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O Brasil não vai acabar

Imediatamente após o IBGE divulgar o PIB do terceiro trimestre, ouvem-se os fogos de artifício dos adoradores do apocalipse. Apenas os aspectos negativos são realçados. O Cafezinho vai na contramão e destaca os fatores positivos do crescimento econômico de 0,6% nos três primeiros meses do ano.

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Imediatamente após o IBGE divulgar o PIB do terceiro trimestre, ouvem-se os fogos de artifício dos adoradores do apocalipse. Apenas os aspectos negativos são realçados. O Cafezinho vai na contramão e destaca os fatores positivos do crescimento econômico de 0,6% nos três primeiros meses do ano.

Apesar da indústria de forma geral ter apresentado um declínio de 0,3% no trimestre, a queda se concentrou no setor menos importante estrategicamente, a indústria de extrativismo mineral. A indústria de transformação – esta sim, estratégica – apresentou crescimento de 0,3% no trimestre.

O mais importante, todavia, foi o crescimento de 4,6% na formação bruta de capital fixo, ou seja, no investimento, sinalizando um processo ascendente. Com isso, a taxa de investimento no PIB subiu para 18,4%. Segundo o IBGE, esse crescimento se dá em virtude do bom momento da indústria de capital.

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O consumo das famílias se manteve estável no terceiro trimestre, em 0,1%, mas a massa salarial registrou uma alta de 3,2% sobre o ano anterior. Considerando a manutenção de taxas de desocupação a níveis extremamente baixos, e a inflação divulgada hoje pelo IGP-M, que se mostrou praticamente inalterado, temos um quadro de sólida estabilidade econômica. O Brasil cresce pouco, mas de maneira sólida: desemprego baixo, inflação sob controle, investimentos em alta, produção de bens de capital se recuperando.

Com estas informações, acho que o recrudescimento do pensamento negativista, disseminado não apenas entre os segmentos conservadores, mas também entre a esquerda progressista, pede alguns comentários.

O Brasil não vai acabar, nem decair, nem caminha para nenhum buraco. Se fizermos um esforço para nos pormos acima, por um momento, do ambiente sempre agressivo e tendencioso das paixões e guerras políticas, o que veremos? Aliás, não deixa de ser irônico que todo esse pessimismo nasça da política, justamente no momento em que vivemos o mais longo e estável ciclo democrático em nossa história.

A política é um fator que deveria inocular otimismo na economia brasileira, por nos termos tornado uma referência em termos de democracia, apesar dos pesadelos golpistas que alguns estamentos ainda nos inspiram.

Temos petróleo, água, energia, recursos naturais, terras, população em idade ideal, nosso parque industrial é bem mais avançado do que o de todos nossos vizinhos.

Sobre a indústria, vamos reiterar: é um setor que enfrenta a mais terrível competição internacional. É diferente da agricultura, onde temos produtos que só podemos produzir aqui. Fábrica pode se fazer em qualquer parte. Aos poucos, todavia, a indústria brasileira se adaptará à realidade internacional e saberá focar nos setores em que podemos ser competitivos. Quando as refinarias  ficarem prontas, por exemplo, as estatísticas industriais registrarão um salto notável, pois terão de incluir os números referentes ao processamento doméstico de combustível até então importado.

Nossos juros estão baixando, o crédito para as famílias cresceu exponencialmente nos últimos anos, a pobreza tem diminuído. Os programas públicos brasileiros de bolsa estudantil estão se tornando um dos maiores do mundo –  e veremos o reflexo disso em alguns anos.

A melhora do perfil sócio-econômico da população, por outro lado, permitirá a sofisticação da oferta de produtos culturais, o que gerará um novo ciclo para a economia da arte e do entretenimento, outro setor importante na geração de empregos, renda e desenvolvimento.

Recentemente, uma pesquisa internacional revelou que os brasileiros figuram em primeiro lugar no ranking dos mais otimistas do mundo; e, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o índice de otimismo dos brasileiros cresceu quase 2% em maio.  Não dou muita bola para esse tipo de pesquisa sobre “otimismo”; não me baseio nela para, eu mesmo, ser otimista, e sim nas estatísticas e na análise de conjuntura. Apenas as menciono para ilustrar como somos influenciados, mesmo que nos esforcemos para não sê-lo, pelo baixo astral da guerra política. Tanto é assim que a maioria do povo, distante da atmosfera neurastênica da internet politizada, continua acreditando no futuro do país. Fator que provavelmente se refletirá eleitoralmente em 2014.

Funciona assim: na disputa pela confiança da opinião pública, os analistas de oposição e da situação usam estratégias parecidas. O analista de oposição é pessimista porque o crescimento econômico é bom para o governo; o analista da situação é pessimista para demonstrar independência do governo.

Perceber as perspectivas boas do nosso futuro não exclui, naturalmente, identificar as mazelas presentes. Entretanto, as estatísticas demonstram que elas estão sendo superadas: as taxas de mortalidade infantil, analfabetismo, mortalidade materna, etc, estão todas caindo de forma acelerada. A educação pública ainda é precária, mas as estatísticas também revelam melhora gradual. Nos últimos 15 ou 20 anos, o avanço foi extraordinário.

Quanto às políticas de longo prazo que o governo deveria estar adotando, não devemos esquecer as obras extremamente estratégicas neste sentido: as grandes refinarias, as hidrelétricas, a transposição do São Francisco, a exploração do préssal. Esse é o nosso futuro.

Se quiser testemunhar alguns dos avanços desse Brasil, eu aconselho a cuidar da saúde, fazer exercícios, se manter calmo e, sobretudo, ter paciência, muita paciência, para esperar que as mudanças atravessem a interminável floresta burocrática, escalem a montanha da inexperiência administrativa (coisa de país atrasado), e cheguem, enfim, ao vale das obras realizadas.

Caso prefira se manter cético quanto a esse futuro promissor, postura que também reputo muito prudente, a coisa mais digna a fazer, na minha opinião, é trabalhar duramente para que ele (o futuro) seja um pouco melhor.  O velho ditado popular é mais do que adequado: não quer ajudar? então ao menos não atrapalhe.

 

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Adriano Lima

13/03/2017 - 16h49

Ótimo artigo alertado os nossos direitos – http://restituicaodoicms.com/

Helena Chagas (não a ministra)

30/05/2013 - 09h48

Muito bom, Miguel. Uma visão embasada da economia brasileira. Ou melhor, “não embaçada”!

Yuri Stugges

30/05/2013 - 09h47

Valeu!


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