O Datafolha divulgou hoje a íntegra de seu relatório sobre o governo Dilma e intenção de votos em 2014. Como de praxe, eu elogio a iniciativa da instituição de tornar público, sempre alguns dias após a divulgação dos números , a sequência completa da pesquisa. O Ibope demora muito tempo para fazer a mesma coisa e o Vox Populi quase não o faz. Pesquisas eleitorais são um tema sensível numa democracia, porque influencia fortemente o jogo político e, portanto, é importante é que as instituições de pesquisa ajam com o máximo de transparência.
Dou razão às reclamações de que os petistas não deveriam protestar quando as pesquisas trazem números negativos para o governo se levam à sério quando os mesmos são bons. Só que acho a crítica pueril. É como pedir que torcedores do Flamengo apóiem os juízes que marcam pênalti contra seu time. E também porque o problema central não são os altos e baixos nas pesquisas e sim a constante insegurança se não há nenhuma mutreta. O Datafolha pode acertar numa hora e errar outra. As instituições de pesquisa podem manipular as expectativas e por isso é tão importante que haja pluralidade, e também elas sofrem com a concentração da mídia, porque esta tem o poder de prejudicar as empresas de pesquisa que não entrem no joguinho das famiglias.
Eu me sentiria mais à vontade se o universo das pesquisas eleitorais fosse melhor regulamentado, e que os tribunais eleitorais também fizessem apurações periódicas, as quais poderiam contar com a participação de personalidades acadêmicas.
Dito isto, analisemos os números do Datafolha, supondo que estão corretos e espelham de fato, a realidade política nacional. Publico os gráficos e alguns comentários abaixo de cada um.
A intenção de voto em Dilma despencou sete pontos em três meses. Possivelmente, o noticiário econômico foi a causa da mudança no quadro. Todos os concorrentes registraram algum tipo de melhora estatística, e o cenário com Joaquim Barbosa, onde a presidenta tem 49% dos votos válidos, leva as eleições para o segundo turno.
Não deixa de ser curioso, todavia, que o presidente do Supremo Tribunal Federal seja considerado candidato a presidente da República. Barbosa não tem protestado contra a inclusão de seu nome e quem cala consente. Portanto, ele alimenta rumores de que pode, sim, sair candidato, e como tal converte todas as suas frequentes declarações em lenha na fogueira eleitoral.
Um conhecido bem informado me diz que Barbosa tem um grande trunfo. O inquérito 2474, sob segredo de justiça, confere a Barbosa um perigoso poder de chantagem, contra grandes empresários e autoridades políticas. Já se sabe que Daniel Dantas seria um deles. Com isso, o presidente do STF garantiria recursos para sua campanha do ano que vem.
É uma coisa bem estranha que a figura mais alta do judiciário brasileiro detenha um poder executivo potencial, na forma de intenções de voto. Barbosa tem significativos 8% de intenção de voto para 2014.
Outro personagem que merece ser observado com atenção é Marina Silva. Com 14% das intenções de voto, ela é a concorrente mais forte da presidenta.
Na avaliação por faixa salarial, houve uma notável queda na avaliação de Dilma junto às classes mais abastadas. Entre as famílias com renda mensal superior a 10 salários, as pessoas que achavam o governo Dilma ótimo/bom caiu de 67% para 43%.
Os números me parecem, contudo, mais uma volta à normalidade do que alguma tendência. O desemprego está baixo, mas é inegável a frustração generalizada com o crescimento baixo e o ritmo pachorrento das grandes obras públicas. E nenhum chefe de Estado em país democrático consegue manter alta popularidade por muito tempo. Lula foi uma exceção, não uma regra.
Um aspecto positivo, para Dilma, é que a popularidade do governo se transferiu para a nota regular, e não para o ruim e péssimo.
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Entretanto, mesmo se considerarmos o Datafolha um instituto idôneo e confiável, não podemos, em nome do bom senso, deixar de pensar no interesse da oposição, neste momento, em pressionar para baixo a expectativa de poder da situação. O Brasil vive um momento bastante caliente de pré-campanha, com os bastidores da política vivendo guerras surdas com impacto considerável no jogo de alianças para 2014. O momento de manipular uma pesquisa é agora, quando há poucas concorrentes no mercado fazendo o contraponto.
Por outro lado, a queda da popularidade não é absurda. Apesar de não haver nenhuma comprovação de que o cenário econômico realmente se deteriorou, pois, ao contrário, os números estão melhores do que no ano passado, a campanha negativista passou a ser o pão nosso de cada dia. A brincadeira de derrubar ministros parece ter dado lugar a uma estratégia orquestrada para pintar o país como um retumbante fracasso internacional. Tem gente que acredita nessa ladainha. Tem empresário que decide não investir no país. Felizmente, os capitalistas brasileiros não podem se dar ao luxo de acreditar na grande imprensa, pois se o fizessem teriam falido há tempos.
A grande novidade do ano foi a decisão de FHC de migrar seus investimentos em renda fixa para investimentos no mundo real. É uma prova e tanto de que o Brasil está no caminho certo.
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