O Azenha publicou um post-aula sobre jornalismo investigativo que merece ser lido com atenção por todo blogueiro, inclusive eu mesmo. O Globogate está nos deixando um tanto ansiosos. Há várias teorias e especulações no ar. Não podemos nos empolgar com nenhuma delas que não passar por um criterioso processo de apuração.
Vamos apurar juntos, a blogosfera unida em torno de um só objetivo: fazer justiça e encontrar a verdade. Vamos nos ater aos autos, às provas, e deixar as especulações para Veja, Globo e demais integrantes da imprensa marrom. A blogosfera tem que se diferenciar pelo rigor e pela honestidade jornalística. Ficha falsa de internet quem publica é a Folha de São Paulo.
Repito a minha disposição de só voltar a escrever sobre o Globogate a partir de fatos concretos. E agora, o que há de concreto, além das partes vazadas do documento, é uma condenação de Cristina Maris Meinick Ribeiro por ter furtado os documentos da Globo.
Aquela especulação sobre Cristina não ter roubado, mas assumido o roubo para disfarçar a atuação de quadrilha é apenas uma teoria, que ouvi de uns desses TCs, de que fala Azenha. Ainda não tem consistência suficiente. Por enquanto, é mais prudente aceitarmos aquilo para o qual existem documentos.
Segue o texto do Azenha.
A foto acima é coisa de profissional
por Luiz Carlos Azenha, do Viomundo.
É notável o esforço dos internautas e tuiteiros para esclarecer o caso do processo de sonegação fiscal da Globopar, desatado a partir da denúncia do blog O Cafezinho, de Miguel do Rosário, que batizou de Globogate (Globogato, segundo o leitor Teo Ponciano).
Muitas vezes, no entanto, este esforço acaba esbarrando na falta de experiência para apurar uma notícia sem margem de erro, ou seja, sem o risco de cometer barrigas amadoras, de fazer acusações infundadas, propagar teorias falsas ou simplesmente espalhar boatos de forma irresponsável.
A título de exemplo, eu me lembro muito bem de quando se espalhou feito fogo, nas redes sociais, a notícia da morte de uma indiazinha, suposto homicídio cometido por madeireiros no Maranhão. Opinei, no Viomundo, que era preciso ter cautela. Primeiro, confirmar absolutamente a notícia, 100%. Depois, gritar.
Foi um Deus nos acuda. Ativistas me denunciaram no Facebook e no twitter. Jornalistas experientes — que continuam enganando por aí — me desancaram na maior cara de pau. A Soninha Francine — a “jornalista” Soninha! — me detonou. Depois, nenhum deles se deu ao trabalho de se desculpar. A notícia nunca foi confirmada. Não foi encontrado corpo, nem quem tenha visto o corpo, nem quem tenha testemunhado o episódio em primeira mão, além do “ouvi dizer”. O desmentido enfático da FUNAI, para todos os efeitos, se sustentou.
Por isso, é importante ter gente de altíssima qualidade profissional interessada no caso de Cristina e do Globogato.
TC é um deles. Jornalista experiente e premiado, rato de internet, é um dos melhores apuradores que conheci ao longo de 40 anos de carreira. Foi quem me passou, no início da noite de 8 de julho, as páginas do Diário Oficial com a condenação de Cristina Maris Meinick Ribeiro pelo furto do processo da Globopar de uma repartição da Receita Federal no Rio de Janeiro.
Foi a partir delas — e apenas delas — que publicamos nosso texto a respeito, com algumas horas de defasagem devido ao processo de checagem essencial para quem tem responsabilidade jornalística e não sai por aí, chutando desde o centro do planeta e, portanto, bem longe do Brasil.
LL — chamemos assim, por motivo de sigilo profissional — conhece todo o submundo do Rio de Janeiro. É um rato de cartório. Conhece gente na política, na polícia, no Ministério Público, na extinta mas atuante “comunidade de informações” da ditadura militar. LL tem duas dúzias de prêmios por investigações jornalísticas. Não, não é um homem da era Google. É de bater perna, conversar, fofocar com vizinhos e porteiros, buscar documentos, fotografar, cruzar dados e mergulhar no submundo. Respira isso. A combinação de LL com os fuçadores das redes sociais é mortal!
Nenhum dos dois — nem LL, nem TC — é ansioso. Ambos sabem que holofotes são a pior companhia para quem quer chegar à verdade.
Ah, os holofotes, como atraem os amadores!
Curiosamente, o balanço do que ambos — TC e LL — levantaram sobre o caso, até agora, é incerto.
Não quero atrapalhá-los antes que estejam prontos para divulgar o que apuraram, mas todas as possibilidades ainda estão em aberto: Cristina atuou por conta própria? Cumpria a agenda de terceiros? Pretendia ajudar ou prejudicar a Globo? Estava a serviço de uma quadrilha de achacadores? Essa quadrilha tentou tomar dinheiro dos irmãos Marinho, bandidos da era da informação? Cristina cumpriu um papel político? Um acordo teria acontecido, como sugeriu o Rodrigo Vianna?
Temos — a partir do relato de TC e LL — a certeza de que Cristina se envolvia em situações nebulosas. São vários os processos com o nome dela, sempre em benefício de empresas endividadas ou com problemas junto ao Fisco. Ponto contra a Globo, que era cobrada por uma dívida de mais de 615 milhões de reais. Sabemos, também, que Cristina — depois de ter cumprido prisão preventiva e ser solta por habeas corpus do STF (relator, Gilmar Mendes) — foi aposentada “por invalidez” pela chefe, conforme documento que nos foi enviado por TC e mencionado anteriormente pelo internauta Paulo Felipe:
Qual o motivo para uma chefe aposentar Cristina por invalidez se sabia que ela estava sendo processada e corria o risco de ser condenada, como de fato foi, em janeiro de 2013? Foi um cala-boca? Sinal de que havia mais gente envolvida?
Na sentença, diga-se, o juiz condenou Cristina à perda do cargo público — e, portanto, da aposentadoria.
É, sem dúvida, uma novela. Um desafio diante dos internautas, de gente fuçadora como Fernando Brito e Miguel do Rosário e de profissionais tarimbados como os que auxiliam o Viomundo: TC e LL, ao trabalho!
Aguardem que, com calma, chegaremos juntos lá.