Minha esposa voltou de viagem a trabalho à Europa e me trouxe uma porção de jornais. Aproveito para fazer alguns comentários sobre as leituras, atualizadas hoje em consultas à internet. Mas também comento fatos da política nacional.
As eleições regionais na Itália revelam um grande vencedor, o Partido Democrático, o novo nome assumido pelo partido comunista desde alguns anos. O partido tem o primeiro ministro do país, e agora governa a capital, Roma, com Ignazio Marino.
http://www.corriere.it/Speciali/Politica/2013/elezioni/comuni/
A febre Beppe Grillo, que emergira como a grande novidade italiana, um comediante que ataca a política e partidos, arrefeceu bastante no país.
*
Os setores progressistas e liberais da França – com certeza a maioria da população – assistiram perplexos a uma manifestação conservadora gigante no país, organizada por igrejas católicas e partidos conservadores, contra a lei recentemente aprovada pelo Congresso Francês, com apoio do governo, que prevê o casamento gay e a permissão para que estes adotem filhos.
Entretanto, observo um movimento político curiosíssimo. Ao mesmo tempo em que o conservadorismo se rejubila com o “sucesso” da manifestação, ela produziu, paradoxalmente, enorme ganho político para o presidente socialista François Hollande. É que Hollande vive uma crise de popularidade, causada pela crise econômica europeia, que já se reflete na França, e pelas críticas de que não estaria sendo suficientemente “de esquerda”, como queriam os franceses. É a sina de todo governo de esquerda no mundo. As manifestações do ultraconservadorismo, todavia, ajudam a lembrar o eleitor de que lado Hollande está.
*
Li um excelente artigo ontem no blog do Castor Filho, com uma análise bastante acurada sobre a guerra civil na Síria. Segundo o autor, o governo está ganhando a batalha. Os rebeldes, apoiados pelas potências ocidentais, revelaram-se tão ou mais violentos e cruéis que o exército oficial, e, sobretudo, falta-lhes autenticidade política.
*
E já que estamos falando em Paris, falemos sobre um de seus mais assíduos frequentadores, o nosso governador Sérgio Cabral.
A especulação de que ele poderia vir a ser vice de Aécio Neves, conforme publicado hoje na coluna Painel, da Folha, é uma hipótese absurda.
Em primeiro lugar, Cabral está queimado. Se entrar de vice de Aécio, basta a oposição botar na TV as imagens dele usando aquele guardanapo na cabeça para detoná-lo de vez.
Em segundo lugar, Cabral ganhou popularidade associando-se à Lula e Dilma. Se passar para o outro lado, será visto como um traidor por seu próprio eleitorado.
Em terceiro lugar, a presidente Dilma, no momento, não precisa de Cabral. Ela se garante perfeitamente no Rio de Janeiro sem necessidade do palanque do governador.
*
A candidatura de Eduardo Campos está refluindo. Os governadores do seu próprio partido estão quase todos se alinhando em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. E agora o ministro da Integração Regional, Fernando Bezerra, um dos mais importantes quadros do PSB, também nega apoio à candidatura de Campos no ano que vem. De maneira geral, Campos tem apoio dos políticos que se beneficiariam de sua candidatura em eleições proporcionais: deputados estaduais e federais. Mas sofre restrições dos que enfrentarão eleições majoritárias, como governadores. Prefeitos que se elegeram com apoio do PT, e que até hoje precisam dele para governar, também estão apreensivos com a ruptura entre as duas legendas.