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Levantes conseguem primeiras vitórias

A decisão das autoridades de São Paulo e Rio de cancelar o aumento das passagens dos transportes urbanos representa a primeira grande vitória dos protestos nestas duas cidades. Chegou tarde, mas serve para reduzir um pouco a temperatura das manifestações programadas para esta quinta-feira. O movimento cresceu para muito além do preço das passagens, incorporando […]

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A decisão das autoridades de São Paulo e Rio de cancelar o aumento das passagens dos transportes urbanos representa a primeira grande vitória dos protestos nestas duas cidades. Chegou tarde, mas serve para reduzir um pouco a temperatura das manifestações programadas para esta quinta-feira.

O movimento cresceu para muito além do preço das passagens, incorporando as demandas mais diversas da sociedade brasileira, nem todas exatamente progressistas. Virou uma espécie de samba do criolo doido, se me permitem o uso de uma expressão que talvez não seja mais politicamente correta.

Por isso mesmo, o recuo das autoridades, e a vitória da demanda que deflagrou os protestos, pode ajudar a lhes dar um foco.

A grande mídia e o conservadorismo gostariam que o movimento focasse na corrupção, porque este é um tema pautado por eles. Não querem discutir regulação democrática da mídia, não querem discutir redução dos lucros das empresas de transporte, dos bancos, não querem discutir reforma tributária que aumente impostos para os mais ricos. Não querem discutir o aprofundamento da reforma agráfia. Querem focar apenas na corrupção, de preferência apenas a corrupção do PT. O título da coluna de Merval Pereira de hoje é “O foco é a corrupção”, como se coubesse a ele ditar o foco das manifestações.

O que não faltam são motivos justos para protestar. No Rio, os movimentos sociais ligados à causa da democratização da mídia conseguiram se organizar e estarão presentes no protesto de amanhã com faixas temáticas.

A magnitude das manifestações, aliada a falta de foco, é um prato cheio para as velhas raposas da oposição, interessadas em transformar a insatisfação popular num movimento para derrubar a presidenta. Todos os golpistas estão excitadíssimos com a oportunidade de surfarem na onda, pois se falta foco, se os manifestantes são contra tudo, então se pode facilmente manipular e instrumentalizar os protestos.

Criou-se uma situação de risco, portanto, e as forças populares terão que agir com inteligência para evitar que as raposas entrem no galinheiro. Não adianta nada protestar, protestar, protestar, conseguir um desconto de 20 centavos na passagem, e depois assistir a vitória dos maiores adversários do interesse popular, ou seja, aqueles que mandam espancar manifestantes, aumentam os preços das passagens acima da inflação, reduzem os salários, cortam programas sociais e defendem o Estado mínimo.

Agora teremos uma luta dentro da luta. Para quem estava numa situação quase sem esperança, a oposição tem uma chance de ouro, e certamente fará de tudo para aproveitá-la. A pose olímpica da presidente Dilma Rousseff ficou embaçada pela nova conjuntura. Ela terá que voltar a vestir as sandálias da humildade, a tomar decisões mais ousadas, e a pensar numa comunicação mais efetiva com esta parcela da população que parece ter “despertado” para uma nova consciência política.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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