Como escrever isto sem ser apedrejada?
Ainda sobre os movimentos de massa, houve entre mim e a Tania Faillace uma troca de cartas que (espero) vai explicar direitinho o título que botei na cabeça desta coluna, que segue o melhor estilo, digamos, epistolar
POR MÁRCIA DENSER, no Congresso em Foco.
MÁRCIA DENSER
Querida Tania:
Por incrível que pareça, você tem 100% de razão a respeito dessa merda nazifascista toda, cooptada ingenuamente por alguns milhões de bobos alegres apolíticos e idiotizados pela sociedade de mercado – os consumidores que Lula viabilizou “da porta pra dentro”, faltando, infelizmente, viabilizá-los “da porta pra fora”, isto é, torná-los cidadãos conscientes – mas acontece que consumismo e cidadania não são absolutamente incompatíveis, muito pelo contrário (é preciso brigar e fazer valer tudo aquilo pagamos). Mas isso é uma outra história.
Todavia, pelas mesmas razões e por incrível que pareça, ninguém vai acreditar nessa linha de argumentação! (aliás irrefutável – para mim, que enxergo claro, que enxergo longe).
Então a pergunta que fica é, parafraseando Lenin: COMO ESCREVER ISTO?
Quer dizer, sem ser apedrejada.
Saudações, La Denser
Prezada Márcia:
O PROTESTO BRASILEIRO DA ÚLTIMA SEMANA
Nem tudo o que reluz é ouro.
A corrupção é inerente ao sistema capitalista. E se torna mais explícita em sua versão neoliberal, onde os exploradores se misturam em diversos setores econômicos (e políticos), que incluem transporte, medicamentos, produtos agrícolas, sementes, serviços ao público etc.
Com a globalização quase total das economias, já não há mais fenômenos locais, ou melhor, o que aparece como tal, na verdade são manifestações locais de fenômenos globais. Para quem vive o cotidiano dos movimentos, e não apenas se informa sobre eles, fica muito claro que as organizações populares estão sob assédio e vigilância permanente de outros interesses, ou melhor dito, do Grande Irmão. Assim, não há maior dificuldade em usar o que era, em princípio, um movimento de base, para introduzir novos elementos, que são ingovernáveis, porque suas direções e comandos estão em outros lugares. É o fenômeno clássico da infiltração – que aconteceu até na revolução soviética de 1917.
No recente caso brasileiro, as organizações de base (é mentira dizer que se tratou de um movimento anárquico, sem liderança – isso não existe na vida real, é uma piada ficcional) chegaram à medida extrema de negar seu aval ao seguimento das manifestações (uma medida de prudência e auto-conservação) e, na internet, vários personagens nitidamente ianques (belas moças, jovens robustos semelhantes a recrutas estadunidenses falando a linguagem “jovem”, incentivaram os feitos, insultando políticos (SOMENTE os políticos!), o que foi clonado no Brasil por um personagem chamado Felipe, que foi a extremos de baixo calão para representar a “revolta juvenil”.
Nenhuma proposta objetiva. Nada. Tratou-se de um cenário para preparar os espíritos ao que possa acontecer em 2014, ou seja, um outro golpe com a direção imperialista que já conhecemos, golpe explícito ou golpe branco, quer dizer, consentido.
A Fifa é uma lavanderia de dinheiro, como se sabe, e presta serviços a todo esse mundo obscuro em que se mistura a criminalidade explícita a serviço da nova ordem mundial e as executivas transnacionais. Não se trata exatamente de uma novidade, mas essa simbiose chegou a extremos mais notáveis que nos tempos das cartas reais de corso (autorizações reais para a pirataria de mar a partir do século XV e XVI).
As Copas são bom pretexto tanto para a expansão dos negócios ilegais, como para as extorsões do setor construtivo e seus associados, junto às classes empresariais e políticas de cada Estado. A Copa de 2014 no Brasil, contudo, apresenta algumas características próprias. De cara: o absurdo de um evento esportivo dispersado por 8 milhões de quilômetros quadrados. Não é viável, economicamente nem turisticamente, não passa de um desvario. Se não o observarmos em seu avesso.
Faz alguns anos, Rachel Rolnik, brasileira que trabalha na ONU, começou a fazer um giro pelo Brasil, com a finalidade de denunciar essa negociata internacional, a qual, entre outras coisas, promoveria uma redistribuição espacial das populações urbanas.
Vários núcleos de organização e ação social já se estavam formando em todo o país, chamados comitês populares da Copa, para defender os desalojados e discutir como as coisas eram decididas e feitas. O orçamento geral que se anunciava era de 100 R$ bilhões.
Não é verdade, pois, que não havia organização popular contra as loucuras de um neoliberalismo selvagem que se instalava de Norte a Sul no Brasil, sob a cobertura da Copa. Moradores e suas associações locais e regionais, ativistas sociais e políticos de grupos formais e informais, ativistas de várias confissões religiosas, trabalharam duramente nestes últimos anos para criar alternativas de luta contra o achatamento dos direitos humanos e cívicos das populações carentes no Brasil.
Apenas jamais obtiveram uma única linha da imprensa ou alguns minutos na TV comercial, limitando-se a uma imprensa própria, basicamente internética. São dezenas os sites de conteúdo e confecção popular no Brasil. A questão dos preços das passagens dos coletivos apresentou-se como uma oportunidade de obter visibilidade midiática para a luta popular. Com efeito. Uma cobertura, contudo, mal intencionada e mentirosa, como se tudo fosse um milagre de geração espontânea.
O que também ocorreu, e foi subestimado pelo movimento social popular, foi seu aproveitamento por outras forças políticas, que não se identificaram, mas que nós, que conhecemos mais ou menos como as coisas funcionam, sabemos que se trata de grupos marginais (ou não tanto) a serviço da direita e do poder econômico, provavelmente incentivados por empresários do setor. (Observe-se que foi queimado um ônibus público e nenhum privado; que foram queimadas lojas de rua, populares, nenhuma grande rede comercial).
Alguns oportunistas trataram de obter dividendos políticos na internet, acusando somente a classe política brasileira, proferindo palavrões e insultos e ocultando totalmente a questão central: o modelo neoliberal selvagem que nos foi imposto desde o governo Fernando Henrique e suas malditas privatizações.
Essa intervenção, não há como enganar-se, não foi uma inspiração do momento. A infiltração imperialista nos movimentos sociais para conhecê-los por dentro e a fundo, e saber como fazer sua neutralização, é velha.
A Copa foi pretexto para disseminar por todo o território nacional os agentes de segurança e informação das forças que sabemos. O objetivo perseguido – além dos investimentos absurdos feitos obrigatoriamente pelo governo – é a intromissão na Constituição brasileira. Os congressistas, por menos dignos de confiança que nos pareça a maioria deles, ainda hesitam em permitir a imposição de uma lei antiterror, inspirada ou ditada pelas leis norte-americanas.
Nada como um pouco de confusão para acelerar certas medidas. Mussolini e outros já praticavam essa estratégia. Não existem movimentos espontâneos y sem organização na vida social – mesmo tendo começado numa mesa de bar ou cozinha doméstica. Isso é praticamente impossível. Mas pode haver movimentos cujas direções não se mostram, e por algum motivo será. Também há movimentos autênticos que são usados por outros como cortinas de fumaça.
Não se trata de procedimentos novos. São clássicos na História. E se tornaram mais comuns a partir de Napoleão III, na França do século XIX. A coisa é simples: o Brasil está sendo ocupado informalmente. Pela gente que se sabe: CIA, Mossad. Israel acaba de convencer ao governador do Rio Grande do Sul a instalar uma fábrica bélica daquele país em nosso território – alta tecnologia militar. Para quê? A Universidade de Stanford vai instalar um núcleo em Porto Alegre com o beneplácito do poder municipal. Para quê?
Os jovens aparentemente brasileiros que fazem discursos espontâneos na internet não o são, isto é, são versões novas de um novo fascismo em gestação. Lembrem que tanto fascismo como nazismo começaram a se tornar populares a partir da adesão juvenil. A jugulação do movimento sindical e seu atrelamento através de centrais que nada centralizam, deixaram soltos e sem recursos materiais de organização aos trabalhadores brasileiros, com exceção dos petroleiros.
E qual é a posição da presidenta? Me parece que está com uma faca no peito. Não se sabe o que os gringos tenham podido minar dentro de nossos territórios, y explodir em aso de resistência político-popular-institucional. Lembrem todas as jornadas do Grande Irmão na África e no Oriente Médio em geral, inclusive explosões de fábricas de medicamentos, apenas porque estava de mau humor e seu presidente de então seduzia estagiárias.
Atualmente, a coisa acelerou-se desde a morte de Chávez, na Venezuela. Colômbia e Paraguai concentram um arsenal militar considerável sob direção alienígena (EUA). A IV Frota nos vigia. E nosso estado sulino provavelmente se converterá num centro de informação para América Latina do ponto de vista dos interesses do Grande Irmão.
A visita do vice-presidente “deles” deixou um recado muito claro relativamente a uma cooperação “total” em vários aspectos, inclusive na educação e na área militar.
Não há porque reforçar a farsa. Ao contrário, é necessário denunciá-la diariamente. E fazer chegar as informações fundamentais a uma população totalmente dominada pelos conglomerados de comunicação Sony-Time-Life e seus sócios locais.
Tania Faillace – jornalista e escritora – Porto Alegre, RS