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Primeiramente vamos botar as coisas em perspectiva. A tabelinha abaixo traz o crescimento do PIB no terceiro trimeste (na comparação com o trimestre anterior) em alguns países e regiões importantes.
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Já nesta outra abaixo, extraída do relatório do IBGE, observa-se claramente que o PIB vem se recuperando gradativamente nos últimos trimestres. É um crescimento mais lento do que gostaríamos, mas ainda assim, mostra um processo evolutivo – e isso num cenário internacional ainda bastante instável, para dizer o mínimo.
Dito isto, vale alguns comentários sobre a decisão do Banco Central de elevar a taxa de juros em 0,5%. Foi uma decisão equivocada, e que nos faz pensar nesta grande tolice antidemocrática que é a “independência do BC”. É um supreminho instalado no seio do governo. Meia dúzia de servidores tem autonomia para decidir sobre a vida de 200 milhões de pessoas. Mais uma artimanha do grande capital, porque é sempre mais fácil convencer um pequeno grupo de técnicos sem sangue nas veias, do que fazer a cabeça da classe política no executivo, esta sim (saudavelmente) preocupada com o impacto eleitoral de medidas recessivas.
A decisão sobre juros deveria ser tomada pela Presidência da República e seus Ministérios, e não por burocratas desconectados da realidade viva da economia brasileira.
A presidenta, se fosse o caso, também deveria estar disposta a tomar medidas impopulares. Talvez ela concorde, por exemplo, com o aumento dos juros decidido ontem pelo BC. Mas teria que se explicar pessoalmente à nação. Teria que pagar politicamente, e muito caro, por decisões como essas.
O fato é que o Banco Central, enquanto corporação, tem um déficit histórico de preocupações sociais e desenvolvimentistas. Não só o BC. O pensamento dominante no país, ou pelo menos aquele que tem mais espaço na mídia, é particularmente antidesenvolvimentista.
A leitura das seções econômicas dos principais jornais não é aconselhada a corações sensíveis. O jogo ali é brutal. A ideologia, malthusiana. Os jornais não tem pudor nenhum de festejar uma medida que torna mais dura a vida de 200 milhões de brasileiros e pressiona negativamente a economia. Um economista entrevistado pelo Globo, Joaquim Elói Cirne de Toledo, diz que o governo deveria “desvalorizar o real e reforçar a política fiscal para crescer a longo prazo, mas isso geraria inflação e desemprego a longo prazo”.
Eu até entendo o conselho para desvalorizar o real. Mas o governo só poderia enveredar por esse caminho se o objetivo fosse outro que “aumentar inflação e desemprego no curto prazo”. Essa grita malthusiana por mais desemprego dos economistas da grande imprensa é algo estarrecedor.
Há dois dias que o Globo não pára de soltar fogos, de alegria, pelo aumento dos juros. A família Marinho, dona de uma fortuna superior a 21 bilhões de reais, é uma notória rentista, e a medida lhe traz lucros imediatos.
Há uma matéria hoje, na Agência Brasil, informando que o setor público pagou um total de R$ 217,94 bilhões em juros nos últimos 12 meses, ou 4,81% do PIB. Este sim, é um autêntico e verdadeiro mensalão!
No entanto, o governo Dilma tem ido na contramão do rentismo. O superávit primário tem caído consideralvemente, o que tem enfurecido o pensamento conservador, cada vez mais agressivo quando menciona a “contabilidade criativa” do governo – na verdade um exercício estatístico que visa gastar menos com juros e mais com investimentos.
O superávit de abril último foi de R$ 10,33 bilhões, contra R$ 14,24 bilhões em abril de 2012. E de janeiro a abril, o superávit primário chegou a R$ 41,058 bilhões, contra R$ 60,212 bilhões de igual período de 2012, um recuo de 31%.
Reproduzo trecho de matéria do G1,
A redução da economia feita para pagar juros da dívida está em linha com a revisão do orçamento federal, anunciada pelo governo na última semana. Na ocasião, o governo anunciou um bloqueio de R$ 28 bilhões no orçamento deste ano, valor que ficou abaixo dos R$ 55 bilhões de 2011 e dos R$ 50 bilhões cortados no início de 2012. Com esse corte menor no orçamento, o governo sinaliza que vai aumentar os gastos neste ano e, também, promover mais desonerações de tributos, estimadas em R$ 72 bilhões, contra R$ 45 bilhões em 2012. O aumento de gastos, segundo especialistas, pode, entretanto, ter impacto na inflação para cima.
Ou seja, o governo Dilma tem, concretamente, fugido da ortodoxia econômica. O aumento dos juros decidido esta semana é um lamentável ponto fora da curva; mesmo assim ainda está longe de anular o extraordinário declínio das taxas realizado desde o início de sua gestão.
O problema, a meu ver, é a insegurança extrema dos brasileiros. Por mais que os pilares da economia se mantenham firmes, há a sensação de que tudo pode ruir de uma hora para outra. Os pobres temem o fim do bolsa família e acreditam nos boatos mais absurdos. A classe média conservadora se desespera facilmente com qualquer notícia sobre crise e inflação. A esquerda também vive com os nervos à flor da pele, receiando que o governo interrompa as ações anticíclicas e retroceda às antigas soluções recessivas neoliberais, que tanto mal fizeram ao país.
O Cafezinho continua otimista quanto ao futuro do Brasil. A safra agrícola será recorde este ano, injetando muito dinheiro e empregos na economia, e pressionando para baixo a inflação. Com isso, o Banco Central poderá retomar, já nas próximas reuniões, o ciclo de redução das taxas. Seu atual presidente, Alexandre Tombini, não é nenhum Henrique Meirelles. Os efeitos das medidas de desoneração tributária e de redução dos custos de energia ainda vão aparecer nas estatísticas. O problema da escassez de mão-de-obra especializada, por exemplo, é o típico caso em que a demanda produz oferta. Se existe algo que motive um ser humano a estudar mais determinado assunto, é a perspectiva de um excelente salário e uma vida estável.
O PIB deverá ser modesto este ano, em torno de 3%, mas o país entrará em 2014 preparado para iniciar um longo ciclo de desenvolvimento. E será justamente essa expectativa, partilhada pela grande maioria dos brasileiros, que garantirá a reeleição de Dilma Rousseff.