Ecos do mensalão platinado

Alguns esclarecimentos importantes sobre o mensalão platinado. Primeiro, sobre os valores.

Olhem o documento abaixo com atenção:

 

Alguns blogs que reproduziram a matéria se confundiram nos números. A dívida original da Globo com o fisco, resultado de uma comprovada fraude da emissora, é de R$ 183,14 milhões, referente ao ano de 2002. A este valor, deve-se somar R$ 157,23 milhões de juros de mora e R$ 274,72 milhões de multa.  O total que a Globo devia ao fisco em 2006 é de R$ 615 milhões. Fernando Brito, do blog Tijolaço, atualizou o valor da dívida para aproximadamente R$ 1 bilhão, e lembrou que isso daria para bancar o passe livre dos paulistanos por um ano inteiro. 

As informações que eu tenho é que a Globo ainda não pagou essa dívida, e não fez acordo. Há rumores também que o Ministério Público, esse mesmo aí tão ético da PEC 37, tem sentado em cima do processo.

De qualquer forma, sempre é bom lembrar que a indignação das ruas, a minha indignação, contra a Globo não é por sonegar impostos, é por sonegar informação, um crime muito pior.

João Roberto Marinho pode quitar seu débito com a justiça cumprindo serviço comunitário, além de pagar a multa devida. Não sou sádico como esses reaças de facebook, que babam por ver seus adversários na cadeia. Sou contra o sistema prisional como é. Não gosto de ver nem bicho atrás de uma grade, quanto mais seres humanos. Aliás, taí um bom tema para os marchadeiros: um sistema prisional mais humano e eficiente.

Minha pinimba com a Globo é puramente política, porque eu acho o monopólio da informação profundamente nocivo à democracia.  A culpa recai sobre a classe política, todas aquelas famílias que detêm concessões públicas pra repetir a programação da Globo em seus estados. A responsabilidade por esta situação é de toda a sociedade, que vem aceitando isso calada. Não poupemos o governo federal. Lula e Dilma, além de jamais terem tocado no monopólio da mídia, ainda encheram a Globo de dinheiro, via publicidade oficial. Alimentaram o monstro.

Sugiro que os protestos contra a corrupção incluam o combate à sonegação, que causa tão ou mais prejuízo ao Tesouro quanto os desvios de verba pública. Na Inglaterra e nos EUA, há uma cultura bem desenvolvida de prender os que praticam crimes contra a Receita. Aqui, não. Nem mídia, nem a população, incorporaram a indignação tributária.

Meu único objetivo com essa denúncia é que ajude a sociedade brasileira a abraçar com mais ênfase a bandeira da democratização da mídia. Aí sim eu acreditaria que o  “gigante acordou”.

 

Minha foto não ficou muito boa. Mas dá para ver claramente do que se trata. Uma grande faixa contra a Globo, feita pelos jovens que marchavam em Brasília, no dia 20/06. Isso prova que parte da “insatisfação popular” é contra a concentração da mídia.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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