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Nos últimos anos, tenho pautado meu comportamento e minhas análises por um otimismo deliberado. Observo os problemas estruturais, mas vejo o país superando-os, lentamente, com democracia, prudência e firmeza. Vinha acompanhando, com grande expectativa, a recuperação dos índices econômicos, invariavelmente abafados pela grande mídia em sua campanha eterna para pintar uma crise que não existe. Os números continuam bons. Acabamos de saber hoje que o Brasil pulou da quinta para quarta posição como país que mais recebe investimentos externos diretos, no ranking da ONU (estudo completo aqui). Em 2012, ficou atrás somente dos EUA e China.
O mundo ainda acredita e aposta no Brasil. Investimentos produtivos continuam chegando. E investimentos produtivos são aqueles que demoram um pouco a dar frutos, justamente porque são produtivos. Não tem resultados financeiros imediatos, mas no médio e longo prazo.
Em política, porém, os últimos acontecimentos tem me deixado meio pessimista.
Notícia que acabo de ler no portal Terra:
No Rio de Janeiro, o grupo vai se reunir na Candelária e caminhar em direção à Cinelândia. O protesto tem como objetivo principal exigir a reforma política. Além disso, os manifestantes reclamam outras questões, como a proposta que limita o poder do Supremo Tribunal Federal (STF), a PEC 53. Eles também são favoráveis à PEC 280, que reduz o número de deputados federais para no máximo 250.
A matéria está errada. Nãoé PEC 53, mas PEC 33. E o texto não deixa claro se os manifestantes são contra ou a favor, mas pelo que conhecemos deles, são contra. Todas as pautas conservadoras que a mídia vinha abraçando, às vezes solitariamente, foram abraçadas com entusiasmo por uma horda de besta-feras despolitizados e manipulados pela mídia.
O que me chocou, todavia, foi a proposta de reduzir o número de deputados federais para um máximo de 250. É a proposta mais idiota e conservadora que se poderia conceber. Com menos deputados, as minorias serão atingidas. Em vez de ampliar e democratizar o STF, o Brasil caminha para reduzir a soberania do povo. No entanto, faz todo sentido. As manifestações degringolaram de vez para o mais irritante udenismo e nada mais udenista do que pretender diminuir pela metade o número de parlamentares. Udenista e imbecil.
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Alguém pode alegar que as manifestações têm obtido vitórias importantes. O Globo de hoje estampa um quadro com as “vitórias” dos protestos em diversos setores. Não estou certo disso. Mudanças feita às pressas, sob a chantagem dos coquetéis molotov, quebra-quebras e incêndios, não me comovem muito. Boa parte das vitórias são promessas vagas para o futuro, como o destino dos royaties do pré-sal. A pressa é inimiga da perfeição. Ótimo que 100% se destinem à educação, ou 75% para educação e 25% saúde. Só que um percentual para pesquisa e tecnologia talvez fosse tão bom quanto, sei lá. Não é meio ridículo aprovar tantas mudanças de um dia para outro? E tudo pra que? Para evitar que os jovens coxinhas provoquem outro tumulto nos grandes centros?
Movimentos populares contra aumentos abusivos de passagem são positivos, mas protestos violentos protagonizados por jovens de classe média contra um aumento abaixo da inflação me parecem uma anomalia. O Brasil ficou instável, de uma hora para outra. Governar se tornou perigoso. Nossa bipolaridade veio à tôna. Ou reprimimos com violência e despreparo, ou somos condescententes em excesso com baderneiros, vândalos e chantagistas do bem público. O poder público ficou desorientado. No Rio, hordas de vândalos, vindas da manifestação do dia 20, saquearam restaurantes e bares da Lapa. Assaltaram muita gente. Em seguida, o Bope apareceu com um caveirão, agredindo aqueles que já tinham sido brutalizados pelos vândalos. Agredidos duas vezes, portanto. Resultado: polícia desmoralizada e humilhada. População revoltada, desencanto para com as autoridades. Mais instabilidade e menos segurança pública. Fórmula perfeita para fomentar o caos.
No fundo, parece que é isso que se busca. Incitar um clima de revolta, de guerra civil, de intolerância. Manifestantes sem foco, sem propostas, páram as artérias mais importantes de uma cidade, interrompendo o fluxo econômico. É tudo muito curioso. O Movimento dos Sem Terra invade fazendas improdutivas e seus integrantes são considerados quase terroristas por nossa mídia. As manifestações da juventude dourada terminam invariavelmente em quebra-quebra e destruição de patrimônio público, e são qualificadas de pacíficas.
Entretanto, como ficar contra o povo nas ruas? Não é lindo? Um esquerdismo mal ajambrado completa o quadro de desolação. Partidos, sindicatos e movimentos sociais, após anos de estagnação, tentam a entrar no barquinho já lotado da juventude transviada. São agredidos, escorraçados, mas insistem, mesmo conscientes de que as manifestações descambaram para o conservadorismo mais extremista. Clubes militares, neonazistas, defensores da ditadura, neocansados, todos desceram às ruas, na esperança de pescar em águas turvas.
A pressão continua. Qual o objetivo? Emparedar as autoridades para que façam todo tipo de anúncio populista, rascunhado às pressas para evitar o caos, e que se torna logo um troféu e pretexto para se continuar nas ruas.
Embora a mídia também tenha sido alvo dos protestos, ela emerge como grande vencedora, em virtude do enfraquecimento da classe política. Ministério Público, Supremo Tribunal Federal, mídia, o estamento conservador em suma, emerge superpoderoso. Os manifestantes, afinal, não protestaram contra a corrupção do judiciário, tão grande ou pior que a do Legislativo. Não protestataram contra a corrupção no Ministério Público. Os garotos rebeldes se insurgiram apenas contra os desmandos do Parlamento.
O voto distrital, uma demanda que parecia distante da nossa realidade, em função do entendimento de que ele é nocivo à representação sindical, o principal esteio eleitoral dos partidos de esquerda, o voto distrital de repente aparece no horizonte. Torna-se um item de um plebiscito sobre reforma política. Voto distrital, contudo, traz inúmeras complicações. Em primeiro lugar, estimula o voto fisiológico. As milícias farão a festa. Os poucos eleitores que votam num candidato porque têm afinidade ideológica com suas propostas serão agora obrigados a votar no figurão famoso da rua.
Enfim, a democracia decidirá. Só que agora a gente foi lembrado, mais uma vez, de como a democracia comporta riscos, sobretudo numa sociedade midiatizada, vulnerável aos repuxões violentos das ondas coletivas. A única solução seria termos um parlamento fortalecido, altivo, pronto a esclarecer a sociedade sobre as armadilhas das soluções apressadas. Mas não. Temos um legislativo debilitado por uma longa campanha de desqualificação, e agora ainda mais frágil diante do rancor da juventude intolerante.
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