O final de semana foi histórico. O grito de independência de Celso de Mello deflagrou uma “espiral do silêncio” que, até o momento, agia em favor dos golpistas. O vento mudou de lado. Nos últimos dias, diversas personagens do mundo jurídico, inclusive celebridades do conservadorismo político, atacaram frontalmente os arbítrios e as injustiças da Ação Penal 470.
O exemplo mais estrondoso veio de Ives Gandra, jurista e autor de dezenas de livros sobre Direito, que se tornou célebre na mídia por suas invectivas contra o PT. Neste domingo, Gandra chuta o pau da barraca e diz, em entrevista para Monica Bergamo, na Folha, que Dirceu foi condenado sem provas.
Agora todo mundo está se perguntando: por que só agora? Muitos aventam a possibilidade do jurista já estar pensando no perigo que a teoria do domínio de fato representa para todos os ricaços no país, visto que, segundo ela, qualquer falcatrua na cozinha pode levar à condenação na diretoria.
Pode ser. Não deixa de ser um excelente e justo motivo.
Enquanto o mensalão durou, e especialmente nesses fogosos dias que antecederam o voto de Celso de Mello, foi curioso testemunhar a aparição de uma incrível quantidade de carbonários. O Globo não cansou de repetir um bordão exótico, de que o STF não podia passar a impressão de proteger “ricos e poderosos”.
Um lance arriscado, sem dúvida. Mas há quem goste de viver perigosamente.
A ressaca veio forte. Muita gente acordou com fortes dores de cabeça, remorsos, além do travo amargo de uma histórica derrota política.
Defenderam ardorosamente a guilhotina e agora, passada a tempestade de fúria, temem por suas próprias cabeças.
É curioso observar que a imprensa de São Paulo, sobretudo a Folha, está procurando se descolar do golpismo carbonário da Globo.
O Estadão, pelo que conhecemos dele, vai demorar anos para se recuperar do choque causado pela entrevista de Gandra. Mas é um jornal decadente, com tiragem declinante e contas no vermelho. Não conta mais.
Temos a Veja, que assinou um tremendo recibo de derrota na última semana. Eu fiz um meme lá pro Tijolaço:
Mas a Veja está muito queimada. Virou uma caricatura ridícula de si mesma. Sua ameaça de “crucificar” Celso de Mello selou de vez a sua credibilidade.
Celso de Mello, ao contrário de ser crucificado, ganhou o respeito da comunidade jurídica, à direita e à esquerda. O próprio Lewandowski, até então demonizado pelos setores medíocres da mídia, recebeu um elogio definitivo de Ives Gandra.
Hoje foi a vez de Claudio Lembo, também uma figura de proa do conservadorismo paulistano, chamar a Ação Penal 470 de um processo “medieval”.
Entretanto, não sejamos ingênuos. Ainda há muito o que fazer para desintoxicar a opinião pública brasileira.
O “luto” das atrizes globais é a prova disso. Todos nós temos amigos, parentes, conhecidos, que passaram anos comprando o discurso da mídia.
O próprio STF se vergou à mídia. O voto de Mello foi um “ponto fora da curva”, para usar a expressão que o ministro Barroso usou para se referir à própria Ação Penal 470. E terá dificuldade agora para encontrar uma saída honrosa.
Os ministros estão presos numa armadilha psicológica. Como renegar tudo que fizeram? Além disso, não sendo políticos, não percebem exatamente até que ponto é verdade a história do “clamor popular”.
O próprio Celso de Mello, em seu voto, falava como se do lado de fora do STF houvessem dois milhões de pessoas exigindo a “prisão dos mensaleiros”. Não tinha nem cinquenta, metade deles adolescentes com rosto tapado, que nem sabiam o que estavam fazendo ali; outra metade, atores pagos por algum partido ou quadro político da oposição.
De qualquer forma, temos que nos cuidar. Veja e Globo derrotados, acuados, tornaram-se ainda mais agressivos e perigosos. E igualmente, como se viu, mais desesperados e imprudentes.
A aprovação do projeto do Direito de Resposta, de autoria de Roberto Requião no Senado, representa, neste sentido, um importante avanço democrático, na garantia dos indivíduos contra o arbítrio de uma mídia cujos valores ainda são os da ditadura.
A grande mídia está se isolando e sendo cada vez mais contestada. A audiência dos blogs cresceu de maneira fabulosa nos últimos meses. A gente é que nem bolo; quanto mais eles batem, mas a gente cresce.
Algumas reações químicas fundamentais se dão apenas a partir de certa temperatura. Talvez estejamos chegando perto de uma ruptura definitiva na correlação de forças entre mídia e poder no Brasil.
Suspeito que o Carnaval do ano que vem, ao invés de versos moralistas sobre o mensalão, verá uma profusão de blocos fazendo chacota com a sonegação da Rede Globo.
Eu mesmo já estou rabiscando uns versinhos…
PS: Aproveito para lhe propor reservar, desde já, dois exemplares dos livros que lançarei em novembro deste ano.
Charge de Vitor Teixeira apud Chico Caruso:
Fleury Tavares
24/09/2013 - 00h35
Caro Miguel do Rosário: Parabéns pelo excelente trabalho jornalístico e muito bem humorado, diga-se de passagem, do Cafezinho. Conheci ao ler sobre o site no DCM, do jornalista Paulo Nogueira, e agora junto com o 247, Tijolaço, Blog do Miro são a minha leitura assídua. Realmente esta linha de frente e os demais blogueiros independentes estão oxigenando a cobertura da mídia decadente e viciada que nos manipula há gerações..Abraços, Fleury Tavares, São Paulo
Chico Melo Melo
24/09/2013 - 01h01
Eu gosto myito deste blog por isso. Esclerece
José Widmark
24/09/2013 - 00h53
O povo não é bobo
A porrada vai comer
no Lelé, na mimi e na Waacka
A globo
Depois da sonegação
ela se acaba
Maria Aparecida Coimbra Peixoto
23/09/2013 - 23h44
o dinheiro da sonegcao global da para construir escolas e hospitais com padrao Fifa
Hercules Quintanilha
23/09/2013 - 22h44
O Lembo também:http://wwwterrordonordeste.blogspot.com.br/2013/09/claudio-lembo-e-mais-um-reaca-que.html
Luiz Monteiro de Barros
23/09/2013 - 18h38
Marco Aurélio
de Mello disse em entrevista a Kennedy de Alencar que a ditadura ( cujo nome
deram de revolução) havia sido um mal necessário. Prevenir o que poderia vir.
Nas guerras não se poderia invocar por irracional: guerra de prevenção. Mas é o
que fazem para se impor pela força. Vejam o caso da Síria.
Pois
bem,diante de um ministro que justificou o golpe “preventivo” o que se poderia
esperar dele e de seus pares que aplicam o espúrio principio de prevenção. PREVENIR-SE
QUE A ESQUERDA CONTINUE NO PODER MESMO ELEITA NO PROCESSO DEMOCRATICO.
Como o oposição
está “fragilizada” e a mídia assumiu o partido da oposição em conluio espúrio golpista
do STF estão tentando dar um GOLPE vestindo-o com firulas jurídicas para mascará-lo.
Fazem isso pois não têm armas como as forças armadas que em 1964 foram
cooptadas e agiram
Conclusão – É
o golpe jurídico inconcluso. Que o Brasil não se submeta e precise esperar 20
anos para superá-lo como aconteceu com o das armas.
O Cafezinho
23/09/2013 - 21h06
http://tijolaco.com.br/index.php/conselheiro-nacional-do-mp-denuncia-acao-penal-470-e-peca-de-ficcao/
Denis Oliveira Damazio
23/09/2013 - 20h52
Quem são os outros (além do Gandra)?
Masuko Souza
23/09/2013 - 20h38
Agora quero ver o resultado onde tudo isso vai dar, se o STF assumiu o risco de usar com o PT a teoria de domínio de fato, vai ter político aí morrendo de medo… é só chegar alguém fazendo uma denúncia e pronto… já é considerado culpado! Os tucanos devem agradecer ao JB e aos outros juízes por terem aberto esta possibilidade… Que venham as denúncias…
O Cafezinho
23/09/2013 - 20h35
Corrigido, valeu.
Nivaldo Lemos
23/09/2013 - 20h32
Ele diz que “Dirceu foi condenado sem provas” e não “em provas”, houve uma falha de digitação. Abraços.
Claudio Freire
23/09/2013 - 17h07
Sou totalmente cético sobre eventuais boas intenções do Ives Gandra.
Os clientes poderosos do famoso tributarista devem ter reclamado, alertando para o fato de que essa teoria do domínio do fato pode ser um precedente perigoso.
Agora que os réus do mensalão já estão com suas penas praticamente definidas, o “ponto fora da curva” que foi aquele julgamento pode voltar á normalidade.
Afinal, por que essas considerações não vieram antes a público?
migueldorosario
23/09/2013 - 19h17
Se for preocupação com seus clientes, este é um ótimo motivo. Não se pode desejar a ninguém, nem aos cães raivosos da direita um tratamento desequilibrado da justiça.