mesmo que conservadora. Ele apenas late, rosna e tenta morder. Miriam, não. Ela tem substância, mas não pode fingir de isenta. Miriam Leitão foi um verdadeiro sustentáculo do governo FHC, e todos os prêmios que ganhou advieram desse papel.
Nessa própria coluna, onde assume um papel (rídículo, no caso dela) de “caminho do meio”, criticando radicalismos à esquerda ou direita, só tem falácias.
Por exemplo, esse trecho:
“O PT não se resume ao mensalão, ainda que as tramas de alguns de seus dirigentes tenham que ser punidas para haver alguma chance na luta contra a corrupção. Um dos grandes ganhos do governo do Partido dos Trabalhadores foi mirar no ataque à pobreza e à pobreza extrema.”
Eis mais uma variante da tese de linchamento. Como não há provas do mensalão, a justificativa para punição dos réus petistas está sempre do lado de fora, num suposto exemplo a ser dado a sociedade. Leitão diz que a prisão tem que ocorrer para “haver alguma chance na luta contra a corrupção”. Essa é forte. E a prisão de Daniel Dantas, Demóstenes Torres, FHC, Serra, essas aí não precisam ocorrer, né.
Outra falácia é passar ao leitor a impressão de que a única coisa que o PT fez foi reduzir a pobreza e miséria. Se fosse só isso, já seria um grande mérito. Mas o fato é que a gestão macroeconômica do PT foi infinitamente superior à do PSDB. Lula pegou um país estourado, com alta inflação, endividamento externo nas alturas, risco país explosivo, dívida líquida subindo descontroladamente, juros malucos.
A “estabilidade” de FHC foi obtida através de medidas macroeconômicas não sustentáveis, como um aumento muito forte do endividamento externo, crescimento do desemprego, redução de consumo e declínio das exportações. O governo Lula trouxe a verdadeira estabilidade, aquela baseada num consumo pujante, aumento das exportações, e queda no desemprego.
Entretanto, o que eu acho mais grave é que a coragem de Miriam Leitão, ao defender Suzana Singer e atacar Azevedo, é um tanto tardia. Reinaldo Azevedo fez ataques diretos e pessoais muito mais graves contra Tereza Cruvinel, na época em que ela era sua colega de Globo.
Ninguém no Globo defendeu Cruvinel, nem Miriam Leitão. Foram ataques sistemáticos, racistas, chamando Tereza de “cabocla”. Os ataques racistas continuaram após a saída de Tereza do Globo e sua entrada no governo.
Eu defendi Tereza, na época em que ela trabalhava no Globo. Eu fazia o blog Óleo do Diabo e publiquei vários posts denunciando o racismo, a grosseria e a estupidez de Azevedo. Tereza me escreveu, agradecendo, e a partir daí trocamos vários emails.
Miriam Leitão não mostrou nenhuma solidariedade pública a sua colega. Miriam, na época, estava profundamente imersa no espírito de ódio insano, no moralismo messiânico e hipócrita, que dominou o Globo durante o primeiro mandato de Lula. Não era, nunca foi, nenhum arauto do equilíbrio.
Sem nenhum contraditório na grande mídia, Reinaldo “Rottweiler” continuou mordendo inocentes, e a situação de Tereza no Globo ficou insustentável. Ao contrário, Reinaldo tem sido premiado por suas diatribes, como prova seu mais novo brinquedo, uma coluna na Folha.
Portanto, menos, Miriam.
Por outro lado, mesmo que tardia, sua posição é bem vinda. Desde que não procure nenhuma falsa simetria. A grande mídia está toda contra o governo, e dominada por rottweilers. A “suposta esquerda, muito bem patrocinada pelos anúncios de estatais”, a qual você se refere, tentando posar de Buda, não existe. 99% do recursos das estatais também vão para a grande mídia e seus rottweilers. Os anúncios de estatais em dois ou três blogs da esquerda não dariam nem para comprar palitos de dente, se comparado ao valor pago pela grande mídia a seus colaboradores. E nossa mídia foi toda ela consolidada na ditadura, com dinheiro público; e igualmente beneficiada no pós-ditadura, com o conveniente esquecimento de qualquer regulamentação contra a concentração dos meios. No meu caso, em mais dez anos de blogosfera, nunca vi um centavo de dinheiro público. Nem sei o que é isso. E nem quero saber. O que eu queria era a definição de um marco legal e republicano de financiamento, com regras que beneficiassem os pequenos, e não os grandes, como acontece hoje, contrariando os princípios da nossa Constituição, que defende o pluralismo político. E contrariando também os princípios constantes na Carta de Direitos Humanos da OEA, que denuncia diretamente os perigos de oligopólios privados para a democracia.
O governo Dilma, assim como o governo Lula, foram totalmente covardes na questão da mídia. E tem, sistematicamente, cedido às chantagens da direita, e ajudado a asfixiar, através da inação, a esquerda jornalística, a única que exerce um contraponto aos desmandos neoliberais das corporações midiáticas e seus bichos domésticos, sejam eles rottweilers, sejam eles cães mais inteligentes e de aparência menos apavorante.